AMOR INÚTIL, INÚTIL AMOR!

Explicação:

Aceitei o desafio do escritor Carlos Lopes, de Pernambuco,editor do Blog Gandavos, onde esse conto encontra-se publicado (http://gandavos.blogspot.com.br) e decidi escrever meu primeiro conto.

Eis o trabalho, mas não é o estilo que gosto porque só escrevo crônicas.

À Mágida Hauache

Depois de mais de 30 anos vivendo um amor inútil, dividido com outra mulher, Luana entrou no banheiro, abriu o chuveiro e tentou inutilmente remover de seu corpo tudo o que a fizesse lembrar de Evandro. Mas era inútil a tentativa porque não se arranca por um banho tudo o que ficara gravado de lembranças em sua memória, desde que o viu pela primeira vez em uma repartição pública e se apaixonara em um segundo olhar. Mas estava tentando! Depois de seu primeiro e segundo marido, que lhe presentou com filhos que os criou sozinha, encontrou um terceiro companheiro com quem dividira sua cama por anos e sem conhecê-lo direito. Já esperava, mas ficou surpresa quando lhe dissera que ela não passava de uma velha e que tinha encontrado uma menina mais nova e com dinheiro. Luana teve a certeza que seu príncipe encantado que pensava que fosse, não passava mesmo de um gigolô, certeza que lhe foi reforçada quando seu pai contara que Evandro lhe havia pedido uma lancha de presente com a herança que receberia em breve e este tinha lhe prometido que daria.

“Ainda bem que me abriram os meus olhos para a realidade porque mulher apaixonada fica igual à deusa da justiça: nada vê, a não ser o que o que deseja ver e lhe é mostrada como prova pelos advogados envolvidos na lide processual”, pensou durante o demorado banho e disse para ela mesmo: “isso não é para mim, chegou ao fim! Basta! Vou recomeçar de onde parei, mas passando por outros caminhos porque não se pode voltar ao passado”.

Depois do demorado banho, telefonou para algumas amigas e doou tudo o que lhe fizesse lembrar Evandro: panelas, presentes e tudo o que adquiriram com o dinheiro que ela também lhe dava, mas sua decisão não extirparia todas as lembranças boas de sua vida . “Chega”, dizia de novo para si mesmo enquanto a água talvez contaminada pelo que estava tentando retirar de Evandro, escorria pelo ralo do banheiro. Luana se livrava de todos os objetos que adquiriram juntos, por doação e não venda. “Se for vender, ninguém vai comprá-la. É melhor doar tudo sem cobrar nada”, Luana continuava dizendo para si mesma, enquanto fazia a entrega dos objetos que lhe faziam lembrar de seu ex-amado. Não doou o colchão em que dormiam porque não teria aonde dormir em seu condicionador de ar naquela noite. No colchão, Evandro lhe dissera muitas mentiras de amor, mas “isso ficará no passado porque passarei a ser outra mulher a partir de agora”.

Mesmo já tendo rompido a barreira dos “enta”, Luana ainda era uma mulher atraente, mas não estava disposta a procurar homem com desespero, porque já tinha sido casada duas vezes e vivia seu terceiro relacionamento. Lembrou com saudades de sua juventude, quando viajava a serviço da empresa da família em que trabalhou como diretora comercial, pelos municípios do Estado. Nesse período, embora não procurasse, mas por ser muito bonita e paquerada, talvez pela posição que ocupasse ou pelo destaque e importância que o cargo tinha, conheceu e se relacionou com pessoas de bom caráter. Contudo, “mas isso era passado”, dizia para si mesmo. “Tenho que viver meu presente porque o passado já passou e não voltará mais”. Desejou entrar em uma máquina do tempo e voltar aos seus 20, 30 anos: talvez não tivesse casado como fez a pedido do pai, aos 15 anos, não tivesse casado uma segunda vez aos 27 e, depois, não tivesse perdido tanto tempo ao lado de um homem que ajudou a criar seus filhos, educando-os nos momentos mais difíceis da juventude e rebeldia deles. Mas, isso, também já era passado. Certa vez, seu companheiro de jornada pela vida queria levá-la a um psicólogo, achando que tivesse algum problema. Ele era diabético e ela não tinha nada. Tinha certeza que nada tinha. Luana só tinha medo de pegar doenças sexualmente transmissíveis do companheiro. Ela nunca fora promíscua, ao contrário de Evandro, que se banqueteava com vários pratos, em corpos diferentes. Luana sabia de tudo, mas fingia que de nada sabia e o aceitava de volta, sempre!

Ah, quantas lembranças e quantas saudades tinha. As decepções que tivera com todos seus maridos e companheiro. Essas coisas tinham transformado Luana em uma mulher determinada. Voltou à Faculdade por duas vezes e estava decidida: “não quero mais ninguém, não vou procurar ninguém, mas se aparecer, não dispensarei, afinal, ainda sou mulher e tenho desejos, não tanto como antes, mas ainda não estou morta”, continuava dizendo para si mesmo, como querendo compensar os anos de ilusão que vivera. Mas não foram tempos totalmente perdidos, mas apenas amores que não a compreenderam. No fundo, Luana se achava e era uma excelente pessoa, com amigos com os quais ela podia contar.

Enquanto tomava novo banho para tentar livrar-se do resto que ainda achava tinha impregnado de Evandro dentro de seu corpo, Luana continuava dizendo para si mesmo: “tudo que não fiz na minha adolescência, com medo de doenças sexualmente transmissivas, e me anulei por casar muito jovem, farei agora porque adoro danças, gosto de martini com cerejas e decidi voltar à vida boemia na data do meu aniversário, porque gosto de boa companhia e ninguém jamais vai se me segurar”. Do banheiro onde tentava se livrar dos últimos resquícios de Evandro, o CD a música de Cauby Peixoto, “...ah, como é cruel cantar assim...e no fundo do salão, os homens a se rasgar por mim...” era ouvido e Luana, passava sabonete em seu corpo ainda jovem e repensava toda sua vida ainda jovem e, chegara à conclusão que os homens bons que namorara no passado estavam todos casados com o passar dos anos e concluiu que eram todos trigos no meio do joio e ela teria que separá-los para encontrar um que ainda tivesse na esquina!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 19/05/2015
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