A Pequena Susie

Indiana, 1958. Na pequena cidade de Gary viviam Elizabeth e Ben Dapper, pai e mãe de uma garotinha de apenas 6 anos de idade, chamada Susie. No inverno daquele ano, Elizabeth Dapper morreu de câncer, uma doença que vinha lhe acompanhando há mais de 2 anos, Ben agora era o único parente de Susie, já que seu pai (que também vivia com eles) havia falecido há 8 meses, essas perdas repentinas haviam mexido com a cabeça de Ben, ele passou a beber constantemente e quase que diariamente chegava do trabalho embriagado, mal havia se passado 2 meses desde a morte de Elizabeth, e Ben já tinha arrumado uma companheira, uma mulher de caráter peculiar, problemática, e cheia de vícios, mas Ben apenas queria alguém para cuidar de sua casa e filha enquanto se ausentava.

Susie ouvia discussões em meio à coisas se quebrando quase que diariamente, após ser colocada na cama. Envolvida por suas bonecas de porcelana, Susie não largava sua caixinha de música, que foi dada por sua mãe 3 semanas antes de morrer, aquilo à deixava mais segura e confortável, principalmente quando botava pra tocar, pois aquela melodia era cantada por sua mãe todos as noites quando ia lhe por para dormir. Susie passou a ser uma criança infeliz e mal tratada, sem o carinho da mãe e a atenção necessária do pai, ela muitas vezes procurava solidariedade em sua madrasta, que por sua vez, só lhe rejeitava e arrumava-lhe afazeres, sempre se queixando da canção que Susie vivia cantarolando pela casa, a mesma da caixa de música. Então, em meio à toda aquela cacofonia de desprezo e solidão, Susie passou a ver e ouvir seu avô já falecido, o qual passava a conversar constantemente em meio aos seus horários de brincar, sua madrasta resmungava ao seu pai, coisas do tipo: -Vamos leva-la à um psiquiatra, vamos internar esta menina !!!

Desde cedo, Susie foi ensinada à rezar todas as noites antes de dormir, e já por um longo tempo, tudo que ela pedia, de certo modo, era paz. Porém entendia que suas orações eram negligenciadas, que ninguém parecia se importar e que não tinha ninguém para ama-la.

Susie passava seus dias rotineiramente, de modo e aspecto quase autista, pois não tinha ninguém para brincar, nenhuma criança vizinha ou familiar, ela dizia que seu avô contava-lhe historinhas para passar o tempo, isto irritava sua madrasta, assim como sua caixinha de música, a qual Susie sempre colocava à tocar num horário próximo ao de almoçar. Certo dia, após uma discussão com Ben por telefone, impaciente Diana (assim era chamada a madrasta de Susie) à colocou para brincar no quintal dos fundos e trancou a porta. Sem suas bonecas ou caixa de música, Susie se sentiu desolada e se pôs a chorar, antes percebeu que havia chegado um homem estranho em sua casa e de mãos dadas com sua madrasta ele subiu as escadas em direção ao quarto, para a pequena Susie aquilo pouco significava, devido à falta de compreensão por sua pouca idade, mas um vizinho também havia visto, no entanto fez vista grossa e passou a conversar com Susie do outro lado da cerca. Ele havia lhe perguntado por que chorava ? E tudo que Susie dizia, era: “Eu quero a minha mãe.”

No fundo, Susie sabia que ninguém se importava com ela, dias depois ela passou a afirmar que o seu avô havia lhe reclamado, e que o motivo era por ela não ter feito o que ele havia lhe pedido: “esfaquear seu pai e sua madrasta”, aquilo deixou Diana muito assustada, e em meio há uma conversa séria com Ben, decidiram procurar um colégio internato para a pequena Susie, um lugar onde ela poderia crescer com os devidos cuidados, mas acima de tudo, Diana queria mesmo era se ver livre daquele carma, porém Ben afirmou não ter dinheiro para pagar tal instituição, pois acabava de ser demitido do seu emprego, 3 dias depois, Diana havia lhe deixado, mas prometeu voltar para buscar o resto de suas coisas. Ben andava impaciente e deprimido, voltou a beber com a freqüência de antes e aos berros vivia mandando Susie tomar banho ou se deitar.

Na falta do que fazer, a criança passou a desenhar nas paredes, o que fez com que seu pai, lhe batesse pela 1ª vez (mesmo que tenha sido apenas leves palmadas), ele também dizia estar cheio de ouvir ela falar de sua mãe, de cantarolar aquela melodia irritante ou até mesmo de seu avô lhe dizendo coisas absurdas, Ben tinha presenciado algumas conversas solitárias de Susie, mas via aquilo como algo normal, pois toda criança costuma ter amigos imaginários, até que certo dia ele viu uma cadeira se mover próxima à Susie, e quando lhe foi perguntada por aquilo, ela afirmou ter sido seu avô chateado com ela.

Dias depois, na manhã de 29 de agosto, Ben foi visto saindo de casa as pressas, logo cedo. Naquele mesmo dia, Diana viria buscar suas coisas (conforme havia combinado com Ben), mas ao fim da tarde, um telefonema anônimo de alguém dizendo ter ouvido gritos, trouxe a policia à casa de Ben e ao chegarem lá, encontraram a pequena Susie morta, caída à beira da escada, ela estava deitada delicadamente com o seu vestido de época um pouco rasgado, mas graciosamente arrumada, segurando uma de suas bonecas, Susie tinha sangue em seus cabelos, provido da pancada em sua cabeça, durante a queda. Todos vieram ver a garota desfalecida, e de repente uma voz na multidão disse: “Esta garota viveu em vão”, seu rosto carregava muita agonia e tensão ao que os olhos lhe viam, mas de todos ali presente, apenas seu vizinho a reconhecia, e ele chorou enquanto se abaixava para fechar os olhos da pequena Susie, e disse: “Levante-a com cuidado. Oh, o sangue em seus cabelos.”

Em seguida, o corpo de Susie foi levado ao legista, seu pai chegou embriagado ao necrotério 4 horas após a necrópsia, juntamente com sua ex-companheira, Diana.

Ambos afirmaram não ter conhecimento de quem poderia ter feito aquilo.

A policia não conseguiu chegar a qualquer conclusão do caso, apenas conseguiram prever o horário do acontecimento, não haviam provas ou qualquer vestígio de um crime.

Havia um mistério sombrio no ar, tão jovem e justa, Susie foi enterrada na tarde do dia seguinte, e sua caixa de música nunca foi encontrada.

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* Este conto é uma adaptação da canção Little Susie de Michael Jackson!

James Gallagher Junior
Enviado por James Gallagher Junior em 17/08/2014
Reeditado em 09/06/2018
Código do texto: T4925955
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