Patrícia Guedes é professora de Língua Portuguesa na cidade de Carapicuíba - SP e trabalhou o meu conto “Perigo na madrugada” na produção textual com seus alunos. O trabalho ocorreu da seguinte forma:

 

conto: “PERIGO NA MADRUGADA” de VALDON NEZ

Essa é uma história de suspense em que o final original foi retirado propositalmente.
Alunos de quinta série irão, em grupos, produzir novos finais para ela.
Após suas produções, o final original e os novos serão publicados.

Vejamos o conto até o recorte:

 
Perigo na madrugada
 
 
Naquele dia, despedi-me do supervisor e do segurança mais ou menos às duas e quarenta da madrugada. Trabalhávamos em Niterói, próximo a estação das “Barcas”, num bingo, que funcionava até o último cliente sair.
 
Atravessei a avenida e em três minutos eu já aguardava o transporte marítimo das três da manhã, rumo ao centro da cidade Rio de Janeiro. Nesse horário a movimentação de passageiros é escassa.
 
Já tendo embarcado, me dirigi rumo à parte traseira da embarcação, onde se posicionam alguns bancos numa área aberta que possibilita aos passageiros vasta visão da “Baía de Guanabara” iluminada pelas luzes do entorno das duas cidades: Rio de Janeiro e Niterói.
 
Neste itinerário, eu adorava me posicionar naqueles bancos durante a travessia noturna e solitária. Meus pensamentos corriam por inúmeras artimanhas do terreno da vida. Eu não fazia apenas aquele trajeto sobre as águas da profunda Baía - eu ia muito além -, corria pelos trilhos do agradável e do absurdo cotidiano. Era impossível - perante a poesia noturna iluminada-, que eu não formulasse milhões de planos, voltar e avançar no tempo devido ao entorpecimento que me acometia durante os vinte e cinco minutos que durava o percurso marítimo.
 
Revestido de visões diversas, a viagem seguia sem nada fora do comum – ou quase sempre era assim. Porém, naquele dia, desembarquei na “Praça XV” como de costume. Atravessei a praça, apressado, afinal à rua estava quase deserta e eram três e meia da madrugada. Alcancei a “Rua Primeiro de Março” e logo atingi a “Avenida Presidente Vargas” e, por trás da “Igreja Candelária” surgiram repentinamente dois garotos de rua. Percebi simultaneamente que tencionavam me assaltar, mediante suas atitudes de preparação para o ataque. Eles ainda estavam do outro lado da avenida e um frio assustador percorreu o meu corpo tremulo, e eu amedrontado me preparava para correr...
 
Nesse ínterim, apareceu imediatamente um caminhão que recolhia o lixo durante a madrugada. O motorista freou o caminhão bruscamente entre eu e os garotos – os quais ainda estavam do outro lado da rua esperando a passagem do caminhão e também dos demais carros que seguiam pela avenida “Rio Branco”, pois o sinal estava verde para os carros...
 

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A seguir os finais produzidos pelos alunos e em seguida o final original do conto:
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5ª F
Entrei então no caminhão  e fui embora. Os  garotos nos perseguiram por muito tempo até  acontecer um acidente terrível com o carro roubado em que eles estavam. No dia seguinte assistimos pela TV que os corpos ficaram irreconhecíveis. Continuamos nossas vidas esperando nos esquecer daqueles momentos horríveis que passamos na noite anterior.

MEMBROS DA EQUIPE:
 
Annemarrie, Lorrany, Matheus, Carlos Henrique, José Caio
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5ª G
Eu aproveitei que o carro estava bloqueando a rua e corri muito. Mas eles conseguiram me pegar. Pediram tudo o que eu tinha. Me senti perdido, sem telefone e ainda assim consegui chegar em casa e apaguei. No dia seguinte, vi novamente os dois garotos em meu bairro. Liguei para a polícia que chegou a tempo para prendê-los. Como eram menores, não ficaram muito tempo presos. E assim que me viram, prometeram que em breve me matariam. Mudei para uma outra cidade e três meses depois soube que eles foram mortos. Esse dia será um daqueles que nunca vou me esquecer.

MEMBROS DA EQUIPE:

Estéfane, Joice, Kaique, Naiara
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5ª H
Quando o caminhão passou eu subi nele para não ser assaltado. Os dois garotos entraram num carro blindado roubado, mas infelizmente o carro estourou o pneu bem na hora em que os assaltantes conseguiram subir no caminhão em que eu estava.  Tentaram atirar quando de repente, vimos uma ponte e tivemos que pular eu tentei fugir desesperado.
Os dois garotos afinal estavam atrás de dinheiro, mas até agora não tinham conseguido, então continuaram com o seu plano de me roubarem.
Resolvi que iria conversar com os meninos.
- Afinal o que você quer de mim?
Os garotos responderam:
- Seu dinheiro. Por que mais nóis ia querer correr atrás de você se não fosse isso?
- Tentei mostrar a eles que daquele jeito nunca iriam se dar bem na vida e iriam causar muito sofrimento para as mães deles. Disse ainda que não era época de pagamento e que eu não tinha nenhum dinheiro em minha carteira. Foi aí que resolveram parar de me seguir.


MEMBROS DA EQUIPE:

Raaby Lorena, Álvaro, Gérsica, Ketlin

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5ª I
Quando o caminhão parou entrei na caçamba de lixo e os dois garotos atiraram e acabou pegando no pneu do caminhão. O caminhão tombou e eu caí ali, próximo à Igreja da Candelária. Estava passando por lá um policial e ele estava me ajudando. Mas, ele também recebeu um tiro dos garotos. Os dois marginais pegaram a arma dele. Percebi que ali perto tinha um rio. Mergulhei nele. Os dois pagaram um bote e foram atrás de mim. A essa altura, já estava novamente na baia de Guanabara. Atravessei-a, fui correndo para o bingo e avisei ao segurança e ao supervisor que dois garotos armados estavam me seguindo. Eles me falaram que sabiam de dois garotos sendo procurados por matar e roubar pessoas. E quando estava saindo vi os dois e comecei a correr e antes de desmaiar, vi que os dois garotos levaram um tiro cada um dos dois policiais. Um deles levou um tiro na cabeça e outro no peito. Não resistiram e morreram. Aí senti que tinha alguma coisa de errado. Acordei em um lugar estranho cheio de nuvens. Foi aí que percebi na hora que eu cai já estava morto.

MEMBROS DA EQUIPE:

Daniela, Adonias, Gabriele T., William, Gabrielly

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FINAL ORIGINAL DO CONTO:
 
- Sobe na porta do carro! – disse o motorista do caminhão.
 
Desesperado, me pendurei na porta do caminhão, e o motorista acelerou rapidamente seguindo o percurso da rua.
 
- Vi que eles iam te assaltar. – falou o motorista.
 
Nem lembro o que falei para o motorista naquele momento perante o meu nervosismo, mas me recordo de ter agradecido por ele ter me salvado dum pior choque físico e psicológico.
 
Desci da porta do caminhão do lixo uns três quarteirões seguintes e o motorista me recomendou que tomasse mais cuidado e que fosse embora por outro caminho, e se possível, de ônibus.
 
Sentindo-me ainda um tanto amedrontado, segui por outra rua rumo à minha casa em meio ao silêncio, interrompido às vezes pelo barulho de algum carro, na pouca movimentação do perigo noturno...
 

 
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Fala do escritor Valdon Nez sobre os desfechos criados pelos alunos das quintas séries para o final do conto “Perigo na madrugada”.
 
 
 
Muito interessante os finais propostos por vocês, alunos. Realmente gostei de todos os desfechos produzidos. Percebe-se o intenso grau de criatividade nas equipes pensantes e, certamente quaisquer uns dos finais aqui apresentados, se encaixariam perfeitamente na continuidade da narrativa. A literatura tem exatamente tais funções: proporcionar reflexão critica nas pessoas, ampliando suas visões sobre o vasto mundo...
 

 
 
Parabéns a todos os alunos pela rica criatividade apresentada.
 
Agradeço à professora Patrícia Guedes, pelo excelente trabalho desenvolvido na arte de ensinar.
 

Do escritor: Valdon Nez
 
Valdon Nez
Enviado por Valdon Nez em 14/11/2012
Reeditado em 15/11/2012
Código do texto: T3985524
Classificação de conteúdo: seguro
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