Forma em som

Para Maurício (Sheldon), que me inspirou com sua música.

Forma em Som

Enquanto o som fluísse, o vento continuaria. Enquanto houvesse o vento, as árvores continuariam a balançar. Cada vez que o som atravessava-me, um dedo frio percorria minha coluna. Ele seguia o caminho de cada nervo, atravessando todo o meu corpo.

A dança alucinada das árvores assustava-me. Ora para os lados, ora para frente e para trás. Não seguiam os padrões do vento, e sim os do som. Este, cada vez mais próximo, cada vez mais próximo, cada vez mais forte, cada vez mais forte, cada vez mais o som invadia meus tímpanos, socando cada um dos meus nervos.

O som, então, invadia meu cérebro e levava seu desespero por todo o meu ser. Meus pelos eriçavam-se e minhas mãos tremiam. Minhas pernas queriam sair correndo, mas eu continuava imóvel. A coluna, mestra de toda a sustentação amolecia, e eu caí no chão.

Ali percebera o quanto o chão estava úmido: havia grama e orvalho; e uma neblina cobria a clareira em que eu estava. Em pouco tempo, minha pele pode sentir seu beijo frio e úmido. Então o som voltou. Não cheguei a perceber quando ele havia parado. Mas ele veio com todas as forças, com todos os tons, em todos os tempos, de todas as direções... veio o suave som. Era alucinógeno, espectral, colorido, enchia-me, saturava-me, transformava-me.

O som chegou até mim. Eu o vi! Tomou-me, e levou-me para um espaço... uma dimensão nunca antes visitada, abordada, estudada. Deixou-me lá. Era um mundo vazio. Cheio de nada.

Levantei-me. Não havia chão, mas eu andei. A cada passo, tufos de vida surgiam. Grama, flores, insetos. Abelhas, borboletas, libélulas, joaninhas, formigas, besouros, lagartas, lagartixas, flores, rosas, violetas, bromélias. Vida.

Em pouco tempo, um espaço relativamente grande estava preenchido. Havia um ruído de água. Segui-o. Cheguei a um lugar vazio. Ali havia apenas o ruído de uma grande quantidade de água correndo. Encostei no som. Ele tomou forma e se fez água corrente. Jorrante. Molhou-me, encharcou-me, invadiu-me. Começou a fazer parte de mim. A água fluiu pelo espaço a sua maneira, carregando com ela vida, som e movimento.

E ali era confortável para mim. E ali eu fiquei.

Bekah
Enviado por Bekah em 12/03/2014
Reeditado em 02/07/2016
Código do texto: T4726202
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