Liberdade vigiada

"Agente da condicional, você está aí?"

Estava sentado no alto de uma colina, sob uma árvore, de onde podia ver todo o vilarejo abaixo, dormitando ao sol da tarde junto a um rio preguiçoso.

A resposta tardou algum tempo, durante o qual ele julgou estar só novamente. E então, ouviu uma Voz, clara em sua mente:

"Olá, Aldrick. Pronto para a lição de hoje?"

"Sim", pensou ele. "Ontem você me disse que estou aqui para ajudar as pessoas. Mas como posso fazer isso se sou só um garoto de 12 anos?"

"Tudo a seu tempo, Aldrick. Ninguém nasce pronto. Mas você tem um dom, e é preciso desenvolvê-lo. Você é capaz de sentir as Barreiras. Em breve, poderá vê-las".

O garoto estremeceu. Nunca havia contado aquilo a ninguém, embora suspeitasse que sua mãe soubesse. Afinal, era sua MÃE.

"As pessoas têm medo de falar sobre as Barreiras aqui. Foram erguidas por Deus para nos defender dos nossos inimigos", murmurou mentalmente ele.

"Ou para isolá-los do mundo exterior? O certo é que as Barreiras criam um labirinto sobre esta parte do mundo. O porquê de ser assim, é assunto para futuras conversas. No momento, tudo o que você precisa saber é que tem um dom que lhe permitirá ver as Barreiras. E, quando estiver suficientemente treinado, será capaz de atravessá-las".

Aldrick sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha.

"Isso seria... mágica. Por muito menos, já vi gente sendo apedrejada até a morte!"

"Morte", repetiu o agente da condicional com menosprezo. "Esse talvez seja o motivo menos importante de preocupação para você. É com a vida que tem se preocupar".

E em tom casual:

"Onde está a barreira mais próxima, poderia me dizer?"

Aldrick olhou ao redor. A floresta às suas costas parecia adormecida, fora algum estalar de graveto ocasional ou o pio de um pássaro oculto entre as ramagens. Pôs-se de pé e apontou para a sua esquerda.

"Há uma bem ali, cerca de dez varas de distância. Ela desce pela encosta da colina e vai até o limite da mata, na beira do rio".

"Prove", espicaçou-o a Voz.

O garoto agachou-se e pegou uma noz caída no chão. Caminhou cautelosamente pelo topo da colina até chegar a um ponto onde a vegetação se adensava. Finalmente, fez pontaria e atirou a noz para a frente. Ela pareceu bater numa parede invisível e caiu ao solo.

"Muito bem", aplaudiu mentalmente a Voz em sua cabeça.

[16-05-2016]