Descrição de um cenário

Joan acordou por causa da forte claridade que preencheu seu quarto. O despertar foi brusco, se virou e olhou no seu celular às horas. 10:55. Pela claridade ele sabia que já era tarde, mas ele desejava que ainda fosse pelo menos 9 horas. Depois desse susto, pois ele tinha ido dormir preocupado já que precisava acordar cedo, ficou alguns minutos sentado na cama, com as costas encostadas na parede, as pernas estiradas uma sobre a outra e as mãos inclinando o pescoço para frente impedia a cabeça de se encostar. Ele estava letárgico. Não com dor de cabeça. Talvez com um pouco de sede. Com certeza desorientado. Não era a primeira vez, claro, que ele tinha dormido pouco ou acordado tarde. Mas nunca tinha acordado com um sentimento tão estranho, incômodo. Levantou-se, enfim, e abrindo a janela, fechou os olhos com toda força. A luz parecia que tinha ganhado densidade e poderia ser tocada. A tonalidade estava amarelada, como se tivesse num set de filmagem em que o diretor de fotografia tinha aprendido a usar os filtros de cor à poucos instantes, tamanho o descomedimento.

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Após se acostumar com a claridade abriu os olhos. Não viu nada de tão diferente ou que chamasse atenção, mas sabia que tinha alguma coisa errada. Joan morava num prédio, algo como um condomínio, mas não um típico, construído todo de uma vez. Era meio engebrado. Os moradores da parte da frente, mais antiga, eram os que mais sofriam com os constantes concertos. Colocou uma roupa e saiu. Sua casa era a última do corredor. Passando por mais três apartamentos estava a escada que dava para o quarto andar. Começando da outra ponta, a escada era ainda mais distante. Ele bateu na segunda porta. Ali morava uma amiga sua. Os dois estudavam na mesma faculdade, mas faziam cursos diferentes. Marina fazia medicina. Joan cursava engenharia mecânica. Passado um tempo, bateu novamente, dessa vez com mais força. Voltou em casa pra pegar a chave que em teoria só devia usar em emergência. Marina e Joan eram bem próximos e, como moravam sozinhos, aprenderam a cuidar um do outro. A casa estava vazia, sem ninguém e sem nada. Marina teria se mudado? Claro que não! Não é nem que ela não tenha me avisado, a vida é dela, mas ninguém se muda de madrugada, sem incomodar os vizinhos, murmurou dentro de sua cabeça.

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Joan seguiu em frente. Desceu o quarto, o terceiro, o segundo andar, mas enquanto andava parecia que estava numa cidade cenográfica em as casas eram de compensado e as portas só se diferenciavam das paredes pela cor da pintura. A analogia insistente com o mundo televisivo era da sensação que estava num ambiente completamente artificial, muito parecido com o da sua realidade, mas que quando tocado, se desfazia, ficava vazio, como a casa de Marina. O térreo tinha um grande corredor que passava em frente as várias casas. As primeiras eram do bloco onde ele morava, depois do segundo bloco e depois do terceiro bloco. Do lado A. O corredor ficava rente a algo que parecia se uma praça, mas na verdade era um espaço para o estacionamento que separava os apartamentos do lado B. Joan estava agoniado por que durante todo esse percurso não tinha encontrado ninguém.

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Imagine que ao chegar ao trabalho, você encontre todo mudo arrumado para uma festa que você era o único que não sabia. Então você é obrigado a participar, mas fica o tempo todo justificando por que você não está devidamente arrumado. Parecia que todos estavam fora, foram para uma grande festa e Joan era o único que tinha ficado para trás. Enquanto pensava sobre isso, ele meio que ria: de certo vou já encontrar alguém e ir correndo procurar um médico de gente doida. Joan abre o portão que dá para rua e, dando um passo para fora, mantém o portão aberto com o pé. Parece que a paleta mudou de cor. Do amarelado intenso, para o cinzento. Um cenário típico de tempestade, o céu cinza, com um furioso furacão. E apesar de não ver nenhum no horizonte, as pessoas nas ruas corriam como se tivessem fugindo de um, na verdade de dois, um de cada lado, já que corriam de lá pra cá, desbaratadamente.

Diego Ludvig
Enviado por Diego Ludvig em 24/03/2015
Reeditado em 24/03/2015
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