As Aventuras de Rizzie Contra a Louca do Rocambole! - Parte 2

Eles riram no bar, mas eu falava sério. A curiosidade me consumia. Não sabia o que fazer, devia mesmo me aventurar nessa empreitada? Ficar de tocaia aguardando a louca chegada da louca do rocambole duro ou mole?

Melhor que minhas rimas foi minha decisão. Apesar dela ter sumido por uns dias devido aos bloqueios, deixava rastros para ser encontrada. Eu estava pronto: Iria ficar de tocaia no esconderijo da louca e quando ela saísse, eu entraria de fininho e averiguaria direto na fonte se uma grande tramoia maligna está em execução. Sim, eu sou muito esperto.

De posse do endereço, informação obtida graças ao histórico salvo das conversas virtuais, me coloquei de plantão em um beco, ela morava em um bairro barra-pesada de Santo André. Temia ser assaltada a qualquer momento. Era Domingo. A louca do rocambole em sua insanidade se candidatou a tocar violão e trompete numa igreja local e seus sopros e badaladas antagônicas podiam ser ouvidos a quilômetros de distância. Como todo bom crente, ou louco (nunca fiz boa distinção entre as duas coisas), a igreja aceitou.

Vi a louca colocar três bolinhos Ana Maria na bolsa e rumar pro culto. Trancou o portão mas ainda tenho algo de infância nas pernas, pular por cima não seria problema. Escalei uma árvore próxima com a ajuda do muro do vizinho. Fiquei sobre o muro e saltei no quintal do inferno, o covil de toda paranoia carente, o lugar onde rocamboles não tem vez... A casa dela. Diferente do portão, a porta estava aberta, entrei, fechei-a vagarosamente e virei-me sem saber o que encontraria.

Um supercomputador que monitorava os passos de todos o homens que ela tanto odiava? Um painel cheio de fotos, frutos de sua doentia obsessão? Um mapa com todo um planejamento para arruinar a vida de todos os covardes, idiotas, babacas, que ela se relacionou (e isso inclui eu)? Havia algo pior que tudo isso.

Um poodle.

Na guerra entre céu e inferno, entre Deus e o Opositor, todos sabem que enquanto Deus batalhava com seu exército de anjos e arcanjos, o coisa-péssima trazia consigo legiões de poodles. Estava de lacinho rosa e me olhava fixamente, lendo minhas reações antes de tomar uma própria. Que criaturinha. Um robô não seria tão inteligente, nem tão perverso.

Diante deste inimigo, senti que o tempo congelou. Por trás do cão, vi dezenas de embalagens de rocambole abarrotadas em um canto. Havia um quadro na parede com uma bela moldura de mogno, onde jazia uma embalagem velha de rocambole e os dizeres entalhados como um título "MEU PRIMEIRO". Várias facas de plástico coloridas decoravam o ambiente e jaziam por tudo que era canto, inclusive na casinha do floquinho de inferno que late, e um ar malévolo percorria o ambiente e era quase palpável, como o cheiro de morango, chocolate e massa formavam um quase sabor para a narina.

Era de longe o lugar mais louco que já havia visitado (ou me infiltrado). A coleira da besta emitia uma fraca luz vermelha, piscante, num segundo olhar, percebi um dispositivo presa a ela. A luz vinha de um LED vermelho que monitorava os latidos do cão, bastava a besta emitir um único som para que a louca largasse seu trompete ou violão e viesse correndo averiguar a invasão. Meu plano não contava com tal imprevisto.

Senti a esperança desfalecer dentro de mim. Coloquei as mãos nos bolsos, conformado com meu infeliz destino... Seria torturado, amarrado em uma cama, com facas de plástico a me serrilhar... Mas espere! Senti algo em meus bolsos... Não, não pode ser! Será que é o que estou pensando?

Continua...

Vinícius Risério Custódio
Enviado por Vinícius Risério Custódio em 23/07/2014
Reeditado em 30/04/2016
Código do texto: T4892782
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