Prosa com a corrupção

Claudio estava passeando pelo parque , quando de repente, uma senhora muito elegante o chamou, de forma muito afetuosa. Até ficou surpreso com tanta simpatia, pois nunca havíamos a visto antes. A fim de retribuir toda aquela cordialidade resolveu se dirigir até ela para cumprimentá-la. Chegando mais perto, ela sorriu de um jeito praticamente maternal. Era muito estranho. Tudo fazia parecer que éramos velhos conhecidos. E as coisas ficaram ainda mais complexas quando a senhora falou o seguinte: “Você pode não estar me reconhecendo, mas somos mais próximos do que você imagina”. Fiquei tão confuso que achei melhor iniciar uma conversa para que as coisas pudessem ser esclarecidas.

Em um dado instante, os olhos de Claudio se afixaram na figura daquela mulher. Aparentemente, dava a entender ser bastante distinta. Estava vestida com um imponente vestido azul e, fazendo o visual característico das damas do passado, estava com um leque, também da mesma cor em mãos. Daí, seus olhares foram interrompidos pela voz carinhosa daquela mulher: “Parece ter gostado do meu vestido. Realmente ele é muito bonito, Ainda ”. .Ele não estava determinado a ouvir opiniões sobre qualquer roupa só queria que ela me dissesse quem era. Além do mais, jogos de adivinhações nunca foram do seu agrado e, provavelmente, nunca serão.

Não precisou mais esperar ou nem mesmo perguntar o que já estava sedento por saber: “ Meu jovem , não é difícil saber quem eu sou, por que você já me conhece tão bem. Mesmo assim, como sou muito educada, faço questão de me apresentar: Eu sou alguém que está , constantemente ,nos noticiários. Vocês sempre falam muito sobre minha pessoa. Eu sou a corrupção”. Agora, quando pensei que ia entender melhor as coisas , tudo parecia ter piorado. Se eu não estivesse maluco ou coisa do tipo, a pessoa, que encontrei, durante um habitual passeio, disse que se tratava da maldita corrupção. Alheia a qualquer reação que eu, por ventura, estivesse esboçando, ela continuou com o seu falatório.

-Eu sei que você deve estar um pouco surpreso com isso. É que não costumo frequentar muito esse parque. Geralmente, me sinto muito bem quando estou em Brasília. . Lá ,por algumas , sempre sou recebida com muita festa. Como você pode ver, eu sou senhora distinta. Devo dizer que só não sou tão velha, como andam dizendo. Na verdade, sempre busco estar atualizada – disse a corrupção.

Claudio não precisou nem perguntar do por que ela se sentia à vontade quando andava pelos lados da capital federal. E já que , ele parecia mais recomposto do impacto que aquela conversa estava me trazendo, resolvi fazer alguns questionamentos. Primeiro, quis saber como esquemas como a da Petrobras podem se desenvolver de forma tão canalha nesse país. Antes de me responder, a corrupção soltou um riso para lá de sarcástico:

-É tão fácil saber disso, mas, tudo bem, respondo para você com o maior prazer: Tudo acontece por causa da forma que vocês entendem a política. Todos se deixam seduzir por falsas promessas e vendem o voto, de uma forma tão fácil, que até eu costumo ficar espantada como esse processo se dá tão rapidamente. Pensam que tudo se resume a eleições extremamente espetacularizadas. Nunca cobram por propostas que se revertam em um bem estar da população. Aliás, o povo não está nem aí para uma direção que aponte uma maneira mais inteligente de fazer uma campanha eleitoral ou a política. Num guia eleitoral, na TV ou no rádio, vocês querem mesmo é que ele seja voltado, unicamente, para o ataque aos adversários. Quanto aos debates, não preciso nem comentar que, para serem campeões de audiência, tem que haver aquela discussão básica , e de baixo nível, entre os candidatos. Quando acaba a campanha, vocês começam a perceber que a política não é uma festança. Os meus esquemas se armam no silêncio e se amparam no seio da ilegalidade. Quando os notam, já houve muito prejuízo. E, no fim das contas, vocês sempre elegem os mesmos caras- disse ela.

Por alguns minutos, Cláudio ficou calado para que pudesse digerir cada palavra que ouviu vindas da “Dona Corrupção”. Era como se ele quisesse justificar o obvio. Por mais que fossem os argumentos, a verdade sempre parece ser muito nítida. Infelizmente, muitas pessoas ainda veem a politica como essa coisa que só acontece mesmo de quatro em quatro anos. Mesmo assim, ainda fazemos disso algo que mais se assemelhe com o circo, torcendo para que os candidatos embarquem numa campanhas de ofensas, sem nem se importar cm propostas que sejam benéficas para a sociedade. Como foi difícil, naquele momento ter que concordar com a Corrupção.

Decidindo encerrar seu silêncio, Claudio quis falar umas verdades que estavam entaladas. Deixou bem claro o quanto ela atrapalha a vida de pessoas honestas, em detrimento das mais canalha das formas de usufruir o poder. Não perdeu a oportunidade de expor, como cidadão de bem, expor seu lado de vitima dessa história. Mas, dito isso, acabou recebendo mais uma pancada de realidade.

- Você está me fazendo rir como poucas vezes na vida. Então, quer dizer que você é apenas a vitima? Ou, certamente, aquele que os políticos roubam? Certamente, não sabes o que é fazer um exame de consciência, mas tudo bem, como sou muito generosa vou continuar esclarecendo as coisas: Quando vocês, querem facilitar as coisas, sabem que podem recorrer até mim. Isso acontece quando, por exemplo, vocês sentam num assento de ônibus para deficientes ou idosos, resolvem falsificar uma carteira de estudante ou, até mesmo, fazem ilegal de um sinal de TV a cabo – disse a corrupção.

Por mais que tentasse, Claudio não poderia contestar a veracidade daquelas palavras. Até tentou telefonar para a justiça, pois gostaria de fazer algo. A ligação, infelizmente, caiu na caixa eletrônica que apenas informou que a corrupção não poderia atender por que, hoje, estava para poucos. A Corrupção, então, desdenhou daquele rapaz que, certamente, vai lembrar-se dessa conversa para toda a vida.