CONTO PROGRAMADO

Um homem de terno cinzento entrou na tabacaria. Mostrava pressa e falou com agressividade ao mesmo tempo que empurrava violentamente o homem atrás do balcão. Com a outra mão retirava todo o dinheiro da gaveta. Escondida no meio das prateleiras, uma pequena câmera filmava o assaltante.

O rapaz caído estendia a mão e apanhava a arma embaixo do balcão.

Havia um gato magro que miava sem parar.

O assaltante ignorando a existência da arma, ainda contava o dinheiro. Não imaginava que podia haver reação daquele homem franzino caído no chão.

Ouviu-se um estampido.

Os seus olhos arregalaram-se. Não acreditava no que estava acontecendo. Passou a mão no peito.

Ouviu-se um segundo estampido. O terno já não era mais cinza. O gato parou de miar.

A casa estava cheia de amigos, vizinhos e parentes.

Ninguém entendia como um homem correto, bom chefe de família tinha cometido aquela loucura. Todos estavam perplexos. Nada justificava aquele ato.

Começou uma chuva miúda, mas logo vieram as trovoadas, o vento, os relâmpagos.

Era uma moldura adequada para o quadro de desolação geral.