Na sua cabeça

“Socorro!” – gritou Íris. Ninguém podía ouví-la daquele quarto. As baratas passeando pelas paredes brancas lhe causavam arrepios. Suas mãos presas àquela camisa-de-força, não lhe permitiam qualquer mobilidade. Os ratos atravessavam as paredes como se saíssem de um bueiro, e essas se fechavam cada vez mais. O chão tremia como se Íris estivesse dentro de um liquidificador. A sensação de enjoo era inevitável. Tudo foi gradualmente voltando ao normal, até que o véu do silêncio caiu sobre a cabeça da mulher.

Um homem de branco abriu a porta lentamente, possivelmente por medo de um ataque. Tinha uma intrigante tatuagem: zzzzzz. Íris o via com a altura de uma palmeira. Trazia consigo uma bandeja. Nela, um copo de agua e cinco comprimidos de Rivotril cobertos por um pedaço de papel-toalha. Ele aproximou-se de Íris que perguntava insistentemente, e em vão: “Quem é você? O que estou fazendo aquí?” Ao ouvir o zumbido de mil abelhas, a mulher começou a berrar: “Parem! Eu não aguento mais!” O homem de branco, muito contido, chamou as enfermeiras para ajudá-lo a levar a pobre mulher para aquela sala escura. Ao chegar lá, Íris sentiu como se tivesse uma bomba-relógio dentro do peito. Seus olhos esbugalhados dançavam; percorriam todo o ambiente. Apenas quatro pontos de luz e a porta que dava para a liberdade. O tic-tac de um relógio invisível era contado por ela, como se sofresse de TOC.

Ao deitar-se naquela cama, sentiu-se apavorada e tentou fugir. Não havia para onde. Não havia como escapar. Ouviu, então um barulho de eletricidade se aproximando, o que lhe dava gastura. Ao levar um choque, gritou a ponto de poder ser ouvida em outro país. De repente, os olhos abertos… a volta do fôlego… a desaceleração do coração, o reconhecimento do quarto… o sorriso de alívio.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 17/08/2014
Reeditado em 03/04/2018
Código do texto: T4926691
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