Perto de Júpiter

Mais uma noite, como todas, de congelar. Eu estava sentado na enorme rocha branca que fica exatamente na entrada de nossa moradia, a observar os bilhões de estrelas que iluminam a região leste do nosso céu agora escuro e mais uma vez me pego a imaginar o que nos esperaria do outro lado daquele aparente vazio cercado pela negra noite. Desde bem novinho eu ouvia histórias de que visitantes de outros planetas haviam descido em nosso planeta e que até mesmo tinha abduzidos alguns dos nossos, porém os mais estudiosos nunca conseguiram provar nada disso. Crenças mais antigas dizem que nossa civilização foi construída a partir de criaturas de outros mundos que há muito tempo desceram aqui e espalharam seus conhecimentos pelos nossos oceanos, esta, entre todas essas teorias, é óbvio, a menos aceita e devo concordar que é meio absurda mesmo. Onde estariam estas criaturas agora? Será que se arrependeram tanto de nos terem ajudado, se decepcionando com o caminho que nadamos que nos abandonaram para morrer na gélida ignorância?

Meus parentes falam que é bobagem acreditar em Extra-Europanos, pois nosso gigante vizinho, do qual somos satélite, é um poço violento de inquietudes e tempestades selvagens seculares, uma prova de que o universo além do Europa é muito mais hostil. Adoro quando fica escuro deste lado, só assim posso observar com mais clareza os esplendores brilhantes do céu e a quantidade infinita de estrelas me faz acreditar que alguém do outro lado da galáxia está a olhar para o céu, e como eu, espera ansiosamente pelo dia em que terá uma resposta convincente sobre quem somos, de onde viemos e porque estamos aqui. Fico imaginando dias e noites como seriam estes nossos “vizinhos”. Viveriam na água como nós? Suportariam o frio que é o nosso pequeno mundo aquático que se esconde sob todo esse gelo? Seriam pacíficos? Estariam também a nossa procura ou já sabem de nossa existência e estão a nos observar silenciosamente de longe?

Tanto questionamento acerca dos mistérios intergalácticos silenciados pela gigantesca e cruel distancia, fazem minha cabeça começar a brilhar e a luz verde acaba chamando atenção de meu pai mais uma vez, ele me evoca para dentro, manda eu parar de forçar tanto minha jovem mente enquanto imagino apenas bobagens, então, mais uma vez, sacudo as barbatanas e mergulho com ele para casa, vou hibernar e sonhar com o dia em que descobriremos que a vida vai além do nosso pequeno Europa.