COMO É O BRASIL EM UM UNIVERSO PARALELO (Pt. I)

Os cientistas descobriram que este universo onde vivemos é repleto de universos paralelos. Através de um chamado buraco de minhoca é possível atravessar de um universo para o outro. Para explicar a interpenetração desses universos, eles fundaram o que chamaram de Teoria das Cordas. É só relembrar o tempo em que se pulava corda para entender o que eles querem dizer: Duas pessoas seguravam uma corda de marinheiro uma em cada ponta e a faziam girar elevando-a, formando, com isso, uma abóbada repleta de estágios, sendo que em um deles se dava o pulo daquele que estivesse dentro da brincadeira envolto pela abóbada para pular a corda. Cada momento que é possível se ver a corda até que ela complete o giro equivale a um universo. Pode se comparar também com uma vara de marmelo tremendo. Conforme eles, os acontecimentos dentro de cada universo são equivalentes, de modo a poder serem inversos ou complementares ao que estamos.

O professor Pascoal estava em casa a refletir sobre a Teoria das Cordas quando percebera pela janela de seu escritório um clarão em forma de vórtex no céu. Imediatamente após o clarão uma espaçonave se materializou. Fez uma evolução pelo ar e pousou em seu quintal.

Era uma pequena capsula. Bem do tamanho daquelas cabinas de telefone antigas, que se via nos filmes hollywoodianos. E a experiência não parou por aí, o viajante, um ser meio rato e meio humanoide, saiu de dentro dela e fora ao seu encontro. A essa altura o professor estava do lado de fora da casa a segurar uma lanterna. Apontava para o alienígena como a guiar os passos dele. O ser, surpreendentemente, não precisou de nenhum tipo de adaptação para usar o nosso mundo. Respirava normalmente, não dava saltos gigantescos por causa da diferença gravitacional. Era como se um dia ele já tivesse sido morador do subúrbio universal chamado Terra.

Já apresentados, na sala do homem e a beber, pasmem, café, Coalpas, o estranho, relatava para o terráqueo a razão do seu paradeiro transcendental.

– Venho de um país chamado Silbra, que fica no hemisfério norte do planeta Rater. Em meu mundo há um establishment global e uma elite que o controla. Essa elite explora, no mundo todo, os cidadãos que estão fora dela. Os fazem de trabalhadores e de consumidores para que os privilegiados contemplem vida farta e segura com o capital que arrecadam com o consumo e com a servidão a que se submetem, a fim de saciar o vício de consumo a que foram impregnados, os que compõem a classe colonizada.

Porém – continuou ele –, faço parte de uma sociedade secreta que pretende desestabilizar o estabelecimento, tomar o poder e fazer reforma social no planeta. Queremos para o nosso mundo justiça. Igualdade entre os povos, fraternidade e liberdade. E por isso sou fugitivo. Com a ajuda da mídia, os governos imperialistas caçam os militantes das organizações de esquerda, como a que integro, os arrumam crimes para serem enquadrados e sentenciados à prisão e os tiram de combate.

As democracias que existem por lá são todas de fachada e são eles que as controlam para o benefício do próprio grupo. Os únicos instrumentos que eles têm contra eles, que são brechas que eles mesmos possibilitaram quando desenharam aquela democracia, são a Constituição Confederal e o que seria por aqui o Estatuto dos Direitos Humanos. Neles há leis que reservam o direito de protestar, de levantar questionamentos e de organizar-se em grupos de reação às propostas que não estiverem de acordo aqueles que assim o desejar.

Minha classe possui muito conhecimento. Mantemos oculto do resto do sistema o conhecimento que temos. E desenvolvemos o aparato que me trouxe até aqui para que possamos fazer viagens interdimensionais. Estou dentro de uma experiência, que se for bem-sucedida propiciará, com a minha volta, a vida de todos os que são injustiçados por lá. No caso, só nós do Silbra. Os socialistas de outras nações irão fazer o mesmo em outros universos paralelos ao nosso.

O professor, é claro, ficou perplexo. Afinal, o forasteiro interdimensional escolhera um péssimo país para sediar seus correligionários. Aliás, como o professor Pascoal é sabido, não existe um país na Terra que ele pudesse buscar refúgio e que fosse compatível com as necessidades ideológicas que os fugitivos de Silbra precisavam para deixar seu mundo. A luta pelas bandas de cá seria a mesma. E o alienígena ainda teria problemas com a aparência que eles têm: meio rato e meio homem. Pode ser que a questão da discriminação pela aparência ou pela cor seja bem mais grave aqui na Terra. Ficaria ainda mais fácil para a mídia lhes plantarem motivos para que eles fossem deportados com foco nesse assunto.

Pensando nisso, o professor quis saber de Coalpas como foi o crime que engenharam para que ele tivesse que viver na clandestinidade, já que só como oponente de propostas do governo global em seu mundo não haveria motivos para uma perseguição.

Acompanhe a parte II.