O RESGATE DE ALAN

Sete meses depois...

Shaula, 25 de outubro 2021 (211025)

A Desafiante saltou ao espaço normal a menos de um parsec de Shaula, estrela Lambda do Escorpião a 571, 21 anos luz da Terra.

–Chegamos – disse Nahuátl.

–Por fim – suspirou a doutora Débora Von Endt.

–Sete meses em dobra, é muito tempo – disse o engenheiro Palmer.

–Não exagerem – disse o Lorde do Espaço – a viagem não foi tão ruim, há boa comida, bons vinhos, cinema, livros, xadrez, piscina... Até ensinamos o capitão Nahuátl e a doutora Isis o jogo de pôquer... Passamos bem.

–Cadê a Hércules e a Amarna? – perguntou a doutora Isis.

–Não aparecem nos sensores – disse o piloto Syves.

–Que droga! – disse Martin – Agora quero saber onde estamos, capitão.

–Segundo os sensores há quatorze planetas em volta da estrela, Lorde Martin.

–Algum da classe Etar?

–Sim, o quinto, sexto e sétimo.

–Onde está a Anomalia?

–Perto. Pouco mais de três parsecs a 260 graus, marco 12 de nossa posição.

–Vamos vasculhar os planetas classe Etar. Começando pelo sétimo.

–Sim, senhor.

Logo se aproximaram em dobra um de Shaula-7.

–Os sensores indicam que há construções no hemisfério austral, capitão.

–Sair de dobra. Vamos ver de perto.

A Desafiante entrou em órbita e os acurados sensores detectaram uma base com mais de trinta naves de desenho alakrano.

–Achamos! – disse Syves.

–Sensores de vida.

–Todos alakranos... Espere...! Três humanos!

–São eles! – disse a doutora Von Endt.

–Com certeza – disse Nahuátl – Alex!

–Prossiga capitão – disse o misterioso piloto de caça brasileiro Alex desde sua cabine privativa.

–Prepare os caças e o explorador.

–Sim, senhor.

Em Marte, Martin tinha requisitado quatro caças CH-III de última fabricação, que eram os que cabiam no hangar principal, e deixou um dos dois exploradores; uma pequena nave de dobra fabricada na Suprema Confederação, para que os cientistas da INDEVAL no Ponto de Apoio as estudassem.

Apesar de que o explorador era uma nave armada, os velozes caças CH-III poderosamente armados teriam maior mobilidade na atmosfera.

Os três pilotos comandados por Alex eram marcianos de Darnián. O explorador era tripulado por terrestres. Dois pilotos e oito comandos de assalto.

–Localizar os três humanos – disse o capitão Nahuátl.

–Estão os três numa das construções – disse Syves – enviando localização para os aviões.

–Eu vou descer no explorador, capitão – disse Martin.

–De acordo.

*******.

Combate!

De repente, caças alakranos subiram ao encontro da esquadra terrestre que invadia a atmosfera de Shaula-7.

–Nos viram – disse Alex – Atacar!

O explorador pilotado pelo Lorde do Espaço atacou com todas suas armas, secundado pelos caças comandados pelo piloto Alex.

Rajadas de laser e phaser atravessaram a alta atmosfera em ambas as direções, sendo esquivadas pelos velozes caças.

Os defensores alakranos, não eram amadores e seus disparos abalavam o escudo do explorador, mas este resistia bem, apesar das sacudidas. Martin empregava todo seu conhecimento aprendido nas sessões na máquina de aprendizado e nas simulações em Marte para esquivar os disparos e respondia o fogo, derrubando algum que outro caça inimigo.

O piloto Alex, na frente da sua esquadrilha também estava derrotando os defensores, derrubando um a um.

Por fim o céu esteve o suficientemente limpo como para perseguir os dois inimigos sobreviventes em retirada, fumegantes.

–Vamos atrás deles, Alex! – disse Martin – Vão onde nós queremos!.

–De acordo.

Logo chegaram à base inimiga.

Lá embaixo havia uma correria de seres às belonaves, que já estavam esquentando máquinas para partir.

–Vão decolar!

–Vou soltar uma bomba! – disse Alex.

–Não! Aldo e Alan estão lá embaixo!– disse Martin.

–Vou destruir os caças no chão.

–Faça isso. Vou voltar ao espaço. Com o explorador não tenho condições de atacar essas naves.

Martin elevou-se até a órbita onde a Desafiante esperava.

Foi bem na hora em que o espaço imediato se convulsionava com duas grandes naves saindo de dobra.

O espaço pareceu incendiar-se quando toda a luz deixada para trás chegou de repente por trás das naves.

Eram a Hércules e a Amarna.

*******.

Perseguição.

Enquanto ocorria uma brevíssima conferência nave a nave entre Huáscar, Lilla Henna e Nahuátl, a frota alakrana subia para o espaço, sem importar-se com os quatro pequenos aviões de caça que gastavam sua munição encima delas.

–Volte a bordo, Alex – disse Martin, enquanto retornava ao hangar da Desafiante – mudamos de plano.

–De acordo.

Logo estavam todos a bordo; e de repente...

–A esquadra alakrana está entrando em dobra, capitão! – disse Syves.

–Quantas naves?

–Trinta.

–Curso?

–Para a fenda espacial. Segundo as leituras, procedem do sétimo planeta.

–A questão é: Alan e Aldo estão na esquadra? – perguntou Martin.

–Se estão na esquadra o saberemos; Lorde Martin – respondeu Nahuátl.

–Como?

–Qual é seu plano? – perguntou Lilla Henna.

–Vamos interpenetrar as naves alakranas e poderemos ver o que transportam.

–Como será isso? – perguntou Martin.

–Em dobra somos imponderáveis, seremos como fantasmas.

–Fascinante – disse Palmer.

–Esta nave está preparada para uma abordagem na imponderabilidade.

–Vamos abordá-los?

–Sim. Alex!

–Prossiga capitão.

–Forme uma equipe de abordagem no hangar. Escolha os ranianos, que sabem o que têm que fazer.

–Entendido.

Huáscar interveio:

–Trinta arsenais voadores, capitão Nahuátl! Com inúmeros alakranos muito mais fortes do que vocês, ranianos e terrestres! Você acha que pode alcançá-los antes da anomalia?

–Pois é, capitão Huáscar. Vamos tentar – disse Martin.

–Nós estamos mais preparados; Lorde Martin. Já fiz isso antes, e além do mais tenho mais gente de armas a bordo; veteranos que peguei em Marte e em Júpiter. Tenho boralianos, terrestres e marcianos, além dos meus soldados.

–Que seja, então. O quê acha, Nahuátl?

–De acordo. Eles têm mais chances do que nós.

–Capitão Huáscar! Proceda. – disse Martin.

–De acordo, vão à frente! – disse Huáscar.

–Certo – disse Nahuátl e ordenou:

–Marcar curso para a anomalia, Syves! Dobra oito e meio!

–Sim senhor.

De imediato a poderosa Desafiante entrou em dobra.

A Hércules e a Amarna a seguiram à mesma velocidade.

–Quanto tempo até a anomalia em dobra oito e meio?

–Três dias padrão, mas vamos alcançá-los em menos de dois, Lorde Martin.

–Ótimo.

–Agora vamos esperar – disse Nahuátl.

*******.

A bordo da Amarna, Huáscar estava dando as últimas instruções aos comandos de abordagem:

–Você, tenente Katzh, com seus sapadores perfurará o casco com o maçarico disruptor para permitir o passo do Mestre Atha e seu pessoal pelo tubo sanfona.

–Sim capitão.

–Você, Mestre Atha, com os seus fuzileiros, atacará em primeiro lugar, logo depois de perfurado o casco. Poderá matar tudo o que encontrar pela frente e soltar gás asfixiante e bombas de luz concentrada. Isso deverá cegar os que não estiverem com óculos.

–De acordo.

–Você, coronel Tanaka com seus guerreiros samurais, atacará logo depois do Mestre Atha, com espadas e lasers. Sua tarefa será quebrar os óculos dos alakranos que não estiverem cegos e queimar seus olhos.

–Sim.

–Você, capitão Varnán, e seus fuzileiros marcianos entrará logo atrás do coronel Tanaka, disparando contra os que sobrarem vivos. Além disso, confiscarão todas as armas deles.

–Sim senhor.

–E você, capitão Kufu com seus fuzileiros boralianos, entrará depois do capitão Varnán, vasculhará a nave a procura do Mestre Alan e do capitão Aldo. Deverá trazê-los a bordo no menor tempo possível, custe o que custar, entendeu?

–Sim, capitão!

As horas passaram.

Nesse meio tempo os tripulantes da Amarna fizeram simulações atrás de simulações, aparando arestas do plano para que nada desse errado.

Logo a Amarna passou à frente das outras duas e foi se aproximando da esquadra inimiga que voava espalhada no imponderável, separada em grupos de cinco naves da classe Incursão como as duas que estavam em Boral. Naves de oitenta metros de comprimento, com trinta tripulantes cada.

Não ia ser fácil.

–Como saberemos qual é a nave em que eles estão? – perguntou Iara.

–Vamos interpenetrar todas, uma por uma, até achá-los – disse Huáscar.

–Interpenetrar?

–Sim. Espere e verá, minha querida.

*******.

Huáscar e Pacha, em perfeita sintonia, faziam dançar seus dedos peludos no painel de controle, enquanto a Amarna mergulhava encima da última belonave, como uma nave fantasma, de maneira que todos a bordo conseguiam olhar dentro da outra e vice-versa, já que os alakranos, alarmados e impotentes, colocaram os óculos rapidamente, quando a luz branca da Amarna iluminou as trevas da nave inimiga.

–Não estão aqui – disse Pacha.

–Vamos à próxima – ordenou Huáscar.

As naves separaram-se como dois fantasmas, provocando estranhas sensações em todos, nunca antes experimentadas.

A Amarna acelerou e mergulhou na segunda, onde os alakranos em pânico afanavam-se nos controles e nas armas, inúteis nessa situação.

Logo Huáscar pode ver Alan com uns óculos esquisitos, confuso pela situação de ver a Amarna aparecendo fantasmagoricamente dentro da nave alakrana e sua esposa difusa a poucos passos dele, como num sonho.

–Aí está ele! – gritou Iara, em desespero por estar a poucos passos dele sem poder tocá-lo, já que suas mãos imponderáveis o atravessaram como névoa.

–Já vi, só não vejo o capitão Aldo – disse Huáscar – vamos dar outra olhada.

Logo foi evidente que Aldo não estava lá.

–Ele não está, capitão – disse Pacha – mas os alakranos não são trinta como pensávamos, há mais de cem...! Aliás, cento trinta e seis. É um prisioneiro importante.

–Não faz mal – disse Huáscar – cento trinta e seis deles contra cinquenta e três dos nossos guerreiros honrados está mais do que bom!

–Será glorioso, capitão! – disse Pacha, excitado.

–Vamos pegar nosso Mestre Alan agora mesmo e depois podemos repetir a manobra. Pacha! Vamos ficar à par deles!

–Sim capitão.

–Armadura de combate a todos!

*******.

À abordagem!

Quando por segunda vez as naves se interpenetraram, Huáscar reconheceu o ex-governador Djekal nos controles.

O alakrano também o reconheceu e ligou a pseudo desaceleração.

Um piloto menos habilidoso teria passado por ele como um raio, indo parar a mais de um ano luz de distância à frente.

Huáscar e Pacha, agindo em perfeita sintonia, conseguiram equiparar aquela manobra. Por dois intermináveis minutos acompanharam todas as

acrobacias de Djekal, que tentava fugir nas diferentes frequências de onda subespacial.

Nessa altura dos acontecimentos o resto da esquadra já tinha ido parar à frente vários minutos de luz. Mas isto era mais importante.

Por fim Djekal, vencido, prosseguiu em linha reta e a Amarna situou-se de lado, a menos de trinta metros de distância da outra.

Pacha acionou logo o ajustador de fase, para testar as frequências em que a nave inimiga entrava e saía milhares de vezes do espaço-tempo-energia, enquanto o detector de massa analisava as frequências milhares de vezes por segundo.

Quando a entrada-saída-entrada-saída do espaço-tempo-energia equiparou-se às do inimigo, o detector de massa informou e o ajustador de fase travou.

Huáscar então disparou o raio trator para prender sua presa.

Quando se sentiu preso, Djekal tentou um enfasamento diferente, mas Pacha o igualou sem perder uma única pulsação.

–Podemos puxá-lo mais um pouco, capitão – disse o piloto.

–Não. Está bem seguro – disse Huáscar, e ordenou pelo sistema:

–Tubo de abordagem!

Como uma enorme serpente, o tubo sanfona estendeu- se desde a eclusa de combate no nível quatro da Amarna até cravar-se no flanco de bombordo da nave alakrana.

Os canhões inimigos que podiam ser mirados nesse ângulo começaram a girar, mas foram prestamente destruídos pelos phasers, e um míssil que surgiu pela proa, foi logo desintegrado pela artilharia.

–Parou de se debater, capitão – disse Pacha.

–À abordagem! – gritou Huáscar.

*******.

O tigre Atha e seus soldados formavam uma massa sólida de tigres blindados, irrompendo através do buraco no casco aberto pelos sapadores do tenente Katzh com o maçarico disruptor.

Huáscar percebeu uma leve ondulação indicadora de que as duas nacelas da belonave alakrana estavam reduzindo a irradiação dianteira, o que indicava que estava prestes a sair de dobra, e então imitou a manobra.

Ambas as naves saíram de dobra ao mesmo tempo, saltando ao espaço normal lado a lado numa explosão de luz liberada abruptamente.

–É nosso! – gritou Pacha.

Ainda assim, Djekal podia tentar algum truque, portanto Huáscar e Pacha não podiam abandonar o painel de controle.

Só os deuses de xawarek sabiam do martírio que significava para Huáscar e Pacha não poder intervir na luta, mas pelo menos tinham o consolo de poder dirigi-la pelo comunicador, onde as vozes metálicas dos chefes de equipe se sucediam:

–Nossa gente já entrou, senhor. Os inimigos resistem com armas portáteis. Nossos holofotes os estão cegando. Os samurais estão decepando cabeças com suas espadas, já tomamos dois camarotes.

A resistência era feroz e os invasores entraram naquela sólida fileira de inimigos sem misericórdia, antes que suas armaduras fossem quebradas pelas armas alakranas.

A diferença numérica era importante, assim como também a superior força física dos inimigos.

Se conseguissem evitar o corpo a corpo, poderiam sair-se bem.

O gás pegou os alakranos sem máscaras, e os poderosos holofotes de luz branca queimavam os olhos facetados daqueles sem óculos protetores, ficando fora de combate.

Os phasers e as balas de urânio não furavam as armaduras inimigas, mas os faziam cair por concussão.

Aquilo era um inferno de luz branca cegando os inimigos. As armas de energia marcianas abriam paredes metálicas, explodiam as repartições e divisões, que caíam uma a uma.

Enquanto os tigres abriam caminho a tiro, Tanaka e seus samurais, frios e sanguinários, abatiam os caídos e ainda respondiam o fogo dos mais afastados.

Quando entraram os marcianos comandados por Nig Varnán, blindados e temíveis, foi como um furacão, abrindo caminho e alcançando o corredor principal onde o inimigo respondia o fogo, atrincheirado nos cantos das portas.

Quando por último entraram os boralianos comandados por Kufu; encontraram a tripulação inimiga refugiada em três frentes; a ponte, o compartimento dos torpedos e a garagem dos carros onde tentavam, em desespero, passar ao pequeno hangar onde havia três pequenos caças de dobra.

Alguns alakranos isolados ainda respondiam o fogo quando os boralianos encontraram a cela de Alan.

–Rápido, coronel, vamos embora!

–Kufu?

–Eu mesmo, coronel. Rápido! Coloque esta armadura!

Segundos depois, o coronel saiu da cela, abaixando a viseira do capacete, armado e escoltado pelos fiéis boralianos.

Nos corredores era o inferno, tiros, gás, incêndios, explosões, rajadas laser, disparos de phaser...

–Capitão Huáscar – radiou Kufu – o coronel está conosco!

–Voltar, Kufu. E parabéns!

–Aguarde, Huáscar – disse Alan – quero pegar Djekal.

–Não dá tempo, Mestre Alan! Eles podem querer explodir e nos levar junto!

–Me dá só dois minutos, Huáscar!

–Seja rápido!

Após uma breve procura, descobriram que Djekal estava tentando passar ao hangar com obvia intenção de pegar um caça e fugir.

Enquanto tigres e samurais dominavam a situação na ponte de comando e os marcianos davam conta de todos os seres viventes no compartimento dos torpedos; Alan e os boralianos estouravam as comportas do hangar, bem na hora que Djekal decolava para o espaço.

–Escapou! – quase chorou Alan.

O coronel deixou os boralianos dar conta dos poucos alakranos sobrantes e pulou encima de outro caça.

Sentado nos controles, sem saber como fazer aquela coisa voar, levantou a vista, impotente, para ver o caça de Djekal alongar-se e entrar em dobra.

–Maldição!

*******.

Continua em: ALGO DEVIA DAR ERRADO

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O conto O RESGATE DE ALAN. - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume V, Capítulo 39; páginas 39 a 44; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos- paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

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Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 23/05/2017
Reeditado em 09/06/2021
Código do texto: T6006832
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