[Universo ID] Identidades : Dr. Benjamim Benji

Há uma nova perspectiva em meio aos meus devaneios noturnos. Eu diria que, para um doutor nos comportamentos terrenos, meu desenvolvimento criativo se dispõe na escuridão e isolamento, afastado daqueles que tanto observo. E, ressalto a importante daquilo que vos falo: a observação é a chave para o meu status.

Porém, como dizia, há uma nova perspectiva. Estava na última tarde, de um dia comum, frequentando a biblioteca central do Instituto Casablanca, quando recebo tal ligação. De inicio sinto-me lisonjeado pelo convite oficial do governo, depois, embrulha-me o estômago em pensar na mudança que deveria fazer. Meu estilo de vida adaptou-se ao clima e rotina da grande cidade. Dirigir-me para uma pequena cidade era devastador. Naquele momento, em meu apartamento frente ao hospital psiquiátrico Maxx, perguntou-me se os prós eram mais satisfatórios que a quantidade de problemáticas que eu conseguia evidenciar.

Deparo-me com um envelope na correspondência, que externamente parecia-me tratar do mesmo convite que me fora feito. De fato, eram as informações do novo projeto governamental "Ressocializar" no qual eu tornaria-me gestor responsável na pequena e remota ilha de Província. Aquela ilha causa-me náuseas: população pequena, poucos investimentos e remotas tecnologias. Talvez a sensação de poder e controle pudessem torna-la um pouco menos aversiva.

Não havia existência de pais, responsáveis ou pessoas que eu amasse na Capital, que eu poderia pedir conselhos ou sentir-me privado. Não. Eu estava por decisão própria, onde a liberdade era uma única saída.

Decidi então chamar Província de novo lar. Mudei-me para uma das poucas coberturas da ilha, em um dos poucos bairros nobres perto de poucos vizinhos amigáveis. Em três meses estava completamente estabilizado na nova cidade, preparado para comandar a implementação do projeto governamental. Tive, não sei dizer a honra, de conhecer o prefeito Otaviano Maia, que muito parecia estar excitado com o novo investimento em sua humilde ilha.

- Então o senhor é o renomado Dr. Benjamim?

- Benji - eu disse - Sim. Considero-me um estudante. Enfim.

- É um prazer, senhor Benji... - aproximou-se de mim com uma das mãos estendidas.

- Dr. Benjamim Benji - coloquei minhas mãos nos bolsos.

- Especialista em modelamento e comportamento humano, completo - uma jovem negra e bem vestida aproximou-se - Suzanne. Eu serei sua assistente no projeto. Acredito que já tenhas informações suficientes do que estamos tentando implementar.

- Finalmente alguém que fale meu dialeto aqui - voltei-me para Suzanne, depois ao prefeito e seus assessores - Senhores, minha licença. Suzanne, vamos?

Ela então sorriu, e, em seguida, serena, voltou-se ao prefeito.

- Deixe que então eu mostre as instalações do prédio ao Dr. Benjamim Benji, senhor prefeito.

- Claro. Doutor, foi um prazer - então retirou-se.

Suzanne começara mostrando-me o prédio absurdamente equipado onde iniciaria meus trabalhos. Eu realmente não entendia o que realmente deveria fazer, mas, ao ler que estaria envolvido com a polícia, crimes e financiado pelo governo, despertou-me interesse em participar.

- Então, por fim, essa será sua sala, doutor - ela abriu a porta, dando-me espaço para adentrar primeiro - Alguma dúvida?

- A teoria multiuniversal é um dilema distante ou estamos caminhando para o que eu chamaria de consciência de vetores?

- Perdão?

- Nenhuma dúvida. Mas, diga-me, Suzanne, qual meu trabalho aqui?

- Finalmente perguntou. Pois bem, doutor, o governo preocupa-se com uma nova medida para diminuir a violência na Capital e nas grandes cidades do nosso Estado. Nós acreditamos que educar pessoas em estado criminoso seja a primeira saída. Então, o Centro Ressocializar é uma medida que atuará em prol dessa educação aos presidiários.

- Entendo. Seria mais fácil vê-los queimar, deixar que seus corpos perdessem a vida sob nossa observação. Poderíamos comer pipoca e assistir.

- Doutor?

- É uma piada. Quais são meus primeiros "voluntários"?

Cinco anos depois...

O projeto Ressocializar tornou-se um sucesso. Província tornou-se, dentre as pequenas cidades, a com maior investimento do Governo para combater a criminalidade. De certa forma, a cidade cresceu e tornou-se atrativa pelo modelo de sociabilização e de segurança. Por hora.

Em uma tarde comum, enquanto estudava o caso do acusado 231, Suzanne adentrou minha sala com um envelope nas mãos.

- Animado para algo grandioso?

- Por favor. Venha, chegue mais perto.

- Tome - entregou-me o envelope - Os investigadores não sabem mais como encontrar.

- Sete assassinatos? Essa pessoa surpreendeu-me.

- Todos com características parecidas: mulheres jovens, regiões distantes, marques de crime similares.

- Algum suspeito?

- Temos alguns nomes, estão sob investigação.

- Desses aqui presentes, um escritor chamou-me atenção.

- Talvez então possamos começar investigando ele. Qual o nome?

- Victor. Victor Bloom.

Neto Gouveia
Enviado por Neto Gouveia em 04/02/2017
Código do texto: T5902088
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