O Depoimento sobre Myrius 7

No ano de 2342 a nave AL35, de abastecimento e manutenção, partiu para o distante planeta Myryus 7, na remota galáxia de Aurora, para uma missão de reabastecimento e assistência técnica. Ao chegar ao planeta a espaçonave AL35 perde o contato com a colônia de mineração e após 3 dias a AL35 perde contato com a terra.

15 anos depois a AL35 é reencontrada por uma nave comercial com apenas um tripulante, o Android AAH35, parcialmente danificado mas operacional. Seu depoimento é a única pista para a federação da Eurásia, com sede em Pequim, possa descobrir o que realmente aconteceu e responder a perguntas que ficaram sem resposta até o momento.

Ano: 2342

Local: Agencia de Segurança Espacial, Pequim

Juiz: Adreas Pokolinaikus

Depoimento do Android AAH35

O Juiz Andreas Pokolinaikus solicitou o depoimento da pessoa artificial AAH35, único sobrevivente da espaçonave AL35. Após alguns instantes, uma grande porta se abre e dois guardas acompanham um androide que caminha com dificuldade, uma pessoa artificial, chamado AAH35. Os guardas o levam até uma poltrona, no centro de uma grande sala oval e muito ampla e bem iluminada, onde no alto, em um púlpito, juiz, jurados e demais oficiais de justiça aguardam curiosos. No alto, à direita, em um camarote, estão membros do governo, e no camarote ao lado, representantes do conselho de segurança da Eurásia. Após alguns instantes o juiz inicia a sessão e em seguida um dos oficiais de justiça faz a leitura do relatório de incidentes entregue pela agencia comercial do governo, que efetuou o resgate da AL35 perto da órbita de Plutão.

Após a leitura do relatório o juiz solicita ao AAH35 que descreva detalhadamente o que ocorreu na missão ao planeta Myryus 7. O androide estava imóvel mas então olhou em volta para todos e então iniciou seu relato com voz baixa.

O texto abaixo é a descrição dada pelo androide sobre a missão.

Recebemos a especificação da missão em 2327, no dia 15 do terceiro período. O comandante da AL35, Jonas Gibson recebeu as instruções pela teletela para entrega de 30 containers de suprimentos e 8 novas máquinas respiradoras para serem instaladas. A tripulação era composta por 8 pessoas e 20 robots além de mim. Os tripulantes humanos eram o comandante Jonas Gibson, o primeiro oficial Eric Sauber, o engenheiro Hassan Zair, a médica Sandra Vasquez, os tecnicos Bob Young e Allan Chamon, o piloto Rene De Parleau e o oficial de comunicações John Miller.

O comandante consultou a teletela e constatou que Myrius 7 era uma nova colônia de mineração e que estava localizado nos confins da galáxia Aurora. Como a viagem era longa, fui acionado para preparar a sequencia de programação da câmara de hibernação para a tripulação e manter os sistemas em ordem durante a viagem.

A dra. Sandra entrou em contato com o medico chefe da equipe medica da colônia e constatou que estava tudo bem com a população de cerca de 80 pessoas. Apesar de estarem há poucas semanas no planeta, todos os colonos haviam se adaptado ao planeta sem maiores complicações ao que a dra. ficou satisfeita e trocou mais informações com o medico chefe da colônia para depois sair para elaborar um plano de avaliação médica dos colonos com base nas informações prestadas pelo médico e pela consulta feita na teletela sobre a situação dos colonos.

Um pouco depois foi a vez do comandante Jonas conversar rapidamente com o comandante da colônia, sr. Josias sobre a situação das maquinas respiradoras que deviam gerar oxigênio para a atmosfera artificial em Miryus 7 mas que apresentaram falhas após uma semana de uso. Após 6 dias de trabalho intenso os engenheiros da colônia não conseguiram encontrar a origem do defeito e por conta disso foi necessário o envio de ajuda para substituição das maquinas respiradoras através da AL35. As reservas de oxigênio da colônia poderiam durar até 3 anos mas bem antes disso nossa nave já teria resolvido o problema técnico das maquinas respiradoras. O comandante Jonas perguntou sobre o estado das respiradoras e foi informado que era novas, ao que achou estranho o defeito.

O sr. Josias deixou no ar um comentário sobre diversos problemas técnicos na colônia mas que já estavam sendo resolvidos pelo pessoal de manutenção. O comandante Jonas então confirmou nossa chegada dentro do prazo previsto de 6 meses e se despediu do sr. Tobias que agradeceu a ajuda e se colocou a disposição para qualquer ajuda que nossa tripulação precisasse.

Após uma rápida reunião o comandante distribuiu as tarefas para todos e desejou todos boa hibernação até a chegada em Myruis 7. A tripulação estava bem fisicamente e emocionalmente e todos foram para os berços de hibernação, após o que iniciei o programa de hibernação para 6 meses.

Durante a viagem mantive meu banco de dados atualizado com noticias do dia a dia da colônia onde, inicialmente, tudo transcorria bem dentro do esperado exceto pelas respiradoras que apresentaram defeito, as fortíssimas tempestades na superfície de Myrius 7 e pela presença constante de uma grande névoa sobre a estação da colônia de forma a dificultar totalmente qualquer atividade fora da estação. O sr. Tobias comentou que dois mineiros relataram o desaparecimento de equipamentos de mineração nos túneis e nas cavernas. Foram feitas buscas e os equipamentos, grandes perfuradoras robot, nunca foram encontradas.

O sr. Tobias achou muito estranho e, depois do desaparecimento de um mineiro, em uma dos túneis abertos nas cavernas decidiu que as atividades de mineração seriam suspensas para os mineradores humanos e enviou apenas robots e maquinas de controle remoto para continuar a atividade. Uma destas maquinas, um robot minerador transmitiu pela câmera imagens de um traje espacial. Para espanto de todos, o traje era do mineiro desaparecido. Não foram encontrados restos mortais ou coisa parecida. O mais estranho foi que, após ter sido levado para a colônia pelo robot e examinado pelos colonos não foi encontrado nenhum dano do traje. Nenhum furo ou qualquer detalhe em algum componente que pudesse ter causado o desaparecimento do mineiro. Isto deixou todos muito preocupados sobre o que poderia ter acontecido.

No segundo mês de viagem consultando o sistema da colônia meu sistema de monitoramento de atividade descobriu que a névoa era formada por uma substancia desconhecida, não encontrada no catalogo de elementos químicos de todos os sistemas solares já explorados. Além disso, notei que a atividade de mineração havia avançado bastante na colônia e que havia descoberto depósitos de gases subterrâneos que subiam para a superfície do planeta se espalhando rapidamente por toda a região em volta da colônia. Neste mês vários robots em atividade de mineração simplesmente perderam o contato com a colônia e mais tarde as câmeras das perfuradoras os encontraram desativados. Os engenheiros da colônia tentaram reativa-los de todas as formas possíveis mas não conseguiram faze-lo remotamente e então o sr. Tobias tomou a decisão de enviar um grupo de engenheiros e técnicos para trazer os robots para reparos dentro da colônia. O grupo foi selecionado pelo próprio sr. Tobias e foi enviado em dois carros magnéticos para as cavernas onde os tuneis foram perfurados. Para espanto de todos os engenheiros, nenhum dos robots desativados foi encontrado e desta vez foram as perfuradoras que foram, uma a uma, se desligando. Os engenheiros ficaram surpresos com o estado das maquinas. Sem nenhum dano elétrico ou mecânico e com as fontes de energia totalmente carregadas. Iniciaram uma tentativa de reparo mas verificaram que teriam que rebocar as perfuradoras de volta a colônia pois o reparo levaria muito tempo devido a causa desconhecida. O Sr. Tobias então ordenou que todos os engenheiros e técnicos retornassem à colônia imediatamente ao que o grupo retornou nos carros magnéticos que inicialmente não davam partida mas que depois da segunda ou terceira tentativa de partida com acionamento manual, finalmente funcionaram e levaram os engenheiros em segurança de volta à colônia.

No terceiro mês, os engenheiros tentaram de todas as formas remotamente reativar as perfuradoras com novos procedimentos via software mas não conseguiram progresso algum no trabalho. Meu software de manutenção consultou os sistemas de reparos da colônia e constatei que não foi identificada nenhuma peça ou componente defeituoso nas perfuradoras. Houve reuniões entre o sr. Tobias e os outros lideres da colônia e todos ficaram preocupados. E se o problema afetasse também os sistemas de comunicação ou suporte de vida da colônia? Neste mês, também ouve um aumento do tamanho ou volume da grande névoa que cercava a colônia e as tempestades ficaram mais fortes a ponto alguns prédios da colônia terem ficado levemente danificados ao que foram reparados rapidamente pelas equipes de manutenção.

No quarto mês, em uma de minhas consultas nos bancos de dados da colônia verifiquei que foram encontradas ruínas de uma antiga cidade em uma área bastante afastada da colônia. A cidade ficara em uma região de grandes canyons e gargantas com abismos profundos. Ali totalmente escondida havia as ruínas do que outrora fora uma grande cidade. Vi que haviam registros neste mês de duas expedições às ruínas da antiga cidade e que foram encontrados diversos artefatos de uma antiga forma de vida inteligente, semelhante ao homem e que foi extinta ou deixou o planeta quando ele ainda era habitável. Havia ao redor desta que outrora fora uma grande cidade, uma grande cúpula de material semelhante a um vidro grosso, resistente a choques e pressão. Era como um escudo que envolvia a cidade e que fora rompido em algum momento por um grande deslizamento de pedras de uma encosta próxima, abrindo um enorme buraco de aproximadamente uns 15 metros de largura por 10 de altura. Dentro da cidade haviam indícios de que houve uma grande explosão que destruiu grande parte, mais da metade da cidade. Questionei o sr. Tobias e ele informou que a cidade sempre fora o objetivo primário da colônia mas que depois de analisarem antigos artefatos encontrados na colônia em um idioma que muito parecia com o idioma Lokron, do planeta Malkron, do sistema Debeda, foram descobertas indicações uma grande fonte de energia nas camadas mais profundas do planeta, sobretudo na região próxima às cavernas. Equipes de geólogos foram enviados para esta região e encontraram as cavernas com grande entusiasmo.

No quinto mês, os geólogos encontraram inscrições no idioma nas paredes das cavernas. Em todas as cavernas a mesma mensagem havia sido gravada. O sr. Tobias foi informado do fato e considerou que a mensagem era importante e então ordenou que fosse estudada por arqueólogos enviados ao local. Nem mesmo o sistemas de tradução mais avançados na colônia foram capazes de interpretar corretamente a mensagem. Parecia ter sido escrita em outra época, talvez posterior ao surgimento da cidade, e tinha um vocabulário diferente e construções gramáticas modificadas. Neste mês pela primeira vez houve algum progresso, um dos engenheiros de reparo identificou que a causa dos problemas com os robots estava relacionado com a mistura de gases que vinham do interior das cavernas e tuneis. Curiosamente os mesmos gases que espalhavam pela superfície misturando-se à névoa sempre presente em toda a superfície de Myrius 7. As tempestades pioraram muito neste mês, com ventos com velocidades próximas a ciclones no planeta terra. Houve vários danos graves, com rochas e carros magnéticos e vários containers sendo lançados contra os prédios devido à força dos ventos. Ocorreram alguns danos sérios à estrutura de vários edifícios da colônia. Os técnicos de reparos e os engenheiros trabalharam em turnos 24 horas por dia para efetuarem os reparos. Em diversos prédios houve falta de energia e apenas o suporte de vida funcionou, deixando dezenas de pessoas no escuro e sem comunicação. Ao fim do mês, os reparos foram concluídos e a colônia voltou a operar parcialmente com 64% de sua capacidade.

No sexto mês, o sr. Tobias fez uma reunião e decidiu evacuar metade da população da colônia para a estação espacial que orbitava Myrius 7. A decisão foi tomada após constatar que o suprimento de oxigênio fora reduzido para 40% devido aos danos nos depósitos de oxigênio causados pelas tempestades. O sr. Tobias também solicitou autorização do conselho da agencia de pesquisa energética em Moscou, segunda capital da Eurásia, para evacuar no mês seguinte o restante da colônia, cerca de quase trinta pessoas, para a estação espacial e aguardar a nave de resgate para retornarem à terra por considerar que Myrius 7 não era seguro naquele momento para toda a colônia de mineração. Sua autorização foi entretanto negada pelo conselho que solicitou mais detalhes sobre os fatos que ocorreram antes de tomar uma decisão. No fim do sexto mês nossa nave chegou na galáxia Aurora e dois dias depois estávamos na órbita de Myrius 7.

Assim que chegamos na galáxia Aurora iniciei o programa de reanimação da tripulação. O comandante Jonas foi o primeiro a despertar e depois o primeiro oficial Eric seguido pela Dra e pelos demais membros da tripulação. O comandante Jonas consultou a teletela e recebeu instruções de abastecimento e envio de suprimentos e reparos para a missão o que o deixou preocupado ao saber da situação da colônia. No mesmo dia à tarde, após uma reunião com o primeiro oficial Erik, o comandante Jonas fez contato com a colônia e conversou com o Sr. Tobias que estava animado com a chegada de nossa nave. Estranhamente o sr. Tobias não fez nenhum comentário sobre os diversos problemas que tiveram, o que poderia ajudar a nossa equipe de robots a instalarem os equipamentos e software adequados aos problemas que teriam que resolver.

O sr. Tobias e o comandante Jonas Conversaram por cinco minutos e o sr. Tobias solicitou que enviássemos um grupo para manutenção das maquinas respiradoras que eram a prioridade. Segundo ele as maquinas já estavam gerando oxigênio para consumo da colônia a partir da atmosfera de Myrius 7, mas apenas parcialmente. Era prioridade restabelecer a capacidade de 100% das respiradoras. Nenhum comentário adicional sobre os robots e perfuradoras desativados ou do mineiro desaparecido ou ainda dos danos causados pelas terríveis tempestades que atingiram em cheio os prédios da colônia. As tempestades naquele momento tinham desaparecido completamente segundo leitura de condições climáticas da superfície de Myrius 7 feita pelo sistemas de sensores de nossa nave.

O comandante Jonas achou que alguma coisa estava sendo omitida e pediu uma leitura de todos os sistemas da colônia. Verificamos que não havia nenhum serviço do sistema de suporte de vida ativo. Jonas tentou contato novamente com a colônia mas não conseguiu. Fizemos novas tentativas mas não havia resposta. Para todos os efeitos não haviam sinais de vida em Myrius 7. Uma nova mensagem chegou na teletela e o comandante Jonas recebeu ordens de descer na colônia e investigar o que estava acontecendo pois a agencia estava sem contato com a colônia nos últimos 10 dias. Esta informação deixou toda a tripulação de nossa nave surpresa pois havíamos acabado de fazer contato com a colônia naquele mesmo dia.

O primeiro oficial Erik achou muito estranho e ficou preocupado com a missão. Jonas o colocou no comando do grupo de 3 pessoas que iriam descer em Myrius 7 para investigar o que houve lá em baixo com 80 pessoas.

CONTINUA

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 14/02/2015
Reeditado em 15/02/2015
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