AMOR NO INFINITO

Num dia, como outro qualquer, você apareceu. Naquele momento, ainda não sabia o que ia acontecer, o que nos esperava. Mas você foi tão marcante que virou uma paixão, nascendo uma vontade incontrolável de poder conhecê-lo melhor, mais profundamente. Você parecia nem ligar, continuando sua vida sem nem mesmo desconfiar como já era olhado, desejado, amado. Parecia que eu tinha nascido para você.

Começaram os sonhos, os planos, as estratégias de uma comunicação mais profunda. Você ainda nem ligava para a minha existência, mas eu já imaginava tudo e sonhava...

O desejo só aumentava, quase enlouquecia ao pensar em encontrá-lo, em poder tocar em você, acariciar, sentir sua pele, sua superfície.

Muitos anos se passaram e eu não conseguia chegar ao seu encontro. Parecia se distanciar, parecia não querer, mas o que fazer com aquela vontade? O que fazer com aquela ansiedade? Não, não podia desistir, precisava ao menos chegar perto, sentir, conhecer, ouvir, saber como era de verdade.

Certo dia vi que tudo seria possível. Minha excitação ia ao extremo, nem posso descrever. O dia havia chegado tudo conspirava a nosso favor. O momento certo, o local exato, e nós estaríamos juntos pela primeira vez. Fiquei com medo, claro, sem saber se você gostaria dessa proximidade ou não, mas precisava tentar. Contei para todo mundo o que iria acontecer, que eu iria ao seu encontro, todos torciam para que desse certo, afinal, já havia falado tanto sobre sua beleza, sobre seu mistério, que todos já faziam de tudo para que esse encontro acontecesse, e assim foi.

O vi de longe e fui me aproximando, com calma, coração disparado, trêmula, mas decidida. Não pensava em nada, não, eu nem pensava, parecia dirigida por uma força maior, talvez a força da paixão, da curiosidade, do desconhecido. Cheguei perto, mas tanto que podia senti-lo, você não reagiu. Como uma felina joguei-me sobre você, arranhei seu dorso, quis conhecer cada milímetro, acarinhei o quanto pude, busquei o quanto consegui, aproveitei ao máximo esse primeiro momento, sem saber o que ia realmente encontrar, não me importava, só queria você, nada era mais importante, nós e o Universo...

De repente, você que parecia tão arredio, começou a me surpreender. Foi se mostrando, se deixando tocar, se entregando e, num estranho prazer, ouvi um gemido. Desse gemido fez-se um canto. Quase morri de surpresa e contentamento, um canto rouco, profundo, algo que vinha de dentro de você, agora tão meu, éramos dois em um só, total loucura, o que parecia difícil, impossível, já tão real, tão mágico, muitos nem acreditam no que aconteceu, mas eu sim, porque senti toda a emoção.

Os dias vão passando e sei que mais vou descobrir sobre você, e se não acontecer nada de mais importante, valeram todos os anos de espera, todos os planos, toda ansiedade, em troca daquele canto que chegou a vibrar em mim. Nosso encontro foi ao infinito e nosso amor será lembrado para todo o sempre.

Fique com minha vida, querido 67P/Churyumov-Gerasimenko.

Da sempre sua, Sonda Rosetta.

Mariza Schröder
Enviado por Mariza Schröder em 15/11/2014
Reeditado em 16/11/2014
Código do texto: T5036592
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