N-19 (Parte 7)

Com o cair da noite nós constatamos que aquele lugar era realmente demoníaco. A escuridão nos trouxe visões das quais jamais esqueceremos e nos perseguirão até o limbo. Praticamente entrincheirados no casebre da chácara, aguardávamos aterrorizados a chegada das primeiras ondas de ataque das bestas que uivavam do lado de fora. Ainda bem que tínhamos economizado munição. O cheiro do nosso medo se espalhava pela mata e atraia uma legião de criaturas que já sentiam o sabor da nossa carne em seus dentes. Colocamos obstáculos nas portas e janelas, tínhamos que manter o ser que estávamos transportando ileso ate o objetivo final. A aproximação das criaturas criou um pequeno tremor no piso e um calafrio na nossa cervical. Armas apontadas, facões e machadinhas empunhadas. Não estávamos prontos, mas iríamos enfrentá-los mesmo assim. A primeira investida foi contra a porta da frente, que se sustentou pelo peso da estante de carvalho com que a escoramos. Já podíamos ver dentes e olhos nas gretas. Em um minuto já estavam forçando o telhado. Uma das criaturas finalmente despencou do teto por um buraco que conseguiram fazer e depois da queda partiu contra nós. Com golpes de facão conseguimos detê-la, quando escutamos o trote de cascos em disparada. O primeiro impacto derrubou a estante. Era um búfalo transmutado pelo vírus. Naquele momento nosso córtex cerebral paralisou nossas pernas. Mais um impacto acompanhado de um urro monstruoso e a porta foi ao chão. Concentramos fogo pesado na criatura, mas parecia apenas distraí-la. Tínhamos que lidar também com outras peçonhas que se esgueiravam pela entrada. Dois de nós arrastaram o ser para outro cômodo, enquanto os outros dois suprimiam a invasão. O búfalo mutante começou a ficar atordoado e se jogar nas paredes destruindo a estrutura lateral da casa. Depois de muito chumbo cravado, ele deitou e sua respiração aos poucos foi diminuindo. Mas restavam os demais. O outro compartimento não tinha porta, então erguemos uma cama e a pressionamos contra a entrada, tentando impedir o acesso, mas precisavamos nos evadir dali. Não fazíamos idéia de quantas criaturas ainda havia ali fora e se poderiam aparecer mais. Então, corri pelos fundos, pretendendo enfrentar um numero menor de bestas, para alcançar o Jeep que estava estacionado logo ali. Chegando ao veiculo, o liguei e invadi a casa me antepondo entre os monstros e meu pessoal. Colocamos nosso passageiro vip na carroceria, subimos todos a bordo e aceleramos em disparada na direção da estrada.

As criaturas conseguiam correr muito, não cansavam nunca. Tivemos que impedir sua aproximação a tiros e golpes de lâminas, até que conseguimos tomar distancia daquele inferno. Sem descanso e totalmente expostos a noite, as expectativas não eram muito boas. Tudo o que queríamos era sair daquele vale sombrio. Sob muita tensão, paramos o carro na estrada para pegar gasolina de alguns veículos que estavam ali parados. Apagamos os faróis, desligamos o motor e ficamos a postos, enquanto um de nossos rapazes verificava os tanques dos carros. Quando abastecemos, nos retiramos rapidamente, nos dirigindo sempre para o leste. A madrugada de horror foi densa, mas os primeiros raios de sol começavam a despontar no horizonte, nos dando certo alivio.

Cada vez mais desejávamos que aquela aventura valesse a pena.

Max Machado
Enviado por Max Machado em 17/04/2015
Código do texto: T5210355
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