AS 26 terras -capitulo 1 Terra 6.

Prologo

A terra quebrou a barreira da luz!

Foi a descoberta que mudou tudo. Foi o começo da era espacial.

Naves com velocidades 5 x a da luz e gravidade artificial tornaram as viagens espaciais confortáveis. Por dois mil anos a terra vou; encontrando vários mundos, alguns habitados com vida inteligente outros não. Não havia gloria maior do que ser explorador, não havia criança que não sonhava em se atirar no espaço e conhecer mundos novos, criaturas novas.

Terráqueos colonizaram 26 mundos. Nomeados de terra 1 a primeira descoberta sucessivamente até terra 26 a última. No início a terra ajudou as outras terras a se estabeleceram. Porem tudo fugiu ao controle na terra 15, revoltas e guerras; a terra acabou por explodir a terra 15, então por algum motivo a terra mãe se retirou. Parou com a ajuda e se fechou. Ninguém conseguia alcança-la. Todas as naves que entravam no sistema tinham a força exaurida. As 26 terras estavam por conta. E sem a terra mãe tudo mudou. A relação dos planetas minguou, as terras mais baixas não acompanharam o desenvolvimento das mais antigas e logo existia um abismo entre elas.

Capitulo 1: Terra 6.

Roberta Lopez vivia em um mundo bom. Não lhe faltava nada. Tinha comida abundante, agua, educação, trabalho e saúde. Porem por onde passava as cabeças viravam em sua direção e as bocas sussurravam nos ouvidos mais próximos: “vejam aquela é a aberração”

Por mais que Roberta já vivera essa situação isso sempre a incomodara. Por 40 anos ela vivera nesse mundo, de dedos apontados de olhares soturnos. Mas agora no seu quadragésimo primeiro aniversario daria um fim a isso. Decidiu em uma noite chuvosa, quando os relâmpagos cortavam o céu sem clemencia, impondo luz a escuridão mesmo que por alguns milésimos de segundos, o som trazia medo que despertava algo dentro de cada ser, era como se o medo mexesse na essência da vida trazendo a para a superfície da alma, nos lembrando que ainda a temos. E foi nesse momento que Roberta decidiu que não queria mais ser vista como um erro sem explicação, como uma falha ou aberração. Queria viver e ser vista como uma pessoa, e para isso ser possível só havia um jeito. Deixar o seu planeta. Deixar a terra 6. Olhou se no espelho. Cabelos castanhos escuros, olhos negros pele latina. Era uma mulher bonita. Tudo certo, como os geneticistas escreveram uma mulher latina da terra mãe. Rosto simétrico, boca carnuda, dentes brancos, perfeitos. Exceto uma única coisa, pela qual ficara conhecida. Pela qual os dedos apontavam, pela qual tirou o sono de muitos geneticistas, programadores de DNA, selecionadores de biótipo.

Sua altura.

O povo da terra 6 que se orgulhava de ser o planeta onde as fronteiras da genética foram extrapoladas, onde a terra mãe investiu tudo em medicina e melhoramento do corpo. Onde todo a população é devotada a religião do DNA.

A mais de quinhentos anos não nasce uma única criança que não seja escolhida e programada. Suas doenças retiradas, sua aparência perfeita. Todas menos Roberta. Nem um único homem mede menos e nem mais que 1,92 e nem uma única mulher mede menos ou mais que 1,80, exceto Roberta, com seus 1,68 o que a torna uma aberração. Uma constante falha cuja geneticistas procuraram a razão freneticamente por ela não ter atingido o seu total potencial, sendo que as condições de desenvolvimento eram as ideais. Uma falha até então sem explicação o que causa um certo alarme geral. Roberta é um lembrete vivo dessa falha e mais que isso, um lembrete em carne e osso que a cada respirada pode se repetir, a próxima criança a não conseguir atingir o total potencial pode ser a sua.

No sofá da sala um homem sentado de cueca branca, corpo malhado, cabelos negros, epiderme escura, rosto quadrado simétrico, e dois lindos olhos verdes brilhantes.

Ao vê-lo Roberta assusta se e em desaprovação fala:

-Luke o que diabos faz aqui?! E por que não veste uma calça!

- Me sinto bem assim, e afinal por que esconder isso. – Mostrou para o seu abdômen perfeito.

- Santa base nitrogenada...você precisa parar de andar com esses puritanos. Só por que o genoma resulta em um fenótipo perfeito, não quer dizer que pode andar pelado por ai.

- Na verdade pode sim.

-Não. E você sabe disso.

Luke riu. Os dentes perfeitos. Um sorriso lindo.

-Minha irmã, sei o que está planejando.

-Como pode saber de algo se vive enfornado no trabalho ou com os puritanos.

-Sabe que eu odeio aquilo. Você mais que ninguém sabe que odeio viver preso atrás de um computador. Sabe que o que amo é cozinhar.

-Sei disso. Me perdoa- ela sentou-se ao seu lado- mas pelo menos você pode escolher o seu emprego em uma lista de 5.665 oportunidades, já eu por causa do meu defeito tinha 3.

Ele a abraçou e falou:

-Acho você perfeita com seus 1,68.

-Só você.

-Você sabe que o que mais irrita os geneticistas não é o fato de você não ter os 1,82 programados, mas o fato, de não saberem o por que não os atingiu é a pergunta sem resposta que os incomoda como um espinho, que fica lhe furando e você sabe que ele está lá, mas não consegue ver.

-Que se danem, passei meus 40 anos sendo julgada por algo que não tive escolha. Algo tão idiota. Mas isso acaba. Quando completarei 41 anos irei embora. Consegui comprar minha nave. E ela está pronta.

Fitou Luke com um misto de entusiasmo e orgulho. Ele falou:

- Eu sei. Por isso estou aqui. Quero ir junto.

Ela o olhou somente como uma irmã consegue olhar o irmão mais novo. Com afeto genuíno e aquele toque de preocupação, de bem querer envolto em cumplicidade. Falou com carinho:

- Luke....irei para o espaço....sabe o que nosso povo pensa disso. O que nos foi ensinado na escola deste sempre. Lá fora, é uma bagunça. Escuridão, morte, pessoas más e nada de bom existe, não tem nada para nos lá. Tudo o que precisamos está aqui, dentro de nós, no nosso DNA, o universo está aqui. – Apontou para si mesma- são contra deixar o planeta.

- Eu sei disso, mas não podemos nos esquecer que viemos da terra, e se não fosse os terráqueos se lançarem ao espaço, não estaríamos aqui agora.

- Isso faz tanto tempo, nossa cultura é tão diferente que creio que a única coisa que ainda temos em comum é a anatomia, e se continuarmos avançando na genética, logo nem isso teremos.

- Não é verdade. Ainda conservamos essa certa loucura, essa ousadia de ver de provar coisas desconhecidas. Olhe para nós.

-Luke você é perfeito.

- Por fora. Por dentro não. Me desviei do meu comportamento. E tenho certeza que existem muitos outros como nos. Temos que deixar de viver a nossa vida como a sociedade quer e começar a viver como nós queremos. E eu quero ser cozinheiro. Sei que enquanto estiver nesse planeta isso será impossível. Eles nem se quer acreditam na culinária, só em porções balanceadas e em rações nutricionais. Onde fica o paladar? Onde fica a criatividade?

Fitam se nos olhos. Roberta fala:

- Irei montar uma tripulação. E teremos um único objetivo. Vivermos como queremos e ajudar a quem se encontra em dificuldades.

- Para mim parece bom. Só vejo um problema. Como iremos nos manter e manter a nave?

- Luke nunca vi alguém ser ajudado e não querer retribuir. E se for gente com grandes recursos poderemos por uma taxa. Mas sempre aceitaremos se o trabalho for digno, isso é se beneficiar as pessoas. Não somos piratas ou mercenários.

- Para mim está bom. A nave já tem nome?

Roberta sorri e fala:

-Peregrina.

-Não poderia ter escolhido nome melhor. Irei com você.

-Mas saiba que serei a capitã terá que me obedecer.

-como irmão mais velho eu sempre tive que obedece-la; isso não será problema.

Roberta riu.

- Então amanhã pegaremos as rédeas de nossas vidas nas mãos e se nos dirigiremos rumo ao precipício não poderemos pôr a culpa em ninguém além de nós mesmos. Por que assim que deixaremos a terra 6 seremos donos de nossas vidas.

- Sabe quando penso na explosão de sabores, cores, aromas e texturas que existem lá fora, só esperando para serem devidamente preparados e degustados. Ficarei feliz em nunca mais precisar abrir uma lata ou caixa disso que chamam de comida.

- Na verdade chamam de alimento nutricional completo. Mas sei o que quer dizer. Sabe o que tive ajuda do governo para a comprar da nave.

Luke a olhou com incredulidade:

- Mas você mesmo disse que não apoiam a exploração espacial.

- E não apoiam. Sabe o que acho, que me ajudaram só para ver o erro deles desaparecer na vastidão do espaço. Acho que pela primeira vez posso dizer que o meu defeito me ajudou.

valmi
Enviado por valmi em 27/11/2016
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