Sentiu-se na obrigação de explicar que Psicoteledecodificador é um aparelho com formato de  brinco grudado no pavilhão do ouvido,  ou no lóbulo da orelha, e funciona como uma antena parabólica de uso indispensável para os que desejam conversar com os mortos. Ela esperava a intervenção de Daniel, afinal, ele é o cientista.
 Fez um minuto de silêncio, e ela mesma continuou:
— Não funciona nas pessoas que têm um chip na palma da mão ou na testa, essas pessoas não  podem fazer contato, indiscriminadamente, com qualquer morto, senão com aqueles que estão depois dos muros abissais. Eles não precisam do aparelho auricular. Mandam e recebem mensagens por meio de bombas de pensamento como no tempo de nossos primeiros país, quando viviam no paraíso.
— Deve ser bom não ter que usar esses penduricalhos na orelha — disse Daniel.
— Não é bom. Os que vivem além dos muros que separam a luz das trevas, são maus. Suas auras não têm brilho. São estrelas apagadas que usam bombas de pensamento, para sugestionar o mal na mente das pessoas. Entre eles, funciona como uma ordem originada da cadeia hierárquica superior.
—  Êta gente! Há hierarquia no inferno?
— Claro  que há! Se subalternos não cumprirem completamente uma tarefa, são rebaixados para a mais profunda escuridão, por isso eles insistem em suas sugestões. Essas mesmas bombas lançadas aos que ainda  estão na vida militante, só surtirão efeito, se os viventes acolherem a sugestão, dando como resposta uma ação correspondente. O demônio não tem poder de ler nosso pensamento.
— É verdade, ele não pode. O ato de acolher e praticar uma ação por ele sugerida é a resposta de que precisa. Isso provoca  a sensação de penetrar na mente dos humanos. Mas nada ele pode fazer sem o consentimento. Digo interlocutor, porque, quando se aceita uma sugestão demoníaca, passa-se a com o demônio.
Robert    conectou minúsculos plugues a uma bola energizada com elementos trazidos de Marte, e conversou com a mãe numa língua quase universal usada pelos falantes do ano de   2057.
Já naquele ano, o psicoteledecodificador era de uso comum entre os mais abastados. Custava uma fortuna, e como se tratava de inovação, funcionava ainda canhestramente, e toda culpa recaia sobre o Sistema. Virou justificativa até para falha humana: ‘O sistema está fora do ar.’
Já naquele ano, o psicoteledecodificador era de uso comum entre os mais abastados. Custava uma fortuna, e como se tratava de inovação, funcionava ainda canhestramente, e toda culpa recaia sobre o Sistema. Virou justificativa até para falha humana: ‘O sistema está fora do ar.’
 — Preciso que me passes a nova frequência do papai, parece que ele mudou os sinais de acesso e há mais de sete anos do calendário-terra, não consigo falar com ele.
— Bobbynho, teu pai foi elevado ao sétimo céu, de lá é impossível a comunicação com plataformas inferiores. Salvo, uma vez em cada sete anos, o que aqui representa apenas um Planck, ou seja:  5.39121 x 10 - 44 segundos, portanto, muitas vezes menor que os segundos bissextos do tempo solar.Resuma a conversa, minha bateria está descarregando. Gastei os últimos elementos trazidos de Vênus, e não há previsão de chegar novo estoque no mercado interplanetário. 


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Adalberto Lima, fragmento de Estrela que o vento soprou.