UM DESCANSO EM MARTE

(Depois de FANTASMA DO PASSADO -já publicado)

O Ponto de Apoio.

A Patagônia atracou numa doca do espaço-porto orbital de Phobos.

A nave de mil e quinhentos metros era grande demais para descer no solo. Cinco mil passageiros começaram a caminhar através do tubo para a obrigatória passagem pela alfândega antes de embarcar nas naves de cabotagem.

Alan conseguiu trabalhosamente escapar de mais uma homenagem e pegando sua navezinha acelerou fora do hangar da nave mercante, iniciando uma queda-livre na tênue atmosfera marciana.

As chamas produzidas pelo atrito cobriram as bordas de ataque da patrulheira; provocando estática nos fones de ouvido.

Começou a frear até as chamas desaparecerem e logo sobrevoava o deserto vermelho da Zona Contestada em Ares Vallis, onde estava o Ponto de Apoio.

Rejeitara a ideia de descer em Nova Chile, pois não desejava encontrar-se de novo com a viúva de Guzmán. Como um zumbi, apertou o botão do trem de pouso. Segundos depois, as rodas levantavam pó vermelho na pista.

*******.

Sentado frente à mesa de Elvis; Alan bebia uma cerveja marciana.

O governador, irmão mais novo de Aldo, era quase uma cópia do mesmo. Alan era mais velho e conversavam de igual a igual. Além disso, Elvis aprendera muito com o coronel nos treinos do quartel na Lua.

–...E isso é tudo o que sei de Zvar. Deve tomar providências.

–Acredita que há perigo desse demônio se soltar?

–Não, enquanto há energia na tela mental.

–E o menino que diz estar com a mente contaminada?

–É um jeito de dizer. Posso estar enganado. Tem cinco anos e tem um gêmeo, são filhos do Cabot. São meio japoneses; a mãe é neta de Fuchida.

–Pode ser que o plano de Zvar seja a posse do menino, mais adiante...

–Não duvido, Elvis.

–Devo falar com Maya e Hiroko. Maya é neto de Fuchida.

–Não sei o que eles podem fazer.

–Foi só uma ideia. Bem... Mudando de assunto; quanto a sua viagem à Terra e sua missão em Vênus, vai precisar alguma coisa?

–O corriqueiro. Completar o estoque.

–Alimento, água, ar, munição, bombas, torpedos, deutério...?

–E armamento adicional. Não sei que me espera em Vênus. Ah! Um aparelho de barbear novo, porque o barbeador da nave... Pelo amor dos deuses...!

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Para economizar combustível e poupar-se a si mesmo, Alan decidiu viajar como passageiro na Patagônia e despachar a AR-l como carga. Ainda tinha algum ouro taoniano e trocou um pouco por cartões e pesos antárticos; e para sua surpresa; por novíssimos cartões e pesos marcianos, que lhe disseram valer em Antártica.

Faltavam 48 horas para a partida da nave de passageiros e Alan resolveu aproveitá-las ao máximo, vistoriando o Ponto de Apoio que agora praticamente era uma cidade, uma ilha antártica no meio do deserto da Zona Contestada.

Esteve nos grandes armazéns de alimentos produzidos no local; na fábrica de motores INDEVAL, onde a produção de naves, caças e patrulheiras de formatos mais modernos funcionavam a pleno com grande parte de funcionários nativos.

O Ponto de Apoio transformara-se num polo industrial sem paralelo. Possuía uma linha dupla de aerocoester, de passageiros e carga até Nova Chile, que era uma verdadeira cidade, maior que Ciudad Antártica, a uns 500 quilômetros ao noroeste, onde as pessoas preferiam morar.

No dia da partida, 26 de abril, Alan já percorrera todo o Ponto de Apoio e elaborara um informe favorável à administração de Elvis, que pretendia repassar para Aldo assim que estivesse no espaço.

Só faltava inspecionar a escola para crianças terrestres e marcianas da professora Hiroko, onde fora informado que, entre outras coisas, se ensinava história do Sistema Solar e do antigo Império Raniano.

Quando da chegada da nave capturada Analgopakin, muita tecnologia raniana fora incorporada na colônia, e muita informação histórica fora copiada dos enormes bancos de dados na nave, como ele comprovaria a seguir.

O coronel pediu permissão a uma funcionaria da escola, com intuito de assistir discretamente a uma aula da professora japonesa.

Não se arrependeria. Seria uma aula esclarecedora até para ele...

*******.

A HISTÓRIA DOS ARIONES E OS DOMINIONS.

(Encontrada na base de dados da nave Analgopakin, adaptada e traduzida do raniano moderno para o espanhol pelo Prof. Dr. Alexei Gregorovitch Valerión). Foi respeitada a musicalidade rítmica da matriz idiomática raniana.(Nota do T.).

Nota prévia: desde a data estelar 890420, o Departamento de Inteligência da Frota Estelar classifica os seres da espécie Dominion como criaturas a serem mortas assim que percebidas dentro de todo o território da Suprema Confederação.

História verídica de intriga, propaganda e subversão. Este histórico documento revelará um novo ângulo da história a aquelas crianças de cérebros não lavados pelos meios maciços de comunicação ditos "politicamente corretos" do atual sistema educacional da maioria dos planetas da Suprema Confederação.

Seres sapientes do quadrante! Crias e adultos por igual gostarão da verídica e milenar história da luta sem fim entre os amáveis, trabalhadores, criativos e valentes; porém ingênuos Ariones; habitantes do belo planeta Nirvana de Aldebaran Taurii da Constelação do Touro; e os aproveitadores, calculistas, cheios de cobiça e sedentos de poder; Dominions, outrora originários, presume-se, do planeta Haduk Prime, ainda orbitando a estrela Alschaim; Beta da Constelação da Águia.

Este relato situa-se no longínquo passado; ainda antes da fundação do já desaparecido Império Raniano. Mas, poderiam estes fatos acontecer hoje na Suprema Confederação? Certamente. Estaremos cegos perante a possibilidade de que esteja ocorrendo agora, neste presente e perante nossos próprios e ingênuos olhos...?

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Muitas dezenas de milênios atrás, quando a raça humana branca primordial, ainda vivia no belo e frio planeta Nirvana, o sétimo do sol laranja Aldebaran; algo inesperado aconteceu.

Sua crônica é singular:

À luz laranja de Aldebaran, viviam os fortes, altos e belos ariones; eram três bilhões; seus humanos prazeres não eram interrompidos por seres de nenhum planeta.

Um dia, junto à doca espacial orbital, houve uma barulhenta confusão; numa nave reticuliana de carga, uma centena de dominions ofegante, suplicava para descer.

–Oh! Por favor, permitam-nos desembarcar! – os coitados choravam – antes que sejamos exterminados! Foi só por muito pouco, que dos cruéis altarianos conseguimos escapar!

Com suas roupas desalinhadas e suas rapadas cabeças caídas, eram coisa triste de se contemplar. Tinham viajado em fuga cinquenta anos luz ou mais, desde Altair Áquila, durante sessenta meses em dobra dois.

–Desembarquem, desembarquem! – os amáveis ariones disseram – Por vocês sangram nossos azuis corações! – Compartilharemos nosso mundo feliz com vocês. Apenas digam o que precisam!

E assim, os coitados e castigados dominions, entre os ariones se mudaram.

–Depois de tudo – declaravam os ariones – não importam suas orelhas pontudas nem a pele amarelada; por baixo da roupa espacial, todos somos humanoides.

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Antes que muitos meses passassem, os dominions já estavam como novos. Chamaram então seus amigos os kholems de Zeta Reticuli IV, e estes pequenos seres cinzentos também foram bem-vindos.

Para agradar os anfitriões; dominions e kholems tentaram, como nativos comportar-se. Rapidamente aprenderam a habilidade de imitar as maneiras nirvanenses. Isto agradou aos ariones, Já que gratificava seu orgulho. ...

Mas os ingênuos seres não sabiam que estavam sendo ludibriados!

Os criativos ariones ocupavam seu tempo em colonizar os planetas do seu sistema; produzir alimento, construir naves estelares, estações espaciais e comerciar com seres de outras espécies do quadrante.

Perguntaram aos dominions o que fariam para ganhar o pão de cada dia.

–Ensinar, escrever, divertir, comprar e vender – disseram eles.

E assim, os dominions começaram ensinando aos jovens ariones e reticulianos. Comerciavam comida, remédios e coisas com hábeis estratagemas. Escreveram livros e peças; engenhosidade teatral eles tinham bastante; e em pouco tempo os dominions se apropriaram das comunicações de Nirvana.

Um dia uma mãe nirvanense que levou seus filhos ao Clube de Esportes e Lutas na Neve, apavorou-se quando ouviu o mais jovem deles dizer:

–Eu não quero patinar no gelo!

–Mas ariones sempre lutaram, esquiaram e patinaram! – ela exclamou – É para isso que vocês foram feitos, fortes, altos, de pele branca e sangue azul! Assim como os xawas pulam nas rochas, os hod-dos cantam e as woks fêmeas dão leite!

–Estás louca! – seu pequeno filho disse – tudo isso está passado de moda! Está mal que os humanos se exercitem, além do mais, é frio demais para minha pele!

–Que coisa! – a mãe nirvanense exclamou – Falas como um tolo!

E então disseram os outros meninos:

–É assim! Aprendemos isso na escola!

–Isto deve parar! – a mãe nirvanense exclamou – Os dominions não devem ensinar mentiras, são descarados e ingratos, não deviam estragar as crianças.

Mas ela não sabia que os dominions, entre os ariones já tão enquistados, exigiam que os admitissem no Clube da Neve da Capital Nirvanense.

–Por que querem ingressar? – perguntaram os ariones – Vocês são fracos, seu sol era amarelo e seu planeta tinha mais oxigênio...! Vocês mal podem respirar aqui, não suportam o frio; não sabem lutar, não sabem esquiar nem patinar...!

–Se sabemos ou não lutar, patinar ou esquiar, não é o ponto – responderam os petulantes dominions – Não é justo sermos excluídos!

Os ariones jovens que tinham ido à escola dos dominions, abriram a boca:

–Coitadinhos dos dominions! Sempre tão perseguidos! – Deixá-los de fora é muita intolerância, isso é anti-dominismo!

Superados em número pelos Jovens Ariones; os Velhos Ariones rapidamente perderam. Os dominions ingressariam no Clube da Neve se pagassem as devidas taxas.

Essa noite a TV da Capital Nirvanense deu a seguinte notícia:

–Ariones reacionários são derrotados! Nirvana está progredindo!

Lá no teatro da capital Nirvanense, os jovens riam com alegria das piadas e paródias sobre esses antiquados Ariones Velhos.

Ao dia seguinte no Clube; uma petição os dominions fizeram circular: Opunham-se ao Fundo de Melhoras com fúria e prepotência.

–Com nossas taxas arrumam o Clube, limpam-no e enfeitam-no – diziam – Isso está errado porque vocês sabem, que nós, dominions, não suportamos o frio!

–Isto é o cúmulo! – gritou um sábio Arión Velho – Estes alienígenas estão loucos! Isto deve ir à Justiça! Dominions e kholems, vocês são muito abusados!

Mas ao chegar ao Tribunal; ouviu com amargura um juiz dominion (até na Justiça enquistados) decretar que ele devia pagar uma multa!

–As minorias devem ter seus direitos – o juiz dominion declarou – Usar as taxas dos dominions para consertar o Clube, isso é Anti-Dominismo!

Mais uma vez, a TV da Capital Nirvanense mostrava a notícia:

–Velhos Ariones antiquados não querem ver a Grande Nova Era que virá!

No Templo da Capital, no seguinte domingo pela manhã, para a congregação falou, o predicador com convicção:

–A discriminação tem que parar! Todos os humanoides são iguais!

O Arión mais sábio de todo o planeta, Na maior desesperação pensou:

–Escreverei um livro contando a verdade sobre os dominions parasitas.

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–Que cada um siga seu caminho sem contrariar a natureza, os ariones gostam do frio, os xawas pulam, os hod-dos cantam e suas blenfas botam ovos, as woks dão leite e os pakajes voam. Que cada n’goril fique no seu galho, os Deuses Criadores determinaram. Foi errado forçar os dominions a esquiar no frio, como é muito perverso que eles tentem de forma indigna e sorrateira, dominizar nossos ariones.

–Não posso imprimir esse livro! – disse o impressor – isso me trará problemas, minha gráfica está hipotecada aos dominions, que também vendem papel e tinta.

O sábio Arión tentou então advertir o povo por meio de fala e panfletagem, mas os Jovens Ariones recém saídos da escola dos dominions, gritaram:

–É um racista anti-dominion!...

*******.

A sessenta anos luz de Aldebaran, orbitando a estrela branca e quente Sírio, Alfa do Canis Majoris, estava o planeta Xawarek Amaru, onde moravam os outrora pacíficos Tigres xawareks; felinos humanoides que prezavam a honra e o respeito.

Os dominions também tinham ido aí para tentar corromper os Tigres Jovens e desvirtuar as Leis de Honra Xawarek; mas os nobres Tigres, muito cultos e honrados, descobriram seus perversos planos e com a maior justiça os expulsaram.

À Nirvana todos eles foram chorar.

–Devemos receber estes pobres refugiados! – a TV da Capital Nirvanense pregoava, pelos dominions controlada – Estes monstros ferozes e cruéis que comem carne crua querem conquistar todo o quadrante!

–Os Tigres cometeram atrocidades – disse a TV – perseguiram os dominions que tiveram que fugir do seu racismo.

–Ajudaremos os pobres refugiados do regime racista! – os Jovens Ariones se indignaram – os Tigres planejam nos conquistar! É verdade porque foi dito na TV!

Deixaram os ariones que os dominions fugidos de Xawarek desembarcassem; e cada um deles recebeu um cargo no Jornal e na TV da Capital Nirvanense.

Quando chegaram as eleições para Líder de Nirvana; a TV propôs seu candidato. Era um Arión Velho, porém estúpido, um verdadeiro tolo!

Mas quando elogiou aos Jovens Ariones e amaldiçoou os malvados Tigres de Sírio, a TV disse que ele era “muito sábio” e os elogios eram intermináveis.

Com seu dinheiro para comprar votos, os dominions a este tolo sustentaram. Os Velhos viam isso com tristeza, pois conheciam os planos dos parasitas dominions.

Como era de se esperar, o Arión Estúpido foi eleito Líder. Daí em diante, os pobres habitantes de Nirvana nunca mais teriam felicidade.

–Os Tigres Xawareks são uma raça criminosa! – o novo Líder disse – faremos uma guerra humanitária contra o mal e pela liberdade!

Enquanto meio planeta dormia, os calculistas dominions planejavam levar Nirvana à guerra contra os nobres Tigres sirianos.

Com sua TV, os dominions aos Tigres insultaram; encheram seu planeta com suja propaganda e mandaram os kholems atacá-los e muitas vezes os caluniaram.

Os nobres Tigres de Sírio com justa razão irritaram-se; armaram suas defesas, construíram poderosas belonaves e armas novas.

–É a guerra! – anunciou a TV de Nirvana – vamos mandar uma força de paz; devemos combater os cruéis Tigres e castigá-los com severidade!

Os ariones que ignoravam a conspiração do seu Líder com os dominions, encheram-se de "patriótico furor" e à injusta guerra nas estrelas distantes, eles foram!

*******.

Quando os ariones ganharam a guerra, com dinheiro dos dominions sustentada e rios do seu sangue azul derramado, o estúpido Líder ordenou a retirada para que os dominions ocupassem o planeta Xawarek.

No derrotado e humilhado planeta, os dominions fizeram a desforra. Com tremendas atrocidades, fome e doenças; aos infortunados felinos torturaram e o coitado Líder Tigre foi o mais caluniado.

Desmontaram a frota estelar dos xawareks, "des-tigrificaram" suas escolas e enforcaram o Líder Tigre por meio de leis recém inventadas.

Formaram um Conselho de dominions, ao qual chamaram de Humanoides Unidos. Os outros humanoides a ele se uniram sem notar que seriam escravizados. Assim que tudo foi preparado, eles anunciaram seu perverso plano:

Apoderar-se de Haduk Prime, para transformá-lo no lar dos sempre tão perseguidos dominions. Entre eles votaram, e eles mesmos aprovaram:

–Haduk Prime é quente. Seu sol Beta Áquila é amarelo da classe G8; o lar de todos os dominions, desde muito tempo atrás, antes que daí nós saíssemos.

E ninguém que estivesse vivo lembrava do que os dominions afirmavam.

Assim, eles escravizaram em Haduk Prime aos pacíficos Altarianos por meio do poder e ajuda dos ariones do planeta Nirvana. E os ingênuos ariones dominizados nunca puderam compreender por que os outrora pacíficos altarianos, com eles para sempre se inimizaram.

*******.

Nessa época, Nirvana era um desastre.

Os Jovens Ariones dominizados, roubavam, matavam e cometiam outros crimes. Tornaram-se muito maus.

Os dominions vendiam com altos lucros a droga mutara, que desvirtuava os jovens. E os ariones corajosos que se atreviam a denunciar os crimes dos dominions eram chamados de anti-dominions e "neotigres".

Os dominions predicavam a “tolerância” invocando os Direitos Humanoides, mas provocavam pobreza, cobiça e ignorância.

Por fim, até os mais tolos dos ariones viram que nada funcionava.

–Este Líder é um inútil! – exclamou o povo – Não o reelegeremos!

Mas os astutos dominions, outro candidato lançaram, que até os mais sábios dos Velhos Ariones chegaram a pensar que seria bom.

Este Arión, marionete dos dominions, era um general estelar, vencedor dos caluniados Tigres. Era um valente soldado que os ariones admiravam sem saber que era controlado.

Foi eleito em seguida com votos comprados pelo dinheiro dos dominions, com mentiras e discursos, com subornos dominizantes.

Os dominions prepotentes, aos ariones agora maltratavam sem a menor vergonha, coisa que nunca tiveram.

Roubaram o dinheiro e recursos até que acabaram.

Ensinaram os ariones drogados a cantar horríveis músicas estridentes e sem significado.

Enquanto o número de ariones diminuía, o dos dominions aumentava.

Os dominions escravizaram em Shanuk Prime de Ross 128 Virginis, os laboriosos gopakis e caçaram em Ra-3, os negros e felizes N’Gorils, que trouxeram como escravos para acasalar com os ingênuos ariones e arianas, apodrecer o sangue azul e depravar o planeta com uma mistura que gerou seres feios e maus que moravam em cortiços, roubavam, matavam, assaltavam e lotavam cadeias.

Em nome da "Igualdade", os dominions obrigaram os ariones a tolerá-los.

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Tanto pioraram as coisas, que um dia, quinhentos ariones que tempos melhores recordavam, com esposas e filhos, em suas naves para longe decolaram.

Atravessaram explosões solares, chuvas de meteoros e tempestades iônicas; sofreram ataques de alienígenas inimigos e alguns morreram, mas continuaram até que por fim; a sessenta anos luz, um belo e frio planeta; marrom, verde, branco e azul com quatro grandes luas; encontraram adiante.

Era Ran, o quinto da estrela amarela Ra.

Cansados aterrissaram, mas logo começaram a trabalhar para construir, desmatar e cultivar. E belas coisas eles criaram.

Passou muito tempo, os pioneiros tinham morrido, mas com duro trabalho e sofrimento; sem nenhum tipo de parasitas, sua primeira cidade surgiu.

Após anos de duro trabalho, sua cidade já era metrópole, os campos produziam comida até demais. As novas gerações de ariones esqueceram do triste passado e resolveram chamar-se ranianos, em honra ao novo lar.

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Cinco mil anos depois; Ran era centro de um império estelar.

Sua esfera chegou a medir quatrocentos anos luz de raio, com milhares de planetas e raças clientes, que os respeitavam porque eles eram um bom povo.

E foi na maravilhosa época dourada da Décima Quinta Dinastia, sob a regência do Imperador Kamenoph III, que aconteceu...

Um dia, junto à doca espacial orbital, houve uma barulhenta confusão; numa nave zigueliana de carga, uma centena de dominions ofegante, suplicava para descer.

–Oh! Por favor, permitam-nos desembarcar! – os coitados choravam – antes que sejamos exterminados! Foi só por muito pouco, que dos terríveis alakranos conseguimos escapar!

Com suas roupas desalinhadas e suas rapadas cabeças caídas, eram coisa triste de se contemplar. Eles viajaram setecentos anos luz ou mais em fuga, desde a anomalia de Shaula, nas imediações da estrela Lambda Escorpião, por mil setecentos dias em dobra quatro e meio.

O resto é história...

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Milênios depois, na Última Dinastia; sob a regência do Imperador Ramsés XVIII; como o câncer que morre com o corpo que mata; Treze Conselheiros do Império Raniano, parasitas dominions; provocaram e financiaram a guerra contra o império Alakros do Quadrante Delta; o que ocasionou a destruição do planeta Ran e o fim do Império Raniano.

(***)

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10.400 anos depois...

Ponto de Apoio, Ares Vallis, Marte, 26 de abril de 2019.

–Gostaram da história, crianças? – perguntou a professora Hiroko Kimura, da Escola Normal para crianças terrestres e marcianas da Base.

–Muito boa! – responderam as crianças a coro.

–Como sabem, é verídica e foi encontrada na base de dados da nave raniana Analgopakin, do capitão Nahuátl Ang, hoje sob o comando do capitão Weiss.

–Ela confirma os relatos do príncipe Angztlán de Ran e do capitão Pru Atol de Milkar, que recebemos da Base Ganímedes – disse a mais velha das meninas.

–O que me deixa com a pulga atrás da orelha é o fato de que ainda existam dominions por aí, professora – disse o menino mais velho – eu achava que o Décimo Terceiro Conselheiro que estava hibernado em Ceres era o último deles.

–Eu também pensava assim – disse a professora – é óbvio que estava errada.

–O príncipe quer julgar o Conselheiro em Ceres, em lugar de mandar o capitão Fuchida acabar com ele de uma vez – disse a menina.

–Ele quer fazer tudo dentro dos padrões da lei – respondeu a professora.

–Lei! – ironizou o menino mais velho – A lei nunca nos protegeu de nossos inimigos lá na Terra, professora!

–Tem razão! – disse outra das meninas – mas ganhamos a guerra. Faremos a lei e escreveremos a História! Nunca mais seremos escravos dos dominions terrestres!

–Na Terra não há dominions – observou a professora.

–Há sim – disse o menino mais velho – meu pai foi capitão do espaço na guerra e disse que o Lorde do Espaço acabou com a Área 51 e encontrou um dominion comandando os kholems cinzentos. E o prenderam em Antártica!

–E o obrigaram a ensinar os comandos da nave estelar – disse a menina.

–Bom; crianças... Já tinha ouvido esses boatos, mas pelo jeito vocês estão muito melhor informados do que eu...

–Aprendemos essa história em Hariez – disse um menino marciano – com algumas modificações de nomes de lugares.

–Deve ser conhecida em todo o quadrante – disse a professora – acredito que um dia nossos aliados xawareks possam contar seu lado da história...

–Saberemos mais histórias desses parasitas o dia em que consigamos alcançar às estrelas – disse o menino marciano, e acrescentou:

–Hoje aprendi, professora, que nós somos filhos dos escravos gopakis de Shanuk Prime; que vocês são filhos dos ranianos e netos dos ariones; e também que AQUELE QUE ESQUECE A HISTÓRIA É OBRIGADO A REPETI-LA!

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Continua em: A VOLTA PARA CASA - (já publicado)

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O conto UM DESCANSO EM MARTE - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV, Capítulo 29; páginas 28 a 35; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 20/03/2017
Código do texto: T5946792
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