Bilhete para Marte - Parte I

Fernando olhava pela janela do quarto e suspirava repetidas vezes. A grande torre de metal acoplada ao foguete-home ressonava na noite americana. As luzes vermelhas alternavam com as brancas, a missão aguardava o derradeiro momento. Uma leve batida na porta seguida de um pedido para entrar fez com que Fernando voltasse atenção àquela direção.

- Sim! Pode entrar...

O homem de meia idade com vestimenta típica da empresa espacial adentrou o quarto iluminado apenas pela luz artificial que vinha da janela.

- É amanhã! Como se sente? – Puxou uma cadeira que estava mais afastada e se sentou ao lado do amigo brasileiro.

- Sim! Amanhã... Bem... Vai ser uma aventura e tanto. Afinal, não é todo o dia que temos a oportunidade de ir a Marte sem o bilhete de volta. – Sorriu de modo sincero para Frank.

- Escute, Fernando... Essa oportunidade é única. Sabemos que será um sacrifício, mas a humanidade agradecerá a todos dessa missão por isso. Inclusive a você! – O cientista chefe deu leves tapas no ombro do homem.

- Eu não ligo para agradecimentos! Apenas quero voltar para casa. Creio que a luz de Marte não é a mesma que ilumina as confusas cabeças terráqueas. – Levantou-se com passos despretensiosos em direção à luz artificial e pôs a encarar novamente sua nova casa pelos 350 dias que se seguirão.

- Como queira pensar, Fernando... Eu também acho que há muitas pessoas que não pertencem a essa Terra corrompida. Vou te deixar com seus pensamentos. Precisa descansar. Até amanhã, herói. – Colocou novamente a cadeira no mesmo lugar fechando a porta e minando a luz que vinha do corredor na sua fracassada tentativa de evidenciar o quarto.

- Não sou herói... Os humanos nunca admitiriam um herói que não nasceu nesse solo. – Cerrou os olhos e apertou as mãos contra o parapeito.

Adeus, Terra

O sol castigava a todos naquele dia de comemoração. Emissoras de Tv´s de todos os cantos do globo apontavam suas câmeras para o palanque montado próximo à base de lançamento na tentativa de captar as melhores imagens dos heróis que dariam suas vidas para o progresso da humanidade. Os volumes das vozes ficaram mais fortes, e um silvo de alegria tomou conta do grande número de pessoas que cercavam aquele local. Vários cartazes com frases de incentivos eram visíveis, outros poucos condenavam por tentarem sair do domínio de Deus.

Frank tomou à dianteira e teve o papel de apresentar para toda Terra quem eram os homens e mulheres que ousaram escrever seus nomes nas páginas dos livros.

- Aqui estão quatro homens e duas mulheres que representarão toda Terra no avanço incansável dos humanos no tempo espaço. Apresento os oficiais Vincent Luc, Jones Abram, Saitou Kanishi e Fernando Santos.

Flashes e palmas vinham de todos os lados à medida que os homens perfilavam lado a lado com seus capacetes abaixo dos braços.

- E nossas heroínas, Tundra Vienesky e Samira Halabi. - O mesmo caminho faziam as mulheres em seus trajes. Frank ajeitou os óculos observando-os perfilados ao seu lado direito. Olhou para o microfone e rapidamente enxugou a molhada testa.

- Daqui menos de uma hora eles embarcarão para escrever seus nomes no domínio do espaço. A humanidade se afastará do berço desde que conquistou a lua em 1969. A ânsia pelo progresso fez com que construíssemos instrumentos para quebrar essa barreira... feito alcançado com a Voyager no ano de 2014; ultrapassamos os confins do Sistema Solar. Agora – Fez uma pequena pausa e colocou mais entonação na voz – Iremos atrás do nosso antigo sonho... conquistar Marte! – Mais flashes eram disparados sobre todos que estavam no palanque.

- Não acredito que isso os façam felizes... Eu não estou feliz, afinal nunca pertenci a esse mundo mesmo. – Balbuciou baixinho o oficial Fernando.

- Pedimos a todos os jornalistas e curiosos que sigam orientação dos nossos seguranças e deixem esse local. Logo mais veremos o foguete decolar. – Solicitou Frank sorrindo e acenando para todos.

Fernando olhou por cima dos braços de Frank que tamborilavam no ar. A fumaça branca que saia dos motores anunciava que clímax da festa se aproximava. Cerrou os olhos e apertou as mãos contra o capacete, o mesmo gesto feito na noite anterior.

Fim da primeira parte

Chronus
Enviado por Chronus em 02/08/2014
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