CONTACTO VIOLENTO

Contacto Violento.

Os veículos marcianos quase não se enxergavam na escuridão.

O Engesa partiu atrás deles com os holofotes acessos e homens trepados em cima com bazucas, mas a ordem não era atirar, senão não perdê-los de vista.

Os carros marcianos, deslizando a grande velocidade sobre lagartas de um metro de largura, eram semelhantes a tratores antárticos.

Estavam pintados de cor vermelha escura; cinza e verde escura; de forma a camuflar-se no areal e na floresta.

Parecia incrível, mas o Engesa, após aproximar-se deles a menos de 50 metros, logo ficou para trás. O Auto-N com os holofotes ligados, passou como uma rajada de vento pelo Engesa, cobrindo-o de pó vermelho. Pelo rádio ouviu-se a voz de Aldo:

–Deixem conosco, agora são nossos! Fechem o escudo no acampamento e preparem a defesa. Deixem uma nave de prontidão!

Os marcianos chegaram à floresta e se camuflaram, ficando quietos. O Auto-N aproximou-se da floresta. Elvis parou o veículo e largou os controles.

–Desapareceram. E este treco não entra aí – murmura.

–Impossível, estão perto, sem fazer barulho para passar despercebidos – disse Aldo ajustando o infravermelho do seu visor.

–Uns disparos de bazuca os farão sair – disse Marcos.

–Ainda não, espere um pouco... Ah! Estão lá! – disse Aldo ligando o escudo.

Brilhou uma luz púrpura e ouviu-se uma detonação, o veículo se estremeceu.

–Quê foi isso? – gritou Marcos

–Acertaram-nos – disse Aldo – mas vi de onde veio. Desligue o escudo.

Aldo pegou a bazuca e atirou.

O projétil explodiu, sacudindo brutalmente o carro marciano; abrindo-lhe um buraco na parte traseira e virando-o pela força do impacto.

Ficou de frente para os antárticos.

Sem dar tempo a nada, Marcos colocou outro foguete, Aldo apontou e disparou. O disparo entrou no pára-brisa, atravessou a porta interior, saiu pela porta posterior e bateu numa árvore; explodiu e fez a árvore cair sobre ele, afundando parcialmente o teto.

Para ver-se livres da árvore, os marcianos ligaram o motor, mas ficaram presos entre a árvore caída e as outras. As lagartas arranharam o solo sem resultado.

–Já são nossos! – disse Aldo, atirando pela terceira vez.

O terceiro entrou pelo pára-brisa e explodiu dentro; fez voar o teto e parte do lado esquerdo da máquina. Quando Aldo apontou por quarta vez, agora com bom ângulo e iluminado pelos holofotes, abriu-se pela direita uma portinhola e por ela saíram três marcianos feridos com as mãos em alto.

–Ganhamos. Elvis, fique no carro, Marcos, venha comigo.

Aldo e Marcos aproximam-se. Nos microfones externos dos capacetes ouviram os marcianos lamentando-se no seu idioma. Por gestos, Aldo indicou-lhes que tirassem os cintos. Eles obedeceram e Marcos recolheu as armas.

Aldo ouviu gemidos no interior do carro e introduziu-se no carro e viu um deles, desesperado de dor com uma perna presa por uma viga metálica. Aldo chamou por gestos um dos prisioneiros e este entrou.

Com uma mão levantou a viga e com a pistola fez um gesto ao outro marciano que percebeu que devia ajudar a tirar seu camarada da incômoda posição.

O marciano retirou o ferido e examinou a perna deste. Aldo percebeu que era uma fratura e mandou o marciano levar seu amigo para fora.

Logo chegou o Cascavel da Polaris, com uma dezena de homens em cima, armados com armas leves.

–Vejo que dominou a situação, capitão – disse Luis.

–Chega a tempo. Temos um prisioneiro ferido. Vamos levá-lo!

Os homens colocaram o ferido no Auto-N e partiram para o acampamento com os dois marcianos feridos levemente, para que recebam atendimento médico. Aldo e Luis, com ajuda dos tripulantes deste, engancharam o Cascavel ao carro marciano e o tiraram da floresta.

O marciano restante ligou o motor que ainda funcionava. Logo partem para o acampamento.

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Hóspedes.

Seis homens vigiam os marcianos sentados ao lado de um dos alojamentos, enquanto o Dr. Klinger recoloca o osso quebrado do prisioneiro no lugar e coloca uma tala.

Uma garagem foi preparada para alojar os prisioneiros. Os antárticos, habituados ao trabalho no espaço e na Lua, onde treinaram; estavam em seu elemento.

–Vai ficar bom. É um cara forte e a gravidade ajudará. Seus companheiros saberão como cuidá-lo. Mandou construir camas para eles?

–Sim, Só não sei que lhes dou de comer.

–Procure no carro, deve ter alguma coisa lá dentro.

Aldo e Marcos entraram no carro que tinha horríveis destroços.

–Há latas escritas – disse Marcos, remexendo na bagunça.

Por lógica, deduziram que era alimento, já que num armário alto destroçado havia outras com os mesmos caracteres, que pareciam semelhantes no conteúdo.

–Há galões de água. Um está vazando. Leve isso para ver se é comida e água do consumo deles.

A comida e a água dos marcianos e os mantimentos existentes do carro foram trazidos à garagem.

–Mas e a água, Aldo? – disse Marcos – não há muita.

–Podemos trazer mais do outro lado do canal, dos mananciais; ou também podemos oferecer a nossa, que pode ser mais pura.

*******.

23 de maio, ao pôr do sol.

A naves antárticas, Ares I e Ares II; já em órbita, solicitam permissão para aterrissar no Ponto de Apoio.

Aldo entra em contato com a Ares I, ilumina-se a tela do terminal e aparece o semblante jovial e sorridente do coronel Daniel Marín, o líder dos pilotos da FAECS.

A surpresa e a alegria de Aldo não têm limites ao ver seu ex-colega da Academia Espacial Militar Antártica.

–Daniel...! Não acredito! Não lhe esperava antes de novembro!

–Resolvemos fazer-lhe uma visita antecipada, junto com Alfredo.

–Alfredo Solís está com você?

–Sim, na Ares II. Estamos soltando os contêineres.

–Mas... Quê dupla de loucos! Desçam de uma vez!

Vinte minutos depois, as duas naves tomam pista, não sem antes fazerem um monte de temerárias acrobacias aéreas à baixa altura sobre o acampamento antártico, como se fossem simples caças num circo aéreo, deixando todo mundo no Ponto de Apoio com a adrenalina à flor de pele. Vinte homens desceram das naves e foram recebidos efusivamente no alojamento principal.

Daniel e Alfredo portavam duas caixas de cerveja em lata, que com o frio ambiente, ficariam na temperatura adequada uma vez dentro do alojamento. Enquanto os tripulantes confraternizavam, encontrando velhos camaradas e amigos, os capitães Elvis, Andrés, Luis, Daniel e Alfredo, se reuniam com Aldo ao redor de uma mesa, na frente da cerveja recém desembarcada. Depois de um trago, Daniel disse:

–A coisa está esquentando por lá. O poder do Grande Irmão está descomunal, mas ainda não conseguiu nos dobrar.

–E o povo?

–O povo está comparando, Aldo. Sob o domínio dos Treze malditos, as cidades fedem de sujeira, de ratos, baratas, mendigos, degenerados e criminosos. Parece que não saiu como Eles queriam.

–Em nosso domínio – disse Alfredo – estamos limpos, alimentados e sadios.

–Também não sei até quando – acrescenta Daniel – Os alimentos começam a faltar em algumas regiões.

–E Antártica?

–Aí é que está o problema, Aldo – disse Daniel – Exportamos alimento para os países que nos apoiam.

–Mas não podemos ser o celeiro do mundo!

–Claro que não! Os hidropônicos de Neu Schwabenland, no subsolo da Terra da Rainha Maud, não são suficientes – afirmou Daniel.

–Precisamos abastecer a Lua e a nós mesmos – intervém Alfredo.

–De todas maneiras Argentina Sul, produz o suficiente para manter-se, e Chile e Uruguai também – disse Daniel.

–No hemisfério norte, e em alguns países da América e África, não se cultiva mais a terra, o povo está indo às cidades para morar em favelas – disse Alfredo.

–Por quê? Pelos impostos? Preço dos insumos? Falências?

–Tudo isso que citou e ainda mais, Aldo – interveio Daniel – Os malditos tiranos não são de trabalhar a terra senão de explorar os que a trabalham. E a população ignorante não o faz porque quer assemelhar-se aos dominadores, os trouxas querem ostentar a Marca para ter ilusão de estarem integrados, globalizados. Acham o máximo. Mas nós sabemos o que lhes acontecerá depois. Não é Alfredo?

–Servirão de pasto dos tiranos quando precisarem de peças de reposição.

–E como está a Lua? – perguntou Aldo.

–Com Max Guerreiro, a coisa começa a melhorar. Em um ano, a Lua não precisará importar alimento nem água. Estamos explorando as fontes de gelo lunares da região Sul, e as fontes sublunares do Circus Clavius. Valerión mandou levar todo o material estocado em Port Armstrong numa caravana de veículos para a nova base perto de Clavius, onde há gelo subterrâneo. Aí foram montadas as fábricas de vitrotitânio e combustível – disse Daniel.

–Quando partimos; Valerión estava indo para a base da Cara Oculta.

–Sim. Aí fabricará naves e armamento nuclear para Max Guerreiro. Cara Oculta está fora do alcance de mísseis inimigos.

–Devia imaginá-lo. É a única maneira de Valerión trabalhar produzindo para nós sem ser molestado.

–Max está colocando gente selecionada de Antártica, Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, dando preferência a casais jovens, de boa saúde geral, com um ou dois filhos.

–Isso é perigoso – disse Aldo – pode dar lugar à infiltração inimiga. Sabes que eles sempre têm boa saúde e aparência, Daniel.

–Não há problema, Aldo. Depois de pegar os traidores e os infiltrados dentro de Antártica, começamos a admitir pessoas com base no genoma. Não há a mínima possibilidade de entrar alguém cujo DNA não confira com nossa base de dados.

Aldo estava maravilhado.

–Finalmente conseguiram? Mas o inimigo deve tê-lo também...

–Não. – Daniel foi lacônico – Além de roubar o segredo do Projeto Genoma, o Esquadrão Shock matou todos os cientistas inimigos envolvidos no projeto deles.

–Mataram? – Aldo estava apavorado.

–Não se perdeu muito, acredite – disse Daniel – todos aqueles malditos cientistas eram da classe dominante; inúteis e perigosos para nós.

–Além do mais – interveio Alfredo – o Esquadrão destruiu os computadores após pegar os dados. Destruiu as redes de base de dados que não pôde roubar com vírus e logo depois soltou na rede o vírus mutante fabricado pelo nosso agente na Islândia; dinamitou e queimou os laboratórios, após matar os cientistas, é claro.

–O Esquadrão extrapolou desta vez – disse Aldo.

–Você não sabe nem a metade do que o Esquadrão já fez, Aldo – disse Daniel empolgado – Isto tudo, nós devemos ao Esquadrão Shock, direta ou indiretamente.

–Eles sangraram para que Antártica fosse realidade e que ainda estejamos vivos e livres em Marte, em vez de escravos da ditadura maldita – disse Alfredo.

–Realmente pouco sei deles, Alfredo.

–Geralmente ninguém conta nada dos bastidores aos astronautas, Aldo.

–Mas por quê?

–Acham que somos valiosos demais para ocupar nossas cabecinhas com outra coisa que não seja nossa missão – interveio Daniel – Mas nós sabemos alguma coisa sempre, por meio dos camaradas da Inteligência.

–A luta do Esquadrão Shock para dar-nos a liberdade e o espaço sideral, algum dia será contada, pode crer, Aldo – disse Alfredo – Talvez pelo próprio Valerión.

–Valerión foi membro do Esquadrão – acrescentou Daniel – Em 1998 ele roubou e decifrou o código deles, e aí tudo começou.

Aldo estava empolgado como uma criança com brinquedo novo ao descobrir que seu admirado mentor, Valerión, fora integrante do famoso Esquadrão Shock.

–Ah...! Eu tinha nove anos! Quero saber mais, mas ninguém me conta nada!

–Outro dia, Aldo – disse Alfredo, muito mais interessado no momento e no lugar que estava vivendo.

–Cretinos! Despertam minha curiosidade e depois jogam baldes de água fria! Querem me manter numa redoma?

Aldo estava realmente alterado, detestava o fato de que muitas coisas realmente importantes sobre a Causa, eram ocultadas dos astronautas de primeira linha, como ele, que tanto tinha feito. Achava que tinha ganhado o direito de entrar no rol dos iniciados. Por isso acrescentou:

–Tenho direito de saber sobre o passado, acho que ganhei esse direito ao vir aqui e fazer o que fiz em prol da Causa!

–Não precisa irritar-se, Aldo – disse Daniel – nós apenas sabemos um pouco mais do que você sobre isso. Alfredo só disse o pouco que conseguimos descobrir.

–De terceira e quarta mão, se quer saber – disse o aludido.

–O mais indicado é Valerión – prosseguiu Daniel – Ele sabe tudo, conhece o Líder, ajudou a fundar o grupo e foi membro dele. Nunca notou uma pequena cicatriz que Valerión tem na têmpora direita?

–Notei.

–Foi numa missão em Buenos Aires em 1998.

–Ele foi ferido e sequestrado por um bando de mendigos que queriam vendê-lo para o Banco de Órgãos – interveio Alfredo.

–Não estão brincando comigo?

–Não. Quem o salvou foi um gigante austríaco chamado Alois Stülpnagel, mais conhecido pelo codinome de “Trovão”.

–Claro que ouvi falar do “Trovão”!

–E o Darlán, a Liza, e o Syd? – perguntou Daniel.

–Claro! – respondeu Aldo – São lendários... Syd o homem das facas, Liza, a mulher das armas leves, Trovão, o homem das armas pesadas, Darlán, o perito em informática... Sabiam que ele foi aluno de Thorwold Igmar Stefansson, pai da Inge?

–Darlán foi aluno dele? Do homem que criou o IS-TRES, o sistema antártico de Informática, superior ao MSDOS, ao Windows, ao McIntosh, ao Linux...?

–Foi. Ele foi assassinado pela ditadura por isso, Daniel.

–Você vê Aldo, por isso, foi possível que hoje estivéssemos aqui – completou Alfredo – Se Valerión tivesse morrido naquela ocasião, adeus Projeto Selene, adeus Projeto Marte. Estaríamos trabalhando para a ditadura ou mortos.

–É mais provável o último – disse Daniel – Depois de escapar dessa, Valerión bolou o Projeto Atlantis. O sequestro do ônibus espacial.

–Ah!... Sei. – disse Aldo lembrando do codinome da operação – Se não fosse por isso, não teríamos construído as naves da classe Selene, nem teríamos ocupado a Lua bem na cara deles, nem estaríamos agora em Marte.

–Sem esquecer a captura dos submarinos nucleares – disse Daniel.

–Sim, amigos. De uma forma ou de outra, talvez devamos nossas vidas como elas são atualmente, ao Esquadrão Shock – disse Alfredo.

–Bebamos a isso – disse Daniel – Ao Esquadrão Shock!

–Sim – disse Aldo – vamos beber ao Esquadrão Shock!

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Continua em: CONQUISTADORES

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O conto CONTACTO VIOLENTO - forma parte integrante da saga inédita

Mundos Paralelos ® – Fase I - Volume I, Capítulo 4; páginas 66 a 70; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 05/12/2016
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