Simplicidade

A mulher não parava de falar um minuto, vivia reclamando daquela parte do quintal que ainda não tinha sido cimentado. A mulher tinha mania de limpeza, por isso aquela parte do quintal incomodava tanto a mulher.

Já o homem gostava daquele pedacinho de chão, fazia lembrar da sua infância. Gostava de ver os biquinhos pousarem no mato que ali crescia, se formava pela manhã uma nuvem desses pássaros, se alimentando das sementinhas que ali cresciam. O homem já aposentado se divertia com aquilo, enquanto trabalhava em sua garagem, ficava a admirar o balé das borboletinhas amarelas sobre a vegetação.

Mas de tanto a mulher perturbar o juízo, o homem se deu por vencido. Contratou um pedreiro, que limpou e concretou aquele espaço. Pronto, agora sim estava tudo bem. A mulher acordava cedo para lavar o quintal, assobiava feliz, agora poderia receber as visitas. Já o pobre homem não compartilhava dessa felicidade, desde que o quintal foi concretado, ele vivia angustiado pelos cantos. Acordava cedo com a esperança de ver os biquinhos no quintal, mas os pássaros não vinha mais ali, ficava dentro da sua garagem já sem fazer nada, só olhando, mas não conseguia ver nem uma borboletinha. Até a mulher já estava preocupada com o homem. No jantar passou aquele sermão no marido, dizendo que o homem tinha que encontrar de novo a alegria de viver.

Certa madrugada, o descanso daquela vizinhança é interrompida por uma barulheira de coisas quebrando, o barulho é oco e contínuo, se propagando além daquele conjunto de casas. A mulher acordou com o barulho, ela apalpou a cama, mas o seu marido não estava ali. Levantou num pulo só, e correu em direção ao fundo do quintal, de onde vinha o barulho. Lá chegando encontrou o marido ajoelhado com uma marreta em punho, quebrando o cimentado, que havia sido feito dias atrás.

__ O que você está fazendo homem??? Perguntou a mulher com a mão na cabeça, num gesto de desespero.

E o homem agachado, responde com um sorriso sincero.

__ Encontrando de novo, alegria de viver.