"O Demônio de Blackchapel" - Parte XVI

Capítulo 16:

O Quarto (Parte 1)

Desespero.

Melissa Garden sentiu crescer dentro de si, um profundo desespero. Sentiu um abismo profundo abrir-se abaixo dela e viu a si mesma ser lançada a um mar de negro e escuridão, um espaço vazio e sem fim. Uma imensidão negra de temor e morte cuja a obscuridade transcende a noção humana de pavor. O medo profundo e absoluto.

Enquanto lutava para se manter em pé, podia ouvir claramente um respiração bem atrás de si. Era forte e pesada, tensa e ameaçadora. A situação em que se encontrara, fazia-a se sentir como se uma verdadeira criatura das trevas estivesse ali, bem atrás dela, apenas esperando o momento certo para atacar e por fim de forma brutal à vida de sua indefesa presa. E outra coisa era pior, muito pior, que tornara Melissa praticamente incapaz de reagir seja da maneira que fosse. A escuridão. A escuridão que tornou-se o maior medo de Melissa quando ela tinha apenas sete anos e até hoje ela se lembrava.

O dia estava nublado e uma enorme nuvem negra de chuva, formava-se no céu ao horizonte e pouco a pouco tomava conta do céu, ameaçando uma grande tempestade em breve.

Melissa nunca gostara de tempestades. Tinha medo, principalmente dos raios e sempre ficara assustada quando tempos assim chegavam. Tentava controlar, de verdade, mas sempre fora muito mais difícil do que imaginara. No fundo, talvez não quisesse de fato vencer esse medo. Era uma luta que para ela não valia a pena lutar, afinal, fugir dos medos era mais fácil e seguro do que enfrentá-los, mas pelo menos fazia um esforço na frente de seu pai que sempre dissera para não ter medo de nada e não gostava nenhum pouco de sua pequena Melissa ter medo de algo, então ela aprendeu a pelo menos na frente dele, vestir uma máscara de segurança e de suposta coragem frente aos seus maiores temores

O pai de Melissa era um homem sério, comprometido com o trabalho e muito rígido. Não era um homem sentimental, preferia mais o lado racional de ser, e não demonstrava muito suas emoções, mas um sentimento era certo: seu amor por sua família. Roger Garden era um homem que apesar de tudo, amava sua família e disso ninguém duvidava. Claro, um amor não manifestado, pelo menos não das maneiras convencionais, mas ele existia e Melissa sabia disso, ou pelo menos pensara saber.

Em sua infância, Melissa era um pouco fechada no que diz respeito a relacionamentos. Era introvertida e caseira, mais ao mesmo tempo, era aberta emocionalmente. Era chorona e frágil. Dificilmente conseguia esconder suas emoções e seus medos até que com o tempo começou a achar que isso era uma fraqueza perante aos outros. Criou-se então a necessidade de se criar uma espécie de escudo, uma máscara que a deixasse segura, frente aos desafios e a dificuldade de controlar suas emoções, sempre tão tempestuosas e agitadas fazendo-a entrar em conflito consigo mesma.

A casa da família Garden era pouco modesta. Não que os Garden fossem milionários, mas eram estáveis financeiramente e gozavam do conforto e da comodidade proporcionadas pelo dinheiro, algo que aliás sempre foi alvo da aversão de Melissa, já que na mente dela, o dinheiro acabava por corromper as pessoas, tornando-as demasiada egoístas e vazias. Reconhecia a necessidade do dinheiro, mas mantinha a crença de que seu excesso e poder, destruía a parte boa das pessoas, destituindo-as de sua humanidade e compaixão. Para a garota, o dinheiro também tirava a alma do trabalho verdadeiro e honesto, retirando sua verdadeira essência, então desde cedo, apesar de fazer parte de uma família com certa riqueza, ela desde cedo, preferia manter certa distância daquilo que segundo ela corrompia os homens.

O céu agora estava ainda mais escuro e em pouco tempo a chuva forte começaria. Melissa, que estava a observar o céu e o jardim de uma das varandas de sua casa, deu por si assustada demais com a tempestade eminente para continuar ali. Já era possível ouvir trovões que soavam alto demais, então ela rapidamente entrou em casa, já sentindo os temores comuns à ela quando o tempo tomava proporções tão catastróficas.

Para tentar aliviar ao máximo seu pavor, Melissa gostava de explorar a mansão de sua família. A jovem era uma garota muito curiosa e para uma criança como ela, andar pela enorme casa, era como uma incrível jornada a um mundo totalmente desconhecido e isso somado a sua notória curiosidade a cerca das coisas, fazia com que adorasse essas empreitadas por cantos desconhecidos, enchendo-a de excitação e fazendo-a esquecer de seus mais profundos medos e até mesmo da chuva forte que agora já começava a cair lá fora.

Melissa já conhecia praticamente todo canto da casa, com a exceção de um único lugar. Um quarto secreto, localizado atrás de uma passagem secreta atrás de uma das estantes de livros da biblioteca. Todos na família desconheciam o interior do quarto. Todos menos uma pessoa: seu pai, Andrew Garden que havia lhe advertido várias e várias vezes para nunca e em hipótese algum sequer chegar perto daquele quarto. Ninguém exceto ele poderia entrar ali o que claro instigou e muito a curiosidade da pequena. Afinal de contas, o que será que havia de tão importante e misterioso ali dentro, para que Andrew Garden tivesse tanta necessidade de manter em segredo? Esta era uma pergunta que Melissa não era capaz de responder, o que claro, apenas fez aumentar ainda mais a sua curiosidade.

Agora por fim, ela resolveu enfrentar a maior de todas as jornadas, a mais perigosa e talvez mais esclarecedora de todas as empreitadas. Ela decidiu se arriscar e descobrir o que havia dentro do quarto misterioso e foi na direção dele que ela se dirigiu.

Nameless
Enviado por Nameless em 03/09/2014
Código do texto: T4948195
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