Comercio interplanetario

A nave estava chegando a Hudraz após sessenta e dois anos, com a tripulação em sono crionico. O computador funcionou perfeitamente, com exatas menos 48 horas, foi iniciada a reanimação da tripulação. Eu acordei eufórico, tinha realmente ganhado na loteria, apenas uma viagem e voltaria milionário. Foi muito difícil o planejamento. Ninguém estava disposto a uma viagem dessa magnitude, pelo menos ninguém que tivesse família. Ida e volta resultariam em cento e vinte e quatro anos passados. Não restaria nenhum conhecido ou familiar vivo na terra.

Quando foi constatada a impossibilidade de viagens espaciais em velocidade próxima a da luz, pensou-se que isso seria o fim do sonho das viagens interplanetárias. Porém o desenvolvimento da criogenia mudou todo o panorama. Poderíamos viajar para qualquer lugar do universo, dormindo.

Estudei planetas das mais longínquas galáxias, suas economias, suas necessidades. Sempre fui bom comerciante e agora se desenrolou na minha frente a grande possibilidade. Podem dizer que foi um golpe de sorte, mas meu avô sempre dizia: a sorte só aparece para quem está atento.

O planeta que estamos chegando é Hudraz, planeta único do sol MT-3179, uma estrela anã, quase isolada no extremo de sua galáxia, sendo que os sóis mais próximos, não apresentam planetas habitados e por conseguinte, pouquíssimo comercio interplanetário. Muito semelhante a terra, exceto pela sua orbita obliqua com invernos congelantes e verões infernais. Essa particularidade não seria problema, chegaríamos na meia estação e sairíamos em dois dias.

O contato real nunca tinha sido feito anteriormente, apenas existem mensagens de Hudraz para a terra e vice versa, com de mais de 200 anos. Devido à enorme distância ninguém antes havia pensado em ir a Hudraz. Um dia, pesquisando esses textos antigos tomei conhecimento da civilização hudraziana. São aparentemente pacíficos. Com uma exacerbada exigência pela verdade e honestidade no comércio, tendo punições severas se violadas. A distância impedia a comunicação, mas eu dispensei isto, pois o lucro era óbvio, impossível algum erro. A ausência de alumínio no planeta torna esse minério de um valor fabuloso, porém o grande problema do comércio planetário é a moeda, pois o $Guil (a moeda local) não teria nenhum valor na terra, mas pasmem, um minério desprezado pela grande frequência e fraqueza para utilização era o elemento atômico 79. Imaginem quanto eu receberei na troca de toneladas de alumínio, raríssimo, pelo elemento 79, um elemento de valor desprezível. Para quem não conhece química, o elemento 79 é o ouro.

Fomos muito bem recebidos pelos Hudrazianos. A comida era muito palatável e suas bebidas também foram muito apreciadas pela tripulação. Enfim, tudo correu melhor do que esperávamos. Por uma tonelada de alumínio ele nos pagaram com cem toneladas de ouro e sorriam como se tivessem feito um negócio da china. Enfim, um negócio onde ambas as partes saíram satisfeitíssimas. Logo iniciamos os preparativos para a viagem de volta. Mesmo com uma pequena percentagem do lucro, todos tripulantes sairiam ricos dessa viagem. Apenas um pequeno problema. Nosso combustível, semelhante ao liquido criônico: hidrogênio, nitrogênio e hélio beneficiados, não era disponível no planeta. Teriam que ser processados, e o custo seria enorme. A devolução de todo ouro pagaria apenas um terço do custo, afinal o ouro era quase lixo no planeta. Tivemos que deixar grande parte dos computadores de bordo, arrancar todo alumínio das portas e paredes da nave e ainda contar com a boa vontade dos Hudrazianos em aceitar o que tínhamos para oferecer. Em sessenta e dois anos estaremos de volta à terra e com uma dívida de um pequeno planeta.

Nilo Paraná
Enviado por Nilo Paraná em 26/03/2015
Reeditado em 12/10/2016
Código do texto: T5184131
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