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Juntando as peças do quebra-cabeças
 
Enquanto conversava com Mariah, Laurentz podia ver Netuno pela grande “janela” do lado direito da nave. Naquela distância, o planeta parecia ter o mesmo tamanho que o sol teria quando visto da Terra. “Ondling” era mais uma estação experimental do que uma espaçonave. Tinha quatro enormes “canhões” que, no momento e local certos do espaço, iriam “atirar” em quatro diferentes pontos de Marte e da Lua. Era uma espécie de “colisor de hadrons” do futuro. Depois que, acidentalmente, foi detectada a partícula Z14, a Física Quântica, ao invés de ver suas questões solucionadas ou respondidas, colocou-se diante de inúmeras e infindáveis perguntas. Ao contrário das outras partículas, a Z14 dependia da distância, ao invés da velocidade da colisão, para se manifestar. Esta era basicamente a missão da “Ondling”: causar a aparição da partícula Z14. Mas desta vez não seria por acaso, seria através de experimento controlado.
Laurentz havia expressado a Mariah suas preocupações por fazer parte de um time que estava lidando com fenômenos tão únicos e desconhecidos. Tinham acabado de conversar e Laurentz começava a se levantar para se recolher em sua “cápsula” e dormir. Antes de sair, Mariah deu um sorriso e falou para Laurentz:
-Não se preocupe, Laurentz.  Nós, cientistas, estamos sempre do lado da lógica e ela nunca falha!
Laurentz respondeu com uma frase que, ao mesmo tempo, levava carinho e ironia:
-Que lógica, Mariah?
Virou-se e partiu. Mariah também preparou-se para sair. Pensou em ir até a sala de comando para falar um “boa noite” para Marco e Ingberg, que tinham assumido  o turno, mas depois desistiu e só fez um aceno pelo intercomunicador. Os outros três membros da tripulação já dormiam em suas cápsulas há pelo menos três horas.
Após um bom tempo de sono, Laurentz teve a sensação de que sua cápsula estava sendo aberta. Antes tinha sonhado que a nave toda estava tremendo e que Mariah estava gritando a seu lado que ele “tinha razão sobre a lógica” e daí ele repetia em pânico: “que lógica?”. Não tinha sido propriamente um pesadelo, mas certamente não tinha sido agradável também. A cápsula aberta, entretanto, definitivamente não era sonho. Nem o zumbido infernal que estava ouvindo. A tradicional luz branca que se acendia quando a cobertura feita de acrílico especial se abria, não aconteceu. No lugar, minúsculos pontos de luz azul clara. Foi aí que Laurentz percebeu que não podia se mexer e que nem sequer podia fechar seus olhos. O zumbido foi diminuindo aos poucos e igualmente a luz azul foi ficando mais clara. Um rosto, então, apareceu à sua frente. E depois mais dois, logo atrás. Obviamente estavam examinando seu corpo. Tentou falar algo, perguntar o que estava acontecendo. A voz, porém, não saía. Estava completamente paralisado, embora ouvisse e visse tudo. A face que estava vendo, embora fosse humana, parecia estranha e certamente não era ninguém da tripulação. A bizarra figura estava usando uma espécie de monóculo no olho direito. Numa das mãos tinha uma espécie de caneta laser que ele apontava aqui e ali, em seu rosto e em seu peito. Seus lábios eram estranhamente finos e sua cabeça, totalmente calva, tinha três ou quatro veias que se destacavam. O  quer que seja que aquela pessoa estava fazendo não doía ou causava desconforto. Parecia um “exame  médico”, daqueles que se faziam antigamente.  De repente, o rosto se afastou e igualmente as outras duas cabeças. As luzes foram diminuindo até que se apagaram totalmente. Laurentz pode ouvir então, o suave som da cápsula se fechando. Veio um torpor  enorme e ele dormiu.
Quando acordou, Laurentz sabia que muito tempo havia se passado. Percebeu imediatamente que não estava mais paralisado e também que sua cápsula estava se abrindo, consequência do sutil movimento que fizera. Levantou-se muito devagar, enquanto se recuperava do longo sono. Demorou um pouco para perceber que estava em um lugar muito diferente. As minúsculas luzes azuis que vira antes, estavam novamente lá no teto. Foram ficando mais claras, conforme ele saiu andando, após deixar a cápsula. Apesar do absurdo do que estava vendo, logo Laurentz percebeu o que estava acontecendo.  Ele estava em outra nave. Havia uma mesa central, que parecia “pairar” no ambiente, e que tinha alguns controles. Assim que ele se aproximou dela, surgiu uma tela transparente. Lá estavam caracteres que obviamente não pertenciam a nenhuma língua da Terra e certamente não eram símbolos matemáticos. Em alguns pontos da imagem projetada, símbolos “corriam” a uma velocidade vertiginosa.
Contra toda razão, contra toda a lógica, Laurentz agora tinha certeza de que estava em uma nave alienígena. Lembrou-se de seus colegas de tripulação. O ambiente não era grande e não demorou para checar tudo e concluir que estava sozinho. Sentiu falta de Mariah e, apesar do inusitado da situação, lembrou-se do comentário irônico sobre “lógica” que fizera  na última vez que a tinha visto. Laurentz era treinado para não entrar em pânico e estava pensando que certamente aquela era uma boa ocasião para colocar em prática suas habilidades. No meio desses pensamentos, percebeu que uma nova luz adentrava o  ambiente. Virou-se e viu que uma espécie de porta deslizante tinha acabado de se abrir. Como já havia desconfiado, ele não estava no espaço. Ao contrário, estava estacionado. Saiu e percebeu que era o final da tarde. Uma paisagem árida, com poucos arbustos e rochas, cá e acolá, se estendia a sua frente. Começou a andar e notou, pelo ar que respirava, que estava na Terra. Olhou para trás e admirou-se pelo inusitado formato da espaçonave em que estivera. Novamente se lembrou de Mariah. Se ela estivesse ali, ele poderia falar, de peito estufado, que não existia lógica. E o que chamamos de lógica é apenas uma explicação para o que estamos vendo. É uma tentativa de dar sentido para a realidade que estamos vivendo. Mudou a realidade, mudou a lógica.
Laurentz não tinha a menor noção de quanto tinha andado ou de onde estava. O céu que olhava certamente era do Hemisfério Norte e provavelmente era verão pelo calor que sentia. Estava muito cansado. Sentou-se, apoiando suas costas em uma pequena rocha, e dormiu.
Quando acordou novamente, viu luzes brancas no teto e percebeu que estava deitado. Encheu-se de esperança. Talvez estivesse de volta na “Ondling” e tudo tivesse sido um delírio, um pesadelo. Suas esperanças foram desfeitas muito rapidamente. Várias pessoas estavam a sua volta, vestidas com uniformes brancos olhando para ele e conversando entre si. Pelo que conhecia de história, aquilo era um hospital antigo. Uma das pessoas, que parecia ser a encarregada, fez algumas perguntas. Não era nenhuma das cinco línguas que ele conhecia, mas certamente era uma língua terrestre.
Fizeram-no levantar e o colocaram numa espécie de cadeiras com rodas que ele imediatamente identificou como um objeto antigo. Instalaram-no em um quarto com banheiro e alguns móveis. Todos antiquados, mas que ele não  desconhecia totalmente. O banheiro era muito esquisito também, embora fosse óbvia a maneira como ele devesse ser utilizado.
No dia seguinte, colocaram-no em um  carro muito antigo, como os que vira uma vez num museu de Paris. Ao olhar pela janela, teve certeza de que era uma paisagem urbana de algum século anterior. Chegou a pensar que fosse um lugar preservado pelos “povos liberados” conforme eles se autodenominavam e que viviam fora dos limites da civilização. Algum lugar secreto, em algum ponto remoto da Terra. Mas, novamente, isso não tinha lógica, todo mundo tinha acesso eletrônico a qualquer metro quadrado do planeta  o tempo todo. Como iriam “esconder” um lugar daqueles? Pararam e entraram em uma pequena construção, de dois andares. Na parte de baixo, acomodaram-no em uma sala que parecia ser para reuniões. À frente da cadeira onde estava, havia outras três, certamente destinadas a seus interlocutores. Esses não demoraram a chegar. Um deles estava com roupas antigas, certamente civis. Os outros dois também tinham roupas antigas, porém militares. Sentaram-se e começaram a falar, desta vez em inglês. Certamente um inglês bastante diferente, um modo de falar antigo. Estava confuso com tudo aquilo. Tentava colocar as coisas em perspectiva, ou pelo menos dentro de uma “lógica plausível”, quando o homem em roupas civis tirou o chapéu. Levou um susto. Ele já havia notado algo familiar no fulano, mas agora estava óbvio. Ele era o indivíduo “quase humano” que o havia examinado anteriormente na nave. Podia ver claramente as veias saltadas em sua cabeça calva e seus lábios extraordinariamente finos.
Perguntaram seu nome, o que fazia, etc. Perguntaram como tinha chegado ali, o que estava fazendo. Riram muito quando falou que era tripulante de uma nave e que quando tudo começou a dar errado, estava passando por Netuno. Riram muito mais ainda, quando falou a data em que a “Ondling” saiu da Terra: 12 de janeiro de 2379.
O homem da esquerda, perguntou então, com muita ironia, se ele sabia qual era a data atual. Laurentz disse que pelo tempo de viagem de sua nave , deveria ser por volta de 2385.
O homem de lábios finos, depois de alguns segundos, ficou sério e falou em seu inglês antigo:
-Para você se orientar melhor, hoje é 7 de junho de 2014.  Por falar nisso, como você está agindo como um louco, nós vamos deixar você num hospício, por enquanto. Se você um dia se lembrar das coisas ou começar a ficar “curado” e resolver falar a verdade, voltamos a conversar. Laurentz, quase desesperado, perguntou:
-Você pode me dizer, pelo menos, onde estou?
O estranho homem das veias saltadas, deu uma gargalhada, cutucou o outro com o cotovelo e falou em tom zombeteiro, imitando o sotaque de Laurentz:
-Você pousou em Netuno. Então, aqui é Netuno. Você não consegue ver?
E os três deram mais uma grande gargalhada. Laurentz foi levado para o local que eles chamavam de “hospício”. O lugar não era tão mau assim. Uma comida diferente e pessoas mais diferentes ainda. Laurentz sabia que não estava louco, sabia que algum dia iria achar a lógica em tudo aquilo. Sempre existe lógica no final. O que lhe faltavam eram as peças do quebra-cabeças.
 
Seria difícil para Laurentz juntar as peças, principalmente porque ele estava recluso. Ele, porém, continuava tentando. Estava, pelo menos, juntando as peças que tinha, e que não eram muitas...

 
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 08/09/2014
Reeditado em 08/09/2014
Código do texto: T4954037
Classificação de conteúdo: seguro
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