Orgulho Atemporal

Amadeus estava trancado no seu laboratório novamente. Há dias que não saia de lá, e já fazia alguns anos em que decidiu se dedicar inteiramente a sua pesquisa. Ultimamente, sentia que estava realmente próximo de finalizá-la, e sua dedicação estava ao máximo, desde que teve um sonho que o inspirou imensamente. Mais alguns passos, e teria finalmente criado o equivalente a uma máquina do tempo, e caso funcionasse, seria a primeira no mundo.

Praticamente não cuidava do próprio corpo e só comia o necessário quando se imergia em suas pesquisas. Raramente se encontrava com outras pessoas, até mesmo para discutir com outros cientistas. Mas isso não lhe importava muito, seu orgulho como cientista era muito maior que esses detalhes, ao ponto que se recusava a se basear nas descobertas de outros cientistas até da mesma companhia que o financiava.

Aparentemente, a companhia também financiava vários outros cientistas ao redor do globo, e parecia anormalmente interessada em viagens no tempo, mas isso não interessava Amadeus nem um pouco. O que o preocupava era que estavam começando a reduzir seus fundos, pois não andava mostrando resultados considerados satisfatórios ultimamente, e parecia que seu tempo estava se esgotando. Mas sabia que caso tivesse sucesso, nada disso importaria. Ter seu nome eternizado em livros de ciência e história era pouco, poderia mudar completamente a história da humanidade daqui para frente, talvez até daqui para trás. O pensamento era estimulante o suficiente para contrapor todos os riscos.

No mês anterior, teve um sonho extremamente lúcido a respeito de sua pesquisa. Apesar de não ser um acontecimento incomum, já que tinha 90% de seu pensamento focado nisso fazia meses, dessa vez parecia que acabou fazendo mais progresso durante o sono do que quando acordado. Depois de despertar, conseguiu sair de um bloqueio que teve e sua pesquisa começou a progredir a uma velocidade 30 vezes maior que antes. De repente, finalizar seu projeto não mais parecia um objetivo distante.

Seu projeto atual era apenas um protótipo que deveria ser capaz de enviar um objeto pequeno para um tempo específico diferente, sem move-lo no espaço. Em teoria, deveria ser capaz de fazer humanos viajarem no tempo a partir daí, como a companhia queria. Esse protótipo é até mais importante que o produto final, pois seria o suficiente para provar que sua tese, e não a de outros cientistas, estava correta.

Apesar de que estava tendo dificuldades quanto aos específicos de seu protótipo, seu sonho foi o suficiente para guiá-lo. Seu protótipo era menor que a maioria das máquinas que os outros cientistas tentavam fazer, mas Amadeus acabou descobrindo que isso não era tão importante no funcionamento geral da máquina. Em poucos dias, o protótipo estava completo.

 Teoricamente, deveria funcionar. Ao designar uma quantidade específica de tempo, em milissegundos, o que estiver dentro da máquina iria viajar essa quantidade de tempo para o futuro ou passado. Amadeus preparou vários objetos para servir de teste, mas quando estava prestes a começar, sentiu uma mão nos seus ombros.

- Você é Amadeus Nov, certo? – Atrás dele, viu três homens com trajes pretos e vários acessórios de aparência desconhecida.

Um deles apontou com o dedo para frente de Amadeus.

- Ai meu deus! – Ele parecia alarmado. – Ele já inventou o protótipo!

- ...Isso é impossível. – Outro respondeu. – Estamos em 26 de Novembro de 2022, certo? O protótipo só é finalizado daqui a três anos.

- Não sei não... – Um deles olha em alguns acessórios estranhos em seu pulso. – Parece que tem vestígios de alterações temporais além de nós por aqui.

- Como assim?

- Ouvi falar que ele sabia de nossas ações e enviou instruções a si mesmo para terminar a máquina mais rápido, através de pensamentos.

- Desgraçado! – Ele se virou para Amadeus, tirando algo semelhante a uma arma, mas menor e um tanto diferente, e apontou para ele.

- ...Estão aqui para testar minha máquina? – Amadeus estava confuso com os eventos acontecendo, mas estava imergido demais nas suas pesquisas para dar a mínima para outra coisa.

- Você é mesmo um demônio! – O homem pegou Amadeus pela camisa, e depois de um som fino ser escutado, o corpo de Amadeus caiu no chão, instantaneamente morto.

- Você sabe que não vinhemos aqui para isso. – Suspirou um dos outros. – Só deveríamos destruir a pesquisa, mas agora que já foi completa, os dados já devem ter sido enviados para a organização. Matar ele não faz diferença alguma, ou talvez acabe tornando as coisas piores.

- Quem se importa? Ele é praticamente o maior genocida na história. O mundo está um caos por causa dele.

- Mas já vimos que não tem como impedir usando algo que ele mesmo criou. Mesmo se tentarmos de novo, voltando antes no tempo, ele só precisa enviar as instruções mais cedo, ou para outra pessoa.

- Droga!

- Enfim, vamos dar os resultados para a rebelião. Eles vão vir com algum outro plano.

- Tch. Certo.

Eles se moveram próximos um do outro. E usando uma das versões mais novas da máquina do tempo portátil, inventada em torno de 30 anos depois, desapareceram e voltaram para seu respectivo tempo.

Graças a invenção de Amadeus, milhares de universos paralelos acabaram implodindo por causa de diversos tipos de paradoxos temporais. Aqueles que não o foram, no geral acabaram sendo dominados pela organização que o fundava, que constantemente monitorava sua pesquisa secretamente, e usaram a máquina para mudar a história em seu favor, também causando a criação da rebelião que a combatia. Pelas diversas consequências causadas através de sua invenção, Amadeus acabou sendo considerado um dos maiores genocidas da história da humanidade, principalmente por causar a destruição de diversos universos paralelos, mas durante sua condenação, em todos os diferentes universos ocorridos, sempre assumiu seus feitos e disse não se arrepender de nada, mesmo com a humanidade em caos.

Apenas milhares de anos depois, em universos em que a humanidade prosperou, geralmente após conquistar três ou quatro galáxias, Amadeus passou a ser conhecido e respeitado pela sua invenção, apesar de que ainda há várias controvérsias em volta.

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Enviado por RCS em 14/07/2017
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