A Carta De Suicídio De Um Poeta

Essa carta é encaminhada ao indivíduo que se deparou com a minha caderneta de poupança. Provavelmente após a terceira lua da minha extinção. Meu nome é Wesley, vou descrever o ultimo dia inútil da minha infeliz existência.

Primeiramente antes de me dirigir a vocês contando-lhes a respeito do meu ultimo dia nessa perturbadora presença do azar, desejo dizer que perdi a vontade de viver quando iniciei a carreira de contador. Minha vida se resume em equações, salmão enlatado, mais equações todos estes dados poderiam ser a razão do meu surto mais não foi. O fato é que me sinto insuficientemente vivo, só vejo números, pessoas putrefatas. Sinto-me desgostoso em saber que em 23 anos de vida só pude contemplar uma vez a lua, o céu, a estrela cadente que levou minha vida embora quando na minha inocência pedi a ela que me dessa inteligência para ser um dia um grande contador.

Mas não a culpo dos meus atos. Eu culpo o sujeito de cabelos comprido até o ombro que cheirava a peixe e possuía uma monstruosa verruga na testa. Ao acordar eu fui até o coffee comprar um capputino assim que a atravessei a porta de vidro, derramei meu café nesse homem que me insulto abundantemente, permaneci abatido, tentei lhe pedi desculpas, mas o ódio era tanto que o deixava surdo. Entrei em meu velho Chevette preto que quase não funcionava, vi uma fotografia que nunca havia reparado. Ela sempre esteve ali? Nela havia uma Belíssima mulher de cabelos negros e pele muito clara quase não dava para ver sangue em seus lábios tinha muitas tatuagens em seu corpo que cobria os braços de tantas, havia uma menina em seu colo parecia uma bonequinha de tão formosa, atrás da foto a data e uma dedicatória endereçada a mim. De uma forma intrigante pensei que pertencia aquele dia. Foi entretido na foto e ouvindo You Shook me all night long do AC/DC que acabei batendo o carro em um poste deixando uma quadra cheia de academias de lutas e musculação sem luz. Consequentemente vários homens com o dobro do meu tamanho que pareciam até feitos de rochas, vieram reclamar comigo fazendo eu me sentir insignificante.

A policia enfim chegou, e eu fiquei detido. Na cadeia dividi a cela com um ser muito atormentado que queria me matar. Ele me atraiu psiquicamente com a maneira de pensar, ver o mundo, aquele sorriso impregnado em seu rosto mesmo ele estando acabado ele permanência com sorriso, invejei aquilo. Até quando compunha frases complexas de maneira simples querendo ser engraçado, mas sem a mínima graça. O jeito que ele tentou me matar foi meio inusitado ele proferiu:

- Velho amigo que agradável, veio me desprender do tédio, encontrava-me extremamente sozinho nesta cela imunda. Hoje camarada você vai ser marcado para eu te encontrar quando o seu tempo passar e seu passado retornar da zona de esquecimento.

Liberou um riso extremamente medonho depois disso ele se calou, eu o interroguei tentando interpretar, mas ele se fechou em pensamento, apenas sorria e repetia as mesmas expressões. Será que ele era insano? Ou inteligente manipulador? No final ele me eletrocutou com uma arma de choque na nuca, não há muitas formas de matar alguém dentro de uma cela na prisão. Eu comecei a ter convulsões, devido a alguns problemas de saúde que trago comigo, e fui retirado da cela só ouvi suas gargalhadas bem no fundo na minha mente.

Não souberam me explicar direito, só falavam que a ambulância deu uma freada e eu fui parar na pista acabando por ser atropelado e sofrendo lesões graves na cabeça.

Cinco horas de coma, neste momento vi minha vida passar diante dos meus olhos, memorias que eu esquecera retornaram aos meus sentidos. Foi ai que eu acordei no hospital. Mais um minuto e meu cérebro teria parado de vez. Que infelicidade porque não morri naquele momento? Depois de dar alta a mim mesmo voltei para casa e cogitei nas memorias que me vieram durante uma rápida ida ao outro lado da vida. Afinal! Eu nem sabia que tinha perdido a memoria.

Com a volta dessas memorias lembrei que as pessoas da fotografia que eu nem me recordava, eram minha esposa e minha filha. Isso mesmo caro amigo eu pertencia a uma família. Naquele dia eu as tinha levado para uma praia no Litoral do Paraná, depois de termos nos divertido muito estávamos retornando para casa, quando por um infortúnio um caminhão vinha em mão contrária nos pegando de surpresa e colidindo com nosso carro que capotou. Minha filha foi lançada a milhas de distancia, minha esposa tentou salva-la e acabou sendo socorrida por ultimo assim morrendo antes de chegar ao hospital. E o desgraçado que causou o acidente nem parou para prestar socorro simplesmente fugiu. Nesse momento tive uma vaga lembrança de já ter visto o caminhoneiro, será possível? Era o meu “colega” de cela aquele assassino.

Depois de todo esse alvoroço é claro que eu fui até a cadeia tirar satisfações com ele, agi sem pensar. Ao chegar ao local eu entrei na cela e ele havia se enforcado e com algo afiado desenhou um sorriso em seu rosto. O indivíduo era psicopata mesmo. Nem consegui liberar minha fúria o que me deixou mal o suficiente.

Cheio de fúria, voltei a minha casa, novamente refletindo muito para não surtar, foi então que eu surtei lembrando que a mesma criatura que deixou impossível eu viver com a minha família, chamou-me de velho amigo, camarada. Que patife cara de pau, eu não queria viver mais, meu mundo desabou, em lagrimas me afundei, já não havia chão abaixo dos meus pés, não mais compreendia o que era certo e o que era errado, o que era real ou imaginário. Comecei a ver na minha frente todas as pessoas que falaram comigo nesses últimos dias. Decidi escrever esta carta para Jacob, meu velho amigo imaginário. Senti-me empurrado para janela, quando já estava a ponto de cair Jacob me trouxe novamente, no mesmo instante estava acordando debruçado sobre a escrivaria, onde eu devia estar a uns 3 minutos escrevendo a carta.

Refleti que deveria acabar onde minha vida perdeu todo o sentido, me dirigi ao carro, ainda amassado da batida. Fiquei quieto no banco de trás com todas as portas e janelas trancadas. Meu Deus quanto tempo demora para um homem morrer sem ar no seu próprio carro?, cada segundo parecia uma eternidade, memorias iam e vinham. O homem da verruga, o salmão enlatado, números, o acidente. Tudo rodava e enchia minha cabeça de pensamentos, me lembrei da colt que tinha para minha própria segurança, havia guardado embaixo do banco do motorista, eu a peguei olhei uma ultima vez a lua, e escutando aquela velha música que eu gosto tanto, Tears don’t Fall - Bullet for my valentine, contemplei uma ultima vez a foto das pessoas que eram a razão do meu viver. Aqueles cabelos negros, aquele olhos que prendem a atenção e penetram até na alma, e aquela linda menina em seu colo.

Nesse momento houve um disparo, eu havia dado fim em todas as magoas e infelicidade e tudo poderia ser resumido em algumas silabas. Paranoia, já não estava em minha plena consciência desde o alvorecer do dia. E três luas depois sabia que alguém me encontraria.