O fim do mundo

Não lhes restava muito tempo. Os ponteiros do relógio nunca se moveram tão rápido, pareciam atletas olímpicos. Todavia, naqueles últimos instantes, a mente, abarrotada e confusa, esquecia-se de tudo, pois, turva, entregava-se aos devaneios e desgovernadamente se desvanecia. No canto, sentados à mesa, os sábios, a todo momento solicitados, contemplavam com olhares perplexos o objeto de dimensão descomunal aproximar-se. De repente, o silêncio toma conta da sala; mais tarde, em questão de instantes, ouve-se o choro de crianças e mulheres. Homens também choram ou perdem-se em risos histéricos na mais profunda insanidade. Sem muito estardalhaço surge, então, a primeira frase que de fato se pode considerar inteligível:

- Contemplamos nesta noite, caros senhores, um evento como qualquer outro evento neste imenso e indiferente universo: a extinção da espécie humana.

O invasor, um asteroide anunciado havia anos por todo o corpo de renomados cientistas, parecia não a ter ouvido ou, se a ouviu, aparentou ignorá-la.

O teólogo, homem admirável e lúcido, olhou para os que dividiam a mesa consigo e sentiu-se tentado a procurar convencer a todos os presentes de que, em sua última oportunidade, deveriam se arrepender de seus pecados, antes de que seus corpos finalmente se desfizessem com o inevitável impacto, mas desistiu de seu intento antes mesmo de abrir os lábios. Sua teologia, estudada desde a mais tenra infância, ignorava aquele tipo de catástrofe. "Todos os olhos o verão na sua vinda", pensou, "isso confronta totalmente a minha escatologia". E realmente confrontava, pois a extinção da humanidade, por razões claramente naturais, a impossibilitava de prosseguir a esperar o seu prometido regressar algum dia para resgatá-la. Era, portanto, não só o fim do mundo físico, mas também o do mundo eternal, a última e definitiva refutação de sua fé; a saber, a morte da própria esperança.

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