Morte é silêncio

Era um dia comum, como qualquer outro. Mas tinha algo de errado. Uma sensação no fundo do meu inconsciente me dizia que algo estava errado. Que algo ruim aconteceu.

Estava na faculdade. Assistindo à uma aula monótona, quando meu celular toca, levo um susto. Peço licença e saio para atender.

Olho para a tela, não reconheço o número. Atendo. Silêncio do outro lado da linha.

- Alô, quem é? - Silêncio - Alô?!

- Você é a Isadora?

- Sim, sou eu. Quem é?

- Isadora sua mãe e seu irmão morreram. Eles foram assassinados em casa.

Começo a entrar em desespero - Quem é?

A ligação cai.

Digito o número da minha mãe, o celular chama, mas ela não atende. Tento ligar para meu irmão dessa vez. Nada.

- Droga!

Estou totalmente em desespero.

Entro na sala, pego minhas coisas e saio. Minha amiga, Valentina, me segue.

- Isadora!

Paro e espero ela se aproximar.

- Isadora, o que aconteceu? Por que você está tão alterada?

- Alguém me ligou e disse que mataram meu irmão e minha mãe, não consigo ligar para eles, estou ficando desesperada. Preciso tentar descobrir se aconteceu algo com eles. Preciso ir, tchau.

Saio correndo em direção ao estacionamento, entro no meu carro e saio em disparada.

Ao chegar na casa dos meus pais, estaciono e desço do carro. Estou com medo de entrar lá, e a cada passo que dou fica ainda mais intenso.

Abro a porta, e grito pela minha mãe, grito pelo irmão. Após dois minutos sem resposta resolvo procurá-los pela casa. Avanço pela sala há procura de qualquer coisa suspeita, mas não encontro nada e avanço em direção a cozinha.

Entro na cozinha não vejo nada, sigo o caminho dando a volta na bancada. Ao chegar do outro lado, eu os vejo. Minha mãe e meu irmão, seus corpos sem vida no chão, vejo o sangue que os rodeia, vejo o corte profundo na garganta de ambos.

Saio da cozinha, volto para sala, estou em choque. Não acredito que eles estão mortos

- Quem? Quem poderia ter feito isso com eles?

Meu pai entra na sala, ele está calmo não deve saber o que aconteceu. Antes que perceba começo a falar tudo que aconteceu nos últimos trinta minutos.

- Pai, me ligaram lá na escola dizendo que o mano e mãe estavam mortos, tentei ligar para eles mais eles não atendiam, vim correndo para cá – Começo a chorar desesperadamente – Mataram eles, pai! Mataram eles. Contorço-me com a dor que aperta meu coração. Meu pai se aproxima.

- Isadora, calma.

- Como posso ter calma? Mataram eles.

- Isadora, eu os matei.

- O que? Do que você está falando pai?

- Eu matei a sua mãe e seu irmão.

Não consigo entender porque ele está fazendo brincadeira em uma hora como essa, será que ele acha que estou brincando sobre a morte deles? Como ele faz uma brincadeira desse gênero com essa calma. Olho para os seus olhos então entendo ele não está brincando. Ele nunca falou tão serio em toda a sua vida. Ele os matou.

- Por que o senhor fez isso pai?

- O porquê, eu poderia dar mais de mil respostas para sua pergunta, mas nenhuma que você realmente entenda, então tentarei explicar da forma mais simples possível, ok? – Sua calma é assustadora, o jeito que pronuncia cada palavra, como se saboreasse, me dar arrepios – Digamos que eu tenho um sonho, um sonho bem simples. Em meu sonho eu e você matamos pessoas juntos. Tiramos a vida dela com uma facilidade e prazer imenso. Consigo até imaginar minhas mãos envoltas das suas estrangulando uma pessoa, sentindo prazer ao sentir o ultimo sopro de vida esmaecendo de seu corpo, a última batida de seu coração. Você deve estar se perguntando “porque os matou?”, deve estar pensando “esse cara e doido”, mas não minha querida, não sou maluco e os matei porque eles estavam atrapalhando meus planos.

Ao ouvir essa ultima frase, saio correndo da sala em direção meu carro, desligo o alarme e entro no carro, meu coração está batendo tão forte que sinto nos meus ouvidos as batidas. Sinto que fui destruída, tento me convencer de que o aconteceu não passou de uma brincadeira de mal gosto, que não passa de um pesadelo. Mas sei que é realidade, aquele olhar para mim, muito real para ser um sonho.

Dou a partida no carro, e piso no acelerador. Viro a esquina como se fosse a ultima coisa que fosse fazer na vida, Acelero mais. Estou chorando, não consigo parar, não enxergo o caminho.

Não sei como aconteceu, não vi de onde surgiu.

Bati em um carro, sei que estes são meus últimos minutos, é que vou morrer... Silêncio.

Fim.