Terra árida e infértil - #01

Há algum tempo ele segurava aquela linha que se esticava em direção ao céu, não poderia dizer a quanto tempo, o tempo... Tempo era como um estranho Deus para ele, talvez não soubesse qual a relevância de se importar com o tempo, de qualquer forma, já há um bom tempo estava ali, afinal, a sombra que seus longos cabelos verdes formavam já havia mudado de lado ao redor de seu corpo mais de dez vezes, e isso lhe parecia mais interessante do que se importar com o tempo.

Aquelas fascinantes formas escuras que dançavam de um lado para o outro sobre aquela superfície árida e infértil.

Na outra ponta da linha havia um objeto flutuando ao vento, um artefato do qual se orgulhava de ter construído, pela primeira vez seu invento funcionou de uma forma que lhe agradou.

O primeiro protótipo alçou vôo na primeira rajada, mas imediatamente apontou para o solo e se espatifou com grande violência, a segunda versão apenas rodopiava sem controle, até que, após cinco ou seis tentativas, chegou a essa obra que admirava agora, ainda não a batizara, talvez a chamaria de flapflap, pois era o som que fazia quando ele puxava a linha contra seu corpo.

Ele estava satisfeito, e não gostaria de perder flapflap, ventos mais fortes começaram a soprar, então ele começou a girar a linha em volta de um cilindro brilhante.

Mal começara e repentinamente houve um estrondo, como nunca havia escutado, um reflexo instintivo e os músculos em suas pernas liberaram toda a força disponível, seu corpo foi literalmente arremessado a dezenas de metros de onde estava, naqueles segundos que fazia aquele incrível salto observava em câmera lenta, flapflap era engolido lá no alto por uma grande bolha de ar, que logo em seguida se tornou uma nuvem, comprida, desaparecia no horizonte.

Continua...