O Subsolo de Strium

Ele jantou com sua mãe, escovou os dentes e foi para o quarto, sua mãe sempre contara uma história antes de o por na cama, e naquela noite pela primeira vez, aquela história não fez Vinnie dormir, ele prestou bem a atenção , com os braços em volta dos joelhos, com a cortina que, vez ou outra cobria sua cabeça, com os ventos lá de fora, permaneceu atento a cada trecho daquela história, e que sua mãe contara com tanta verdade, que em sua mente aquilo fugia totalmente das fantasias, era uma história de guerra, com carros que levavam os soldados para o céu, e que um ditador tomado pelo poder, criara uma mulher e uma criança, dentro de um quarto pequeno, na cidade de Kassel Alemanha, e que nunca os deixava sair, e a criança apenas escutava atrás da porta , sua mãe conversando com o seu pai, que logo batia a porta da casa, saindo para um de seus discursos , a mãe sempre ficara olhando da janela, enquanto o filho saia do quarto e a abraçava, e sua mãe com uma linda voz de anjo, cantara tapando os ouvidos do filho. Vinnie finalmente adormece, sua mãe fecha as janelas e o cobre com duas mantas xadrez, em seguida abre a gaveta e pega um maço de cigarros e enche um copo com vodka. Sentada na sala, molhava um pano com água e passava nas queimaduras em suas pernas, e chorava baixinho, sem acordar Vinnie. Martha sempre se lembrava daquele dia, e ainda podia sentir as dores, suas pernas sendo queimadas com uma colher quente, e a imagem de Heinz, forçando suas pernas com violência, a obrigando a fazer sexo com ele, a fumaça do cachimbo e o barulho das metralhadoras , logo desaparecem e Martha não derruba mais uma lagrima, como se morrera naquele momento. Aqueles meses foram os piores da vida de Martha, todos os dias tinha de se deitar na cama para Heinz não mata-la com um martelo de aço, que ele tinha escondido pela casa, Quando Heinz não estava em casa, Martha sempre procurava aquele martelo, mas ela nunca encontrou, e certa noite quando procurava nas gavetas de Heinz, foi pega no ato, e teve o braço quebrado pelo martelo de aço, Heinz o fizera com extrema frieza, sua expressão facial era de, como se matara uma barata na parede, Martha gritava por socorro, mas não havia muitas casas por perto, e quem escutava , nunca se atrevia a ver o que era, pois já sabiam da reputação de Heinz. Martha engravidou com os frequentes abusos de Heinz, e deu a luz a Vinnie quando corria por socorro, era dia de discurso de Heinz , e em todas as ruas dava para ouvir , nos rádios que ficavam perto das janelas abertas, uma senhora a ajudou no parto,e a levou pra casa com o bebê, lá permaneceram por algumas horas, Martha estava com muita febre , e o seu bebê havia nascido sem uma das mãos, a senhora ajudou a limpa-lo, e dizia:

- Grande e forte, como Vinnie meu neto, lindo e saudável.

Martha sorriu pela primeira vez em anos, e o batizou com o mesmo nome do neto daquela senhora, como uma homenagem em forma de agradecimento, e puderam permanecer naquele local simples e agradável, por dois dias. Lá fora Heinz estava tomado pelo poder que haviam lhe concedido, sua voz estava em todas as casas de Kassel, e todos o respeitavam nas ruas, o temiam , e nunca olhavam ele nos olhos por mais de 3 segundos. Heinz chegou em sua casa, procurou por Martha, olhou cada canto e revirou todas as gavetas , procurando pistas, começou a ficar muito nervoso por sua esposa ter o abandonado, aquilo era um insulto para ele, tanto que ele incendiou todas as roupas de Martha, inclusive a cama e depois saiu a sua procura. Bateu casa por casa atrás de Martha, e por onde passava , sempre batia em alguém até sangrar, e como não havia muitas casas naquela região , logo bateu a porta da senhora que a ajudara com o bebê, rapidamente a senhora disse para Martha:

- Vamos! por aqui depressa!

era uma passagem nos fundos, e debaixo das palhas, havia uma portinha que levava até o outro lado da cidade, mas que passava por um longo túnel, uma antiga masmorra que seu falecido marido havia construído, caso precisassem um dia. Martha correu com o seu bebê por aquele túnel escuro e úmido, a senhora ficou , pois não quis abandonar sua casa, então trancou a portinha e engoliu a chave, mas começou a se engasgar, quando Heinz arrombou a porta da casa e a encontrou:

- Onde esta a minha esposa sua judia?

Perguntou a erguendo pelos cabelos, e a senhora nada disse, apenas cuspiu em seu rosto, Heinz rapidamente a estrangulou, com as suas mãos, seu rosto tremia de ódio, e no vão de seus dentes, escorria um pouco de sangue e saliva. Heinz ainda procurou por lá, e antes de sair ateou fogo na casa.

As rádios já noticiavam o desaparecimento de Martha, quando ela chegou a o outro lado de Kassel, e se refugiou atrás de um carro incendiado, suas pernas corriam sangue e seu bebê estava com frio e molhado, Martha desesperada bateu numa porta ali perto atrás de ajuda:

- Meu deus o que aconteceu com você?

perguntou o homem que , rapidamente a colocou para dentro e trancou as portas, Martha explicou que estava fugindo de seu Marido Heinz, mas quando aquele homem ouviu aquilo, rapidamente a colocou para fora, disse que poderia ficar com o bebê, mas que ela não poderia ficar, pois ele temia que Heinz viesse atrás dela, Martha retirou o bebê de seus braços e seguiu pela rua, até um carro parar em sua frente, e 2 homens a colocarem dentro do carro, levando a até Heinz.

Ele discursava num palanque no centro, quando a multidão se abriu, revelando Martha e seu bebê, os soldados se aproximaram de Heinz e cochicharam em seu ouvido, Heinz a olhou nos olhos, mas Martha não desviou o olhar, permaneceu encarando Heinz, diante da multidão, então Heinz disse:

-Levem -a para rizershmitd !!! AGORA!!!

Hienz olhou para o bebê e pegou em seu braço, repugnou o fato de ele não ter uma das mãos, e então cochichou com um soldado que , levou o bebê para um local diferente.

Martha foi jogada junto a outras mulheres, num buraco feito pelos nazistas, nas margens do rio Fulda, e lá permaneceu até segunda ordem, já o bebe foi levado para uma casa sob os cuidados de Hadrian, braço direito de Hienz, em sua campanha, lá o bebe foi examinado , e selecionado, para testes, de anti-bióticos, nos laboratórios que Heinz supervisionava. Martha foi retirada depois de 2 dias naquele buraco, estava fraca demais para andar, e só falava em seu bebê, estava sendo conduzida por dois soldados , quando um se retirou sob ordens de Heinz , restando apenas um, Martha aproveitando a chance única de poder fugir, mordeu o braço do soldado, e correu , o soldado correu atrás dela por algumas ruas, quando Martha pulou num barranco e sumiu, deixando o soldado para trás, quando soube disso, Heinz mandou fuzilar o soldado e toda a sua família. Martha estava muito machucada e desolada, mas estava disposta a seguir lutando , para encontrar seu bebê, mesmo estando sob o domínio de Heinz. Ela seguiu por um caminho de barro, se escondendo debaixo das pontes, caiam terra em seus cabelos a cada tanque que passava, e ela continuou até chegar em uma base, então teve de desviar o caminho, e isso se repetiu umas 3 vezes mais, até ela voltar a caminhar naquelas ruas, cinzas, por onde seguiu viajem atrás de seu bebê. Martha avistou um grupo de pessoas , fugitivas assim como ela, havia dois garotos, duas mulheres e uma garotinha, então Martha os seguiu e longe, e aquele caminho a levou para uma trilha de corpos , que parava num portão, e lá dentro varias pessoas feridas, vestidas iguais, Martha logo desviou-se dali, e seguiu só por um outro caminho , e por onde ela passava, se ouvia os rádios, noticiando a trajetória de Heinz, foi quando ela ouviu sobre os laboratórios ao norte de Hessen, quase perto de onde ela foi jogada naquele buraco, quando Martha ouviu sobre as experiências , com crianças judias, e com retardo mental, e com bebês malformados, e aquilo a deixou horrorizada, e saiu de lá rumo ao norte.

Conseguiu carona de fugitivos, até um local perto de Hessen, depois foi a pé até as clínicas Hummist , mas teria de ser estratégica para entrar lá e encontrar seu bebê, pois as clínicas eram muito bem vigiadas por soltados , nas portas da frente, e numa porta atrás, Martha permaneceu de longe, observando os movimentos dos soldados, um sempre vinha pegar cigarros ,com os dois que estavam de frente, e depois retornara para os fundos, Martha permaneceu escondida atrás de um muro, que outrora foi uma espécie de igreja pequena, só restando poucos pedaços de pedras, Martha estava deitada, e levantava a cabeça bem de vagar para olhar, quando aquele soldado vinha fumar os cigarros, Martha avançava aos poucos atrás das pedras, repetindo os mesmos movimentos a noite toda, de manhã ela já estava quase chegando perto, da porta dos fundos, quando mais 3 soldados chegaram, mudando os turnos, Martha permanecera outro dia inteiro, calculando os movimentos , dos novos soldados, mas o problema era que, o soldado que ficava nos fundos, não fumava, e nem saía do lugar, mas num esperto movimento , marta agarrou uma pedra, e quando o soldado virou levemente a cabeça para o lado, Martha arremessou a pedra, numa parede do lado esquerdo do soldado, e se escondeu, rezando para que ele não a visse ali, então o soldado saiu de seu posto, e chegou bem perto de Martha, mas não a viu, então se virou e quando estava retornando, Martha pegou uma outra pedra um pouco maior, e bateu na cabeça do soldado, que meio desnorteado caiu, Martha amassou sua cabeça com aquela pedra, chorava , enquanto o sangue jorrava. Martha pegou as armas do soldado, e se aproximou da porta dos fundos, entrou e rendeu um dos cientistas de Heinz, e o obrigou a abrir as portas do laboratório, Martha não encontrara o seu bebê, então metralhou o cientista, alertando os soldados, Martha correu pelos fundos e atravessou , numa fuga , enquanto as metralhadoras a seguiam Martha se abaixou e trocou tiros com os soldados, nascia uma nova guerreira alemã, ela já não chorava, e aguentava a metralhadora, disparava contra os soldados de Hienz, até mata-los um por um. Martha entrou novamente no laboratório e viu os bizarros fetos nos potes, um até tinha olhos totalmente negros, Martha seguiu atrás de alguma pista, do paradeiro de seu bebê, até encontrar em arquivos , que diziam "Bebês deficientes", localizados no subsolo de Strium , Martha leu com atenção aqueles arquivos, e descobrira uma pista de onde poderia estar seu bebê.

E sabia que teria de enfrentar os nazistas, e a fúria de Heinz, então pegou armamentos e calçou as botas de um soldado que ela matou, e seguiu rumo a Strium, que ficava a alguns quilômetros dali, Martha seguiu pelos cantos dos morros, surpreendendo soldados , com golpes de coronha, e facadas nas costas, ela assassinou um sargento com a baioneta de seu fuzil mauser , ele tinha no peito muitas medalhas e condecorações, Martha estava fria, como um nazista, e assim chegou até Strium , parecia ser de mais fácil acesso , pois tinha apenas um atirador numa torre, mas era dia, e Martha sabia que ele poderia vê-la estando com a altura a favor, então permaneceu escondida no meio dos matos até o cair da noite.

Martha se aproxima lentamente, desviando-se dos holofotes, até encostar-se no muro de Strium, mas o muro era alto demais para ela pular, então ela foi se movimentando aos poucos, sem descolar-se da parede, até chegar no portão de entrada, ela pendeu a cabeça para observar, havia pessoas lá dentro, mas não enxergara nenhum soldado, havia apenas aquele na torre, então Martha arriscou-se numa ideia, atirou nas trancas do portão e correu para dentro, rendendo uma das pessoas lá dentro, o soldado desceu da torre e veio em direção a Martha, que permaneceu fria o soldado apontou seu fuzil e disse para ela largar a arma, Martha teve uma ideia meio louca, e arriscou tudo naquela ideia, ela se fingiu de doente mental, começou a rir, e a brincar com a arma, o soldado abaixou o fuzil, e estranhou aquilo, então Martha aproveitou e explodiu seus miolos , e fez com que os cientistas a levassem até o seu bebê:

- Me levem até o subsolo!! AGORA!!

eles a levaram até lá, e depois Martha pediu que eles ficassem de frente para a parede, um do lado do outro, e descarregou todas as suas balas , nas costas dos cientistas, então soltou o seu fuzil, e começou a procurar pelo seu bebê , naquela sala enorme, onde todos os bebês estavam cobertos, no rádio se ouvia, noticias de Hitler, um novo ditador , que controlara toda a Alemanha, e que estava prestes a invadir outros lugares, e que Heinz teria traído seu Führer , ao desobedecer uma ordem, pois Heinz disse em um de seus discursos, que ele era o único capaz de controlar as pragas da Alemanha, e se negou a Hitler, e que agora estava se escondendo em algum lugar.

Martha avistou aquele bracinho levantado , sem mão, e correu emocionada até lá, pegou o seu bebê, e correu, como nunca correra antes, estava com os olhos cheios de água, quando apagou aqueles números no braço de seu bebê, e o amamentou pela primeira vez, como mãe, antes de deixar a Alemanha.

Martha seguiu com seu bebê para o oeste , percorreu os perigos da guerra, a pouco mais de 450 quilômetros até chegar na França, num local para refugiados de guerra, havia muitos alemães por lá, e um deles veio falar com ela:

-Heinz foi enforcado , numa cerimonia de Hitler, menos um !!!

Martha abraçou e beijou o seu bebê com, aquele alívio e disse:

- Viu só Vinnie, estamos livres!!!

E cantou para o seu bebê, pela primeira vez, fazendo-o adormecer.

Martha o colocou na cama do seu lado e continuou a conversa com aquele homem, ele tinha apenas dois dedos em umas de suas mãos, e a cada minuto ele se coçava com eles, traumatizado por, sua família ter sido morta pelos soldados de Hienz, Martha não disse a ele que era casada com Heinz, disse apenas que agora todos iam ficar bem.

Os refugiados permaneceram escondidos no auge dos conflitos, e durante toda a ocupação de Hitler, Vinnie estava crescendo e ouvindo sobre Heinz e Hitler no rádio,e Martha estava cada vez mais feliz por estar viva e com o seu bebê.

- Eu tenho um lugar seguro, quando a guerra acabar, você e seu bebê podem vir comigo!

Disse o homem dos dedinhos, Martha concordara com aquilo, mas ainda muito traumatizada, não o via como um futuro marido, e disse que aceitara o convite, mas que logo seguiria o seu próprio rumo, o homem concordou acenando com a cabeça, e se deitou ao som dos morteiros e a canção de Martha , que cantara para seu bebê, tampando seus pequenos ouvidos.

No rádio dizia que Hitler estava perdendo a guerra, e que exércitos soviéticos estavam cercando toda Berlim, e que Hitler estava em declínio total. Passando os meses, a noticia era de que a guerra teria um fim, pois Hitler assassinara sua amante Eva Braun e depois tirou a própria vida , em sua casamata fortificada, nos subterrâneos de um prédio em Berlim.

Os refugiados comemoravam o ocorrido , quando Vinnie sorriu pela primeira vez, e Martha chorou , mas pela primeira vez ,chorou de felicidade.

Martha morreu aos 52 anos vítima de câncer, e durante toda a doença, Vinnie esteve ao seu lado, inventando histórias de guerra, para contar para sua mãe, e quando ela morreu, Vinnie tinha 16 anos e seguiu sozinho de volta a Alemanha , com 32 anos se casou e teve 2 filhos, e sempre que seus filhos escutavam as bombas pela televisão, Vinnie tapava os ouvidos deles e cantava a mesma canção que sua mãe cantava , e os sons das bombas soavam tranquilos como uma canção cantada por um anjo.

Robert Ramos
Enviado por Robert Ramos em 22/01/2015
Reeditado em 22/01/2015
Código do texto: T5110490
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