Melhor não saber

Ester acordou bem cedo. Eram seis e meia. Estava decidida a descobrir toda a verdade. George não podia sequer imaginar que seu segredo estava por um fio. Aquilo teria sérias consequências. De qualquer forma, sua dedicada esposa, muito curiosa, estava a ponto de se perder. Na noite anterior, enquanto George dormia, ela pegou a chave que estava no bolso do paletó dele. Sentiu ainda o perfume amadeirado impregnado na roupa e aspirou aquele cheiro maravilhoso como se seu olfato quisesse guardar aquele momento para sempre. Ela colocou o paletó de volta no tripé e escondeu o objeto revelador embaixo de seu travesseiro de plumas de ganso. Nesse momento, ela se lembrou do que seu esposo lhe havia advertido. Ela jamais deveria se aproximar daquela caixa preta. Nem a faxineira poderia mexer ali. Era algo extremamente sigiloso. Lembrou-se, então do estranho objeto que lhe causava arrepios, mas que lhe atraía profundamente pelo mistério ao redor dele. Às 10 horas da manhã do fatídico dia, George ligou, avisando que não iria almoçar em casa em virtude de uma reunião. Sendo assim, Ester teria muito mais tempo para analisar o que estava escondido, sem que ele soubesse. Em seu coração havia medo, mas ela não desistiu. Entretanto, a reunião fora cancelada e George mudou de planos. Romântico que era, ele passou em uma floricultura e comprou um belo buquê de rosas vermelhas pois queria agradar a esposa. Além disso, ele passou em um restaurante de comida chinesa e comprou yakibifum para dois, prato que ambos adoravam. Enquanto isso, a esposa desconfiada se sentia um tanto desencorajada. Não era indecisa, mas sabia que ao agir de tal forma, poderia destruir seu casamento. Ela só não imaginava o que estava por vir. Até que se decidiu. A caixa ficava sobre a mesinha da sala de estar. Ela andou em sua direção e abriu a caixa sem pestanejar. Chocada com o que havia visto, ela ficou boquiaberta e, antes que pudesse retirar os objetos de dentro da caixa, sentiu um fortíssimo golpe na cabeça que a fez perder os sentidos. No chão, rosas vermelhas, um rosário negro, uma lista com mandamentos aterrorizantes, aos quais George seguia até então. Acordou às 10 da noite, sem se lembrar do próprio nome. Sua cabeça doía fortemente e percebeu que estava suja de sangue. Tinha apenas a roupa do corpo e estava rodeada por mendigos, há léguas de sua casa. Enquanto isso, sua família chorava por sua morte prematura. A farsa de um suposto assalto foi aceita por todos. No funeral de sua esposa, George chorava copiosamente, mas tinha certeza que seu segredo havia sido morto e enterrado.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 18/08/2014
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