A VISITA

Mister James é um velho escritor. Tem setenta e oito anos. Seus livros fizeram relativo sucesso. Nunca conquistou nenhum prêmio, porém ganhou dinheiro suficiente para que cuidasse da família, às vezes com certa dificuldade. Mas foi o bastante para pagar a faculdade dos três filhos. Não escreve mais, pois enxerga mal; as mãos já não têm firmeza para sustentar a pena, e o cérebro não funciona muito bem. Mister James sofre do mal de Alzheimer. Está internado em uma clínica, recebendo o melhor tratamento que o dinheiro pode pagar. Seus filhos tornaram-se ricos.

A esposa faleceu há mais de seis anos. Seis anos, quatro meses e doze dias. Cada um destes dias foi um suplício, foi morrer um pouco. Mister James sente muito sua falta. Dorme quase nada, alimenta-se mal, e chora todas as noites. Mister James definha de saudades.

O velho escritor sente-se muito só. Os filhos aparecem pouco, em rápidas visitas, ocupados que estão com a vida. Não puderam vir no Natal passado, e não deram certeza de que viriam este ano. Da última vez que Peter esteve ali, não trouxe as crianças. O avô adora as crianças, tão graciosas, tão cheias de vida... Peter não disse, mas o velho está desconfiado de que ele não trará mais as meninas. Peter tem razão. Elas ficariam muito impressionadas em vê-lo neste estado.

Longos são os dias, e penosas as horas para Mister James. Não há nada para fazer na clínica. Ou melhor, nada o interessa. Não se anima com as dinâmicas de grupo, nem com a tevê, nem com o carteado. Não retribui o afeto das enfermeiras, tão solícitas, as moças. Só uma coisa ocupa sua mente: as lembranças de sua amada, sua doce e gentil Sarah.

Numa fria manhã de novembro, Mister James sentia-se especialmente só. Recebera um telefonema de Jack, o filho mais velho, advogado, informando-o de que realmente não iria aparecer para o Natal. Provavelmente, não apareceria nem para o Natal, nem para outras ocasiões. Estava de mudança para a Costa Oeste. Isso era coisa de Susan. A nora nunca gostou do velho sogro. Sentiu, naquele momento, que não veria mais este filho. Então, uma estranha sensação foi se apoderando dele. Passou todo o dia com aquela sensação, até que se transformasse em certeza: não veria mais nenhum dos filhos. Não teria mais tempo para isso.

Foi quando olhou para a porta e o viu.

Oscar é um velho gato de pelos cinzentos, gordo e carinhoso. Anda livremente pelos corredores da clínica, ronronando e enroscando-se nas canelas dos poucos que se dignam fazer-lhe algum carinho. Gosta, principalmente, de perambular pelo terceiro andar, onde ficam os pacientes com problemas mentais.

Oscar é conhecido de todos na clínica. Sua presença causa desconforto na maioria das pessoas, sejam internos ou funcionários. Talvez por isso ele goste mais dos pacientes do terceiro andar. O problema com Oscar começou quando ele apareceu pela primeira vez. Uma enfermeira o viu no colo de um paciente. A jovem tentou enxotá-lo, mas o homem reagiu e abraçou o gato, impedindo que ele saísse. Deixe Oscar em paz, disse, e aí foi dado o nome ao simpático felino. Poucas horas depois, o paciente estava morto. E o gato havia sumido.

Alguns dias se passaram, e Oscar apareceu novamente. Passeou tranquilamente por várias alas, até deter-se à porta fechada do quarto da Sra. Watson. O gato esperou até que alguém abrisse a porta. Quando isso aconteceu, ele entrou rapidamente e pulou no colo da senhora, que o acolheu com alegria. Até àquele dia, a mulher estava muito bem de saúde. Solitária, mas bem de saúde. Duas horas depois de encontrar-se com Oscar, a Sra. Watson havia deixado esta vida.

A direção da clínica tentou expulsar o gordo felino, temendo que ele estivesse contaminado com alguma doença. Entretanto, não havia no corpo da Sra. Watson nada que indicasse que pudesse ser o gato o responsável por sua morte súbita. Além disso, Oscar sumiu por um tempo, só retornando numa certa manhã para acompanhar o passamento de outro interno, que, nos seus últimos momentos de vida, desfrutou da companhia do simpático e misterioso Oscar.

Neste dia, Oscar não foi embora. Observou o corpo de Mr. Freeman sendo recolhido e continuou no corredor. Passou o dia inteiro na clínica, até que às sete da noite dirigiu-se ao quarto de outro paciente. Que faleceu horas depois. Cerca de duas horas. Como todos os outros pacientes que recebiam a visita de Oscar.

A partir deste dia, ninguém mais tentou expulsar Oscar. A partir deste dia, ele não foi mais embora. O gato não saiu mais do hospital. Ninguém entendia como o animal se alimentava, uma vez que ele não aceitava comida de ninguém. Também não fazia sujeira em lugar algum. Apenas vagava pelos corredores, observando. Observando e esperando. Depois destes acontecimentos, outras vinte e duas pessoas receberam a visita do felino cinzento. Todas elas morreram no mesmo dia. Cerca de duas horas após o derradeiro encontro com Oscar. Alguns pacientes diziam que Oscar era um mensageiro da morte. Outros, que ele era a própria morte. Muitos o consideravam um tipo de anjo, que assistia aos homens em seu derradeiro momento.

Agora ele estava ali, olhando para Mister James. O escritor sorriu e abriu os braços para Oscar, que veio mansamente se aninhar em seu colo.

Olá, meu velho. Finalmente você veio me visitar! Quanto esperei por este dia... O gato fechou os olhos quando a velha mão trêmula pousou sobre sua cabeça num afago. Mister James sabia que lhe restavam apenas algumas horas. Gastou-as relembrando os momentos felizes que vivera ao lado de sua amada Sarah, o nascimento dos filhos, dos netos... tantas histórias, tantas alegrias tivera!

Viver foi muito bom, meu velho, mas estou pronto, estou em paz, disse ele para o gato. Sinto tanta falta de minha Sarah! Mister James deu um profundo suspiro, enquanto Oscar olhava fixamente para ele.

Sabe, Oscar, bem que eu gostaria de escrever sobre você...

Mister James passou desta vida. Seu último pensamento foi sobre a história do gato Oscar, que tinha a estranha habilidade de prever a morte.