ODISSEIA SEM CORES

Nos 3 bilhões de anos anteriores, o sol nos aqueceu e nos propiciou a vida na Terra. Esses anos passaram.

A temperatura do sol aumentou a ponto de evaporar os oceanos e torrar qualquer verdor. Antes do clímax devastador, a solução para a preservação apareceu na vizinhança: Marte tornou-se um planeta habitável. O gelo dos pólos derreteu criando grandes oceanos, a temperatura elevou-se e tornou-se estável. O banquete fora servido e era convidativo para quem passava fome.

Um pequeno problema domiciliar ainda deveria ser resolvido, o espaço. Quase 4 vezes maior, o cômodo deixado para trás já sofria com superlotação e falta de recursos. Como em qualquer mudança que se tenha um pouco de bom senso, os excessos foram cortados. Apenas um bilhão de humanos colonizariam a nova terra prometida que brotava leite e mel. Os mais significativos e melhores nomes de cada área relevante do conhecido foram selecionados, e alguns líderes políticos. E não houve preocupação em fazer uma Arca de Noé, dos poucos animais que ainda restavam nenhum prestava de alguma serventia, havia muito tempo que toda alimentação era sintética. De qualquer forma, a vida também começava a se desenvolver na futura casa, mesmo que de forma discreta.

O êxodo seria secreto, mas o plano logo foi descoberto. Uma guerra civil estourou mas não foi capaz de mudar o plano, mas que de consequência gerou o medo e a desconfiança de que os "deixados para trás" pudessem depois de sós, também viajar para Marte. A ultima nave então ficou encarregada de colocar uma bomba nuclear satélite na orbita da terra. Depois de uma distância segura tomada pelo ultimo dos novos marcianos e provavelmente um político, a bomba foi acionada e explodiu espalhando partículas radioativas na atmosfera da terra. Ali então só restou o desastre ambiental e vestígios do brilho humano.

A nova casa ainda precisava de ajustes e de adaptação dos moradores a nova rotina natural, que em geral, era turbulenta. Mas a chance de começar de novo era tão empolgante que pouco importava os problemas atuais, tudo podia ser deixado para depois, afinal agora eles tinham tempo, bilhões, sempre diziam. E alguns, ainda sentiam algo na alma, tristeza, quando olhavam para o céu e sabiam que não muito longe dali, a antiga casa tornara-se um deserto num silêncio sem cores e no fim.

J Q Moura
Enviado por J Q Moura em 24/11/2014
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