A MULHER DE ALGODÃO.

Toda a minha primeira infância, da 1ª à 4ª série, estudei no “Grupo Escolar Francisco Santos”

A criançada era travessa mas, feliz e nem sabia. Seu Horácio e seu Romano eram os porteiros serventes da escola, um de manhã e o outro à tarde respectivamente. Maravilhosos conosco.

Circulava entre as crianças a história de uma professora que supostamente, fora assassinada pelos alunos mais travessos da escola no passado. A tal, penava de castigo no banheiro das meninas, onde havia sido asfixiada com algodão nas narinas, nos ouvidos e na boca. Ali seu fantasma esperava segundo os boatos, para pegar alguém e castigar no lugar dos alunos que a mataram. Ela era o nosso maior medo.

Ninguém ousava entrar no banheiro sozinho. Eu que era mais medrosa é que não arriscava mesmo. Sempre que entrava no banheiro e o vento batia a porta, saía correndo, com as calças na mão, achando que a mulher de algodão, como a chamávamos, estava atrás de mim. O medo era tanto que eu cheguei a vê-la.

Um dia, quando eu estava na 2ª série, senti vontade de ir ao banheiro antes do final da aula. Tranquei-me e o medo me fez pensar em deixar para ir ao banheiro na minha casa. Mas a dor foi aumentando e não aguentei. Quando o sinal bateu, tive que correr para o banheiro sozinha e nem havia me lembrado da tal mulher. A dor de barriga até aumentou quando me lembrei. Fiquei me contorcendo no vaso por tanto tempo que só me dei conta, quando o silêncio reinou na escola e ouvi o estalo da corrente sob as mãos do seu Romano. A escola estava as escuras. Ele estava fechando o portão...

Desesperada gritei por socorro. Mas o portão ficava do outro lado da escola que estava toda fechada e o velho nem ouviu meus gritos. Vesti-me e saí do banheiro que ocupava e tentei abrir a porta de saída do recinto mas a portas haviam sido fechadas por fora.

Meu Deus!!! Foi a pior sensação que senti na minha vida. Arranjei uma gritaria danada e pra mim a mulher de algodão estava atrás de mim. Juro que estava! Eu podia até sentir sua respiração... Se é que fantasma respira. Fiquei sem voz de tanto gritar.

Pensei que ia ficar presa até no dia seguinte. De repente a mulher de algodão me pegou e comecei a gritar para ela:

- Não fui eu! Me deixa em paz! Me larga! E quanto mais me apertava mais eu esperneava. A mulher de algodão ia me sufocar mas eu não ia deixar as coisas fáceis para ela e resolvi enfrentar meu medo e encará-la. Sim por que até então eu estava de olhos fechados.

A última coisa de que me lembro antes de desmaiar, em choque, foi o rosto de Tia Lolôi (a diretora da escola ao lado), que ouvira meus gritos e avisara seu Romano.

Tudo ficou bem depois. Eles me deram um negócio forte pra cheirar e voltei a mim. Ele me acompanhou até em casa, onde contou tudo e pediu desculpas a minha mãe.

Depois disso acho que descobri que não havia mulher de algodão nenhuma, era fruto da minha imaginação medrosa, mas por via das dúvidas... Nunca mais entrei no banheiro. Nem água eu bebia na escola para não correr o risco de precisar.

Até hoje, aos 49 anos de idade, quando passo na porta daquele banheiro me dá calafrios...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 15/08/2014
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