Diante dos seus olhos

Deise acordou entristecida pelas lembranças que aquele dia lhe trazia. Há muitos anos naquela data seu esposo havia cometido o maior dos crimes e, sendo esse contra si mesmo, fez com que ela se fechasse ao mundo e passasse a cuidar apenas de seu bem mais precioso. O dia foi tranquilo. Ela levou sua filha à escola, cozinhou, fez suas tarefas domésticas... Tudo correu normalmente. Entretanto, por volta das três da tarde, ela sentiu um arrepio estranho e se lembrou de promessas dignas de esquecimento. Ao cair da noite, a pequena Susana ouviu alguns ruídos vindos da sala de estar. A luz havia acabado e não se podia prever quando voltaria. A menina, captando fortemente a energia carregada do ambiente, desceu as escadas segurando um candelabro prateado, atravessando cuidadosamente o breu. O som parecia ainda mais forte. Sobre a mesinha, a fita de Poltergheist e o relógio marcava cinco para meia noite. O estranho ruído parecia vir da cozinha. Ao adentrá-la, sentiu um arrepio que lhe gelou a alma. Então, olhou fixamente em direção ao vitrô, que estava aberto. A lua lá fora, linda; o céu, não. Era rajado, cheio de nuvens, que desviavam daquela bola prateada no espaço. Susana passou a ouvir passos. Ficou amedrontada a ponto de se abaixar e se encolher no chão de tanto medo. Tremia de pavor, esperando ser levada por algo ainda desconhecido. Até que a voz adocicada de sua mãe rompeu o silêncio da madrugada gélida de inverno. Nesse instante, a luz voltou. A mãe pegou a filha pela mão e, subindo as escadas, notaram que ainda havia pipocas espalhadas pelo chão da sala. Já lá em cima, a menina pediu para dormir com ela, pois havia tido um pesadelo e estava bastante assustada. A mãe permitiu. Poucos minutos depois, Susana voltou a ouvir o tal barulho, cada vez mais forte, mais forte... Até que deu um grito ensurdecedor. A mãe lhe perguntou o que estava acontecendo, sem obter resposta. A menina simplesmente se levantou da cama como uma sonâmbula, seguiu em direção à porta do quarto, abriu-a e deu alguns passos em direção ao corredor. A mãe resolveu segui-la novamente, implorando fervorosamente a proteção de seu anjo da guarda e carregando consigo um crucifixo no pescoço. Susana, mais uma vez, desceu as escadas e, ao chegar ao último degrau, viu algo estarrecedor. A mãe, de longe, percebeu apenas um vulto passando rapidamente diante de Susana, que caiu ao chão, já sem vida. Deise, chorando, aproximou-se do corpo inerte da filha e se lembrou das palavras de seu obcecado marido em levar o que de mais importante eles haviam tido. O choro copioso escorria por aquele rosto pálido. Sentiu, então, que, de nada adiantaria continuar vivendo. A câmera foi se afastando e começaram a subir os créditos...

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 19/08/2014
Código do texto: T4929205
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