Os Sobreviventes III

Enquanto lavo as mãos como aprendi na faculdade imagino se fiz tudo direito, repasso mentalmente todos os passos para retirar um projétil incrustado em um osso. Minha sorte foi que o José estancou o sangramento e não se intimidou de me ajudar na cirurgia. Lívia quase desmaiou ao ver o sangue e nem quis entrar na sala de cirurgia. Ficou vigiando se os caras com os trajes espaciais iriam nos achar. Agora a Carol está dormindo, sedada, não sei se o sedativo que dei pra cirurgia foi muito, não estudei para ser anestesista, espero que ela esteja bem.

José tenta me animar dizendo que fui muito bem, mas tenho minhas dúvidas. Se ele soubesse que nunca quis ser médico, que não prestava realmente atenção nas aulas e pretendia sair da faculdade e só não saí porque as pessoas começaram a morrer aos montes e precisavam de toda ajuda possível. Só entrei para a faculdade de medicina para agradar meu pai que deu muito duro para que tivéssemos dinheiro o suficiente para que eu me tornasse doutor. Na verdade eu queria ser ator, cantor, dançarino, qualquer coisa que fosse criativa e me fizesse brilhar.

Demorei o máximo que pude para ir ver se a Carol estava bem, dei uma volta demorada em todo o hospital, chequei o estoque de medicamentos, peguei os remédios que ela iria precisar, dei uma olhada na cozinha, saímos tão rápido da pousada que não levamos comida nenhuma, logo iríamos precisar. Achei algumas coisas, quase nada. Procurei as máquinas de salgadinhos, doces e refrigerantes que tem aos montes em hospitais e peguei um estoque dessas bobagens e não tendo mais nada para fazer, voltei para o quarto. Tomara que ela esteja acordada, tomara, fiz uma oração mental.

Cheguei no quarto e a primeira coisa que vi foi que ela ainda dormia. José e Lívia estavam sentados no sofá ao lado da cama e pareciam conversar algo muito importante e íntimo que logo foi abafado quando notaram a minha presença. Verifiquei os sinais vitais da Carol e fiquei muito aliviado em perceber que estava tudo bem, mas não gostei da aparência dela, estava branca demais e não parecia estar dormindo e sim em coma, não queria me desesperar ainda, iria me sentar, distribuir meu estoque de salgadinhos e esperar.

Continua...

Indico a leitura da interação de meu amigo Aristóteles da Silva, vamos juntar os textos no final da série:

http://www.recantodasletras.com.br/contosdeficcaocientifica/5690792

Priscila Pereira
Enviado por Priscila Pereira em 16/07/2016
Código do texto: T5699519
Classificação de conteúdo: seguro