Planet_of_the_Dead.jpgen.wikipedia.org


Um planeta como nenhum outro


Olof nunca tinha aceitado bem a ideia de fazer uma parada no planeta Jordish na sua jornada para Endel. Afinal era uma viagem interplanetária de 27 anos e o grande objetivo era Endel. Por que fazer esse “stop” insensato, com um objetivo não claramente definido? Um incidente que tinha ocorrido com uma das naves da Confederação das Américas há 187 anos atrás, nunca teve uma explicação razoável. Ainda assim ou talvez por isso mesmo, o Conselho aprovou, por unanimidade, a inclusão de Jordish na missão. Aparentemente, o computador mestre da missão, o MCSME2519, também conhecido como Vedalt, concordava com eles. De qualquer forma, não importava a opinião de Olof. O que tinha de ser feito, iria ser feito.
Logo na terceira órbita ao redor de Jordish, a tripulação conseguiu detectar a enorme e  famosa nave estelar Ultracosmos, a primeira a atingir velocidade próxima a da luz, e que havia ficado retida em Jordish. As circunstâncias tinham sido bastante estranhas. Ninguém jamais entendeu como uma nave, equipada com a mais alta tecnologia, tinha ficado silenciosa de repente, e completamente sem ação. Tecnicamente, era impossível de se entender.
Vedalt - o espetacular computador da nave – estava usando toda sua capacidade para “escanear” o planeta. Agora já era possível, visualmente, se detectar com nitidez a grande planície onde estava “estacionada” a imponente Ultracosmos. Podia se notar uma longa linha no chão que ia dela até uma cadeia de pequenas montanhas, situada a cerca de cinco quilômetros dali. Era uma trilha que mal se notava, provavelmente por causa de poeira acumulada durante décadas. Seu rastro ou alguma outra coisa? A nave de Olof, a Lightstream, já estava se aproximando. Depois de algumas horas estava estacionada a cerca de um quilômetro de sua “colega”. A equipe que devia fazer a inspeção da nave, colocou seus trajes especiais, uma vez que a atmosfera de Jordish era tênue, além de conter gases prejudiciais ao ser humano. Com um veículo especial dirigiram-se até a enorme nave. Ela tinha mais de duzentos metros de altura. Havia várias entradas, todas destruídas. Foi fácil entrar por uma delas. Saíram do veículo e começaram a inspeção. Não demorou muito para perceberem  que estava ali uma simples carcaça. A nave havia sido depredada. Todos os equipamentos haviam sido retirados. O que imediatamente deixou todos supresos, foi que tudo havia sido removido com cuidado, com precisão, com detalhe cirúrgico. Os danos estruturais eram mínimos, mas não havia uma só peça que houvesse restado. Obviamente seres inteligentes haviam estado ali. Como, se o planeta era inabitado? Era o que incomodava, no momento, Olof e certamente o resto todo da tripulação. Ficou claro que era inútil terminar a varredura. Olof ordenou, então, que Vedalt esquadrinhasse completamente a enorme estrutura da Ultracosmos para verificar se algum detalhe havia escapado da inspeção de sua equipe. O resultado era o que todos esperavam. Nada. Seth, um outro auxiliar de Olof,  ponderou que alguma nave, não pertencente à Terra, deveria ter passado lá e “confiscado” todas as peças, na esperança de encontrar alguma tecnologia não dominada por eles. Argus, que vinha logo após Orlof na escala de comando, achava isso pouco provável, uma vez a Terra teria notado em suas patrulhas interplanetárias qualquer tipo de objeto capaz de tal tipo de navegação. Seria muito difícil se chegar a uma conclusão. A inteligência artificial da nave, Vedalt, disse que não havia dados suficientes para dar uma opinião, pelo menos por enquanto.
Não havia muito o que fazer. Olof deu ordens a Vedalt para que inciasse o processo de retomar a grande empreitada para Endel. O computador disse que ainda estava colhendo dados de Jordish e que partiria em 7 horas e trinta minutos.
No horário marcado, Vedalt acionou a nave que, antes de partir, fez mais cinco órbitas ao redor de Jordish. Questionado por Olof, Vedalt respondeu que precisava escanear o resto do planeta. Olof pensou consigo mesmo que aquilo seria uma inutilidade, mas não falou nada. Há muito tempo, Olof tinha desistido de discutir com máquinas de inteligência artificial. Quando terminou a coleta de dados, Vedalt sugeriu que, para o bem da Ciência, valeria ficar ali mais uns dias para obter melhores resultados, uma vez que os dados iniciais apontavam para algo estranho. Olof, desta vez, usou de sua autoridade e ordenou imediata partida.
Lightstream já tinha alcançado sua velocidade ideal quando Vedalt advertiu Olof que tinha acabado de analisar todos os dados de Jordish e que queria fazer uma apresentação. Novamente, Olof questionou interiormente por que perder tanto tempo com um planeta vazio e uma nave sucateada, mas novamente manteve seus pensamentos para si mesmo. Como tinha de mostrar gráficos e mapas, Vedalt chamou todos para uma espécie de “anfiteatro eletrônico” que não era muito distante da sala central de comando.
Após dez minutos de “conferência”, estavam todos de queixos caídos. As revelações de Vedalt  eram absolutamente inacreditáveis e assombrosas. Jordish continha vida inteligente e não eram seres invisíveis, não. Eram menores que os seres humanos, embora bem parecidos, e tinham um segundo par de braços. As quatro mãos tinham seis dedos cada, sendo que dois deles em cada uma, funcionavam como polegares. Eles viviam no subsolo. Cavernas enormes, em incrível quantidade, de até  cinco quilômetros de altura e centenas de quilômetros de extensão, eram seu habitat.  Muitas cavernas continham água e havia canais de interligação. Eram cerca de novecentos milhões de habitantes. A estrutura de transporte e habitação sugeria uma alta taxa de civilização e inteligência, equivalente a pelo menos a que a Terra tinha por volta do ano 2200 DC. Havia vários tipos de animais, a maioria parecida com répteis, embora houvesse outros tipos também. Havia uma espécie de luz natural dentro das cavernas, algo que Vedalt não tinha dados suficientes para explicar. Vedalt tinha também notado cerca de 4767 “saídas” para a superfície, todas inteligentemente “disfarçadas”. Eles também teriam de usar máscaras para vir para a superfície. Lá embaixo, tinham uma espécie de mistura de oxigênio com alguns gases que lhes eram essenciais para seu tipo de vida. Havia captado também mensagens inteligentes entre eles através de uma sofisticada rede de comunicações. Toda essa torrente de informações captada por Vedalt só foi possível devido à própria tecnologia do planeta. O potente computador da Lightstream tinha lido dos próprios “arquivos” daquele estranho “povo das carvernas”.
A grande surpresa, Vedalt deixara para o final. Lightstream e sua tripulação quase haviam sido capturadas enquanto estavam “estacionadas” naquela espécie de deserto. Eles tinham equipamentos capazes de “congelar” todo o sistema de propulsão das naves terrestres. Foi o que fizeram com a Ultracosmos. Foram eles também que “canibalizaram” a nave, no intuito de conseguir mais tecnologia. Dessa vez, porém, queriam pegar uma nave intacta - a Lightstream - para descobrir coisas que não tinham descoberto antes. Iam utilizar o elemento surpresa, enquanto parte da tripulação da Lightstream estava fazendo a inspeção. Não esperavam que Olof fosse  encurtar o tempo de visita e passar a tarefa de escanear para Vedalt. Eles precisavam de mais tempo para efetuar o “assalto”.
Esses computadores quânticos eram programados para terem reações e atitudes humanas, para facilitar a interação com a tripulação. E foi por isso que Vedalt fez um comentário do qual Olof definitivamente não gostou. Disse em tom de brincadeira “que, por ironia, a falta de curiosidade científica de Olof, desta vez, foi a salvação da “Missão Endel”,  e que, às vezes, “a preguiça também é compensada”. Olof não gostou, mas também não respondeu. Seria dar muita importância para Vedalt.
Por dentro, Olof deu um suspiro de alívio, e comentou, rindo com alguns da tripulação, que aquilo não tinha sido sorte. Era intuição. Ele sempre tivera esse dom. Falava isso de um jeito que não se podia dizer se era brincadeira ou se era o que realmente pensava.
Seth, por sua vez, comentou que o homem também tinha começado nas cavernas, embora tivesse conseguido sair. Seria irônico, milhões de anos depois, ser capturado por “seres” que moravam em cavernas, como seus antepassados.

A essa altura estavam todos aliviados e em seus postos. Indiferente a pequenas vaidades e ironias, a Lightstream, imponente e formosa, deixava um imenso rastro de luz no infinito do Cosmos com destino a Endel .

 
<><><><><><><><><><><><><> 
 
 
 
 
%C3%80+procura+de+Lucas.png
 
 
 
 
 
 
 
Para comprar no Brasil 
( impresso e e book):
 
 
À procura de Lucas  (Flávio Cruz)
----------------------------------------------
 
 
Para comprar nos EUA:
 
 
 
<><><><><><><><><><><><><> 
Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 11/08/2014
Código do texto: T4918039
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.