Viagem ao centro de mim mesmo

Eu havia conseguido. Depois de muitos anos tentando pude obter êxito, e com este feito posso saber a verdadeira história de tudo o que eu quiser; a máquina funciona, e posso viajar no tempo, passado ou futuro, a qualquer momento.

Vou direto na origem de meus questionamentos e minha existência, vou logo voltar dois mil anos atrás para encontrar aquele que dividiu nosso calendário em antes e depois. Confesso que estou muito ansioso e com medo do que eu possa encontrar, sempre fui uma pessoa com muitas dúvidas quanto a minha fé, e ter a possibilidade de viver o que ocorreu segundo as descrições do livro sagrado é sufocantemente excitante!

Iniciei os preparativos, chequei as coordenadas, adentrei a cabine ainda com muito sono de uma noite mal dormida devido a imensurável ansiedade, vesti o capacete, sentei-me, respirei fundo e apertei o botão para iniciar o processo de arremesso do tempo; uma vibração começou lentamente e foi se intensificando, se intensificando, ficou muito forte a ponto de quase me lançar da cadeira, uma luz branca com feixes negros começaram a surgir, e as cores foram se fundindo, um zunido agudo agora começa a penetrar meu ouvido e não posso ouvir mais nada além daquele som ensurdecedor, e então, tudo cessa. Ao abrir os olhos, impressionei-me com o silêncio do lugar, abri a cabine, olhei ao redor e não havia ninguém, então empurrei-a até pedras próxima dali, e a camuflei para que não fosse descoberta, coloquei sete pedras segurando algumas longas folhas para que o vento não as derrubasse, revelando então a máquina. Caminhei por algum tempo em terras que jamais havia visto em local nenhum, até que avistei um vilarejo, aproximei-me e perguntei:

- Olá. Poderiam me dizer onde encontro Jesus?

O homem que estava sentado em uma velha cadeira, me olhou, analisou a roupa que eu estava a vestir, que embora eu tivesse tomado o cuidado de ir trajando roupas a qual eu ouvi dizer que usavam naquela época, o tecido não poderia ser o mesmo, a fabricação não poderia ser a mesma, ele continuou a me olhar sem nada responder.

- Você conhece Jesus? Jesus de Nazaré?

Então o homem disse:

- Se estiver procurando por Jesus, filho de José e Maria, ele está trabalhando em sua casa. Continue a andar nesta direção, e chegando naquele poço, vire à direita, ande mais um pouco e logo avistará a casa onde Jesus mora.

Quando ouvi ele dizer que Jesus estava logo ali, por dentro estremeci, travei por alguns momentos, agradeci o homem e caminhei até o local informado. Me aproximando da casa pude ouvir batidas, o que pareciam ser de um martelo, assim que cheguei perto de uma baixa cerca de madeira, avistei rapaz de vinte e poucos anos com um martelo em punho pregando e construindo o que visto de longe representava ser uma cruz, então o chamei pelo nome:

- Jesus?

- Sim, sou eu, posso ajudar?

Eu não sabia o que falar, e o que pedir, então fui direto ao ponto:

- Venho de muito longe, talvez você saiba quem eu sou, talvez não, mas eu sei quem você é.

- Não lembro de ter visto seu rosto, de que lugar vem você?

Confesso que fiquei frustrado por ele não saber quem eu era e de onde eu vinha, essa seria a resposta que eu aguardava, mesmo não sendo específico, se fosse Jesus filho de Deus, ele saberia, e quando fui me despedir, encabulado, alegando que o confundi e que não passava de engano, que seria por outro Jesus que eu estava a procurar, o menino disse:

- Pergunto de que lugar você vem e nada me responde? Você veio a mim. Todos temos perguntas, pode fazer a sua.

- Você não acreditaria.

- Já ouvi muitas histórias, apesar de minha pouca idade, mas deixe-me contar uma breve. Hoje mais cedo eu vi um grande clarão na vila próximo as pedras, e um objeto brilhante que se apagou aos poucos, e então um homem de lá saiu. Eu fiquei a observar, vi onde ele escondeu este objeto, uma máquina, e assim que ele se distanciou, fui até lá e entrei nessa máquina, e de repente tudo ficou branco, senti um calor escaldante, meu corpo suava muito, mas logo o calor se dissipou, e vagarosamente pude abrir os olhos. Saí da máquina, notei a minha direita uma mesa feita de madeira, com detalhes interessantes, vi também uma parede com objetos fixados, entre eles alguns me chamaram atenção, um homem pregado em uma cruz, com uma expressão de dor, sofrimento, e o outro objeto era um quadro, branco, com um negro ponto de interrogação no centro. Estes dois objetos abraçavam-se, e eu fiz duas comparações a estes objetos, a qual me levaram a dois questionamentos, a qual faço a você, talvez o objetivo de sua visita até mim, não seja esperar uma resposta, e sim ouvir uma pergunta. Sem mais me estender, lhe pergunto. Ali naquela parede, retratava a incerteza da existência daquele homem crucificado, ou era o oposto, aquele homem em seus últimos suspiros, se questionava se tudo o que fizera fosse certo, se estava morrendo por alguma causa, ou por alguém que reconheceria aquele ato, que perpetuaria a brava luta que travou o bom homem que chegou ao ponto de dar a própria vida para alcançar seu objetivo, será que a esperança de um novo mundo abalara-se, será que aquele homem percebeu em seu último momento que duvidariam de tudo o que fez e por que o fez?

Fui tomado então por uma sensação inexplicável, minha cabeça começou a esquentar, fitei-o com espanto.

- Não precisa responder. E não se preocupe quanto a sua máquina, deixei-a no mesmo lugar. Vá em paz meu irmão, espero que tenha conseguido o que queria.

Balancei a cabeça fazendo um sinal de tudo bem, já vou indo, dei alguns passos para trás, me virei e caminhei olhando para o chão, sem pensar em nada, acreditem, não estava conseguindo pensar em nada, a máquina estava no mesmo lugar, com as mesmas sete pedras dispostas da mesma forma que deixei. Removi as folhas, entrei, e retornei aos tempos atuais, para meu laboratório. Chegando, olhei para a parede, e ao olhar para a mesa havia um papel com uma caneta, e algo estava escrito neste papel, me aproximei para ler e o que li, me deixou estupefato, envergonhado, não porque as palavras estavam escritas com o intuito de me envergonhar, e sim por me fazer refletir quem sou, e pelo que a humanidade se tornou.

Maicon Moso
Enviado por Maicon Moso em 07/09/2016
Reeditado em 07/09/2016
Código do texto: T5753796
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