Independência ou morte em Marte

Carter, Capital de Marte, 13 de abril de 2118

Estou escrevendo esta carta clandestinamente, dentro da prisão, no meu último dia de vida. Fui condenado à morte por lutar pela independência do nosso planeta, controlado pela Terra há cem anos, e escrevo aguardando a chegada de meus executores a qualquer momento. Vou contar tudo o que aconteceu. Por mais que ninguém nunca leia, preciso contar a minha versão, mesmo que seja para mim mesmo em um pedaço de papel.

No ano de 2018, a primeira expedição terrestre a Marte aconteceu, comandada pelos Estados Unidos, a maior potência tecnológica da época. Diversos viajantes vieram para cá, entre cientistas, exploradores, construtores, e montaram a primeira colônia humana fora da Terra. Tudo começou aqui em Carter, onde agora temos um museu que homenageia os colonizadores.

Tudo corria bem no começo, com explorações em busca de vida, fontes de água, minérios valiosos, combustível. O solo foi fertilizado e plantações surgiram. As jovens começaram a engravidar, e logo tivemos os primeiros bebês nascidos em solo marciano. A vila Carter logo se tornou cidade, e em seguida capital, após o surgimento de novas cidades com a vinda de novas expedições terrestres.

O problema aconteceu quando os Estados Unidos começaram a exigir que nossas riquezas naturais fossem enviadas à Terra com cada vez mais frequência. A população de Marte, que descobrira e retirara do solo ouro, prata e pedras preciosas, não ficava com quase nada, já que tudo ia para satisfazer os caprichos do imperialismo interplanetário.

Foi quando a população marciana começou a protestar e a se rebelar. Alguns grupos foram montados, inclusive eu montei um, batizado depois de Resistência Vermelha. Logo os protestos começaram a ser proibidos, então nos reuníamos clandestinamente.

Um dos grupos aliados a nós, chamado de Revolução Marciana, era mais radical, e se armou para enfrentar a polícia. Eles organizaram alguns atentados, roubaram minas e depósitos de ouro e distribuíram entre os mais pobres, tudo em nome da revolução. Mas o preço pago por isso foi caro demais. Havia um traidor no grupo, e todos foram presos. O governo agiu com rigidez e condenou-os à morte. As leis foram mudadas e a partir daquele momento qualquer um que se opusesse ou conspirasse contra o governo seria executado.

E foi assim que a Resistência Vermelha acabou. O governo ofereceu recompensas pela minha cabeça, e poucos dias depois fui preso. Me torturaram de todas as maneiras imagináveis, esperando que eu dissesse algo sobre o paradeiro dos outros membros do grupo. Quase morri tentando defende-los, por mais que eu imagine que foi um deles que me colocou nessa situação, mas não delatei nenhum dos meus companheiros.

Estou aqui na minha cela, com a cabeça raspada, cortes e ferimentos profundos na pele, algumas costelas quebradas, mas estou vivo, pelo menos até terminar esta carta. Mas não me arrependo dos meus atos; se pudesse escolher, faria tudo de novo.

Espero que alguém consiga fazer aquilo que não conseguimos, que é tornar este nosso planeta uma nação independente da Terra. Espero que um dia o povo daqui consiga usufruir das riquezas que temos sem precisar pagar tributos a um planeta explorador e egoísta. Espero sinceramente que Marte consiga viver em paz, sem se preocupar com a opressão terráquea.

Ouço passos no corredor. Pouco antes, ouvi um estouro mas não dei muita atenção. Estou pensando que pode ser algum condenado sendo executado, ou então (e aqui falo mais com esperança do que crença), meus companheiros invadiram a prisão e vieram me libertar. Doce ilusão... Como se fosse possível invadir este lugar... Mas...

Os passos se aproximam. Preciso guardar esta carta antes que abram a porta...

Thiago P Pinheiro
Enviado por Thiago P Pinheiro em 24/08/2015
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