O PSICÓLOGO

Todos os dias a mesma hora lá estava ele diante de uma garrafa de vinho no bar da esquina. 18 horas e 1 minuto... Nem mais... nem menos! O seu organismo funcionava como um relógio suíço.

O do costume! – Era assim que Pedro dirigia-se aos empregados do bar. Todos os dias.

Três litros e setenta e cinco centilitros era a sua conta diária... Nem mais... nem menos! Pedro não usava relógio nem nada que pudesse alertá-lo da aproximação da hora do costume. Porém, 18 horas e 1 minuto, lá estava ele na mesa da esquina, do bar da esquina. Todos os dias, para degustar três litros e setenta e cinco centilitros de vinho. Nem mais... nem menos!

Pedro vivia num quarto na esquina do quintal da velha Naterça. Sozinho. Há muito perdera a mulher e o filho num acidente de viação. Não se conformava. Sentia-se amputado! A mulher e o filho funcionavam como barómetros que regulavam todo pecurso da sua vida.

Agora como será? – Perguntava-se.

Desalinhado e barbudo, os seus 37 anos aparentavam muito mais. Tinha perdido o sentido da vida. Certo dia quando se dirigia ao conforto do seu quarto tropeçou numa enorme pedra. Ficou estatelado. Desmaiou... Despertou na cama d’hospital.

Abriu-se ao conforto dos médicos e enfermeiros. Desfolhou as páginas da sua vida. Médicos e enfermeiros foram perspicazes na leitura do diagnóstico. – Senhor Pedro, a situação não é tão alarmante!- Disseram. – Um psicólogo é a solução!

- Psicólogo?!- Assustou-se. - Mas, não estou louco!

Sempre teve a sensação de que psicólogo, era coisa de loucos. Resistiu... Cedeu. E às 18 horas e 1 minuto de uma quarta-feira teve o primeiro contacto com o psicólogo. As sessões prosseguiram. Todas as quarta-feiras. Às 18horas e 1 minuto. Animou-se. Regenerou-se. Recuperou a autoestima. Redescobriu o sentido da vida.

- O que um psicólogo faz!- Reflectiu.

Todos os dias, a partir das 18 horas e 1 minuto, passeava pelo bairro na companhia dos filhos Bruno e Soraia, frutos da nova relação com Marinela com quem casou numa bela quarta-feira de verão. Às 18 horas e 1 minuto. Como de costume, o seu organismo continuou a funcionar como um relógio suíço. Sentia-se reconfortado com a vida e com os sumos naturais que a sua amada Marinela fazia questão de preparar. Todos os dias. Às 18 horas e 1 minuto. Nem mais... nem menos!

António MBridge
Enviado por António MBridge em 18/08/2017
Código do texto: T6087659
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