N-19 (Parte 9)

Nossa missão havia sido cumprida. Realmente tínhamos descoberto do que se tratava aquele ser e confirmamos a existência da comunidade. Fomos convidados para um tour pelas instalações antes de partir. Visitamos os núcleos de cada sistema de fornecimento, cada complexo residencial, cada refeitório, mas havia um lugar que eles não nos levaram. Era um tanto isolado do restante dos ambientes. Aquilo despertou minha curiosidade. Iríamos passar a noite ali e só regressaríamos na manhã do dia seguinte, então resolvi checar quando escureceu. Caminhei sorrateiro pela penumbra até me aproximar da estrutura. A iluminação poderia me denunciar, então preferi dar a volta e procurar uma entrada mais discreta que a principal. Pelos fundos, encontrei apenas uma janela com grades e me pendurei para olhar o que havia ali. Fiquei estarrecido com a visão. Dezenas de pessoas estavam sendo mantidas em cárcere naquele lugar. Eu não poderia fazer nada naquele momento, alguns soldados montavam guarda pelo corredor principal e era o único caminho para chegar àquelas pessoas. Então voltei para o cômodo onde estava minha equipe e resolvi esperar o amanhecer.

No dia seguinte, o chefe do centro de pesquisas nos ofereceu uma escolta para nos acompanhar de volta até nosso acampamento. Eram dois soldados em um modulo de transporte flutuante, menor que o primeiro. Eles nos agradeceram e nos despedimos de todos normalmente. No caminho de volta contei o que vi ao meu pessoal e disse que não poderíamos deixar aqueles soldados chegarem até nosso acampamento, pois sofreríamos a ameaça de sermos capturados também. Elaboramos um plano. Simulamos um defeito no Jeep e aproveitamos a distração dos soldados para surpreendê-los com tiros nas suas cabeças. Para nossa imensa surpresa, os danos provocados pelos tiros revelaram a verdadeira identidade daqueles soldados. Não eram humanos, eram aliens como os que nós salvamos. Chegamos à conclusão que toda aquela comunidade não era humana e que a preservação da qual eles falaram sobre nossa raça, era para nos fazer de escravos. Escondemos os corpos na mata e como não sabíamos operar o veiculo que eles conduziam, o rebocamos até nosso acampamento. Tudo aquilo era muito assustador. Agora os infectados pareciam estória pra criança dormir. Nós não poderíamos enfrentar seres com uma tecnologia tão superior, só nos restava fugir. Mas à medida que nos afastássemos daquele pólo alienígena, poderíamos estar nos aproximando de outro. A grande lição pós-apocaliptica era que por mais que a situação estivesse ruim, ela poderia piorar. O trajeto de volta ao acampamento não foi difícil. Parecia que o destino estava querendo poupar nossas energias para o que estava por vir. Ao chegarmos lá, nos receberam com uma enorme empolgação, mas eles não receberam em troca o mesmo sentimento. Estávamos abatidos, frustrados. Era duro, mas tínhamos que revelar tudo para os membros do acampamento, disseminando amargamente, mais desespero. Malditas respostas pelas quais esperamos com tanta ansiedade. Começamos então a nos preparar para partir. O medo do incerto e a impotência sentida por olhar para rostos inocentes e saber que eles poderiam perecer não eram reconfortantes. Então, abandonamos mais uma vez um local relativamente habitável, um canto menos caótico do inferno, para abraçar a estrada e todos os seus obstáculos. Seguimos para oeste, a direção contrária do complexo alien, na esperança da distancia nos garantir alguma segurança. Nossa moral estava abatida como nunca. Mas, toda dor nos torna mais fortes. Um novo nível de luta se instaurou, logo, um novo tipo de guerreiro também.

Max Machado
Enviado por Max Machado em 21/04/2015
Reeditado em 23/04/2015
Código do texto: T5214893
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