Quatro paredes

Não fazia mais ideia de qual dia era, pois não podia ver a luz do Sol, naquele lugar escuro, sombrio, sujo, com paredes pretas e apenas um lençol em que podia me deitar para não encostar no chão frio. Sem luz, sem nenhum tipo de conforto e sem nenhum tipo de higiene. Tinha que me virar entre aquelas quatro paredes cheias de lodo, aquele piso repleto de lixo, com a água e comida jogadas por baixo da porta uma vez por dia e com o meu pequeno e imundo lençol.

Não havia contado, não havia uma só voz. Começar a enlouquecer, com fome, com frio, com dor, suja e desidratada, não me parecia anormal, já era de se esperar, com as minhas condições qualquer pessoa que seja, iria ficar louca ou morrer. Morrer não me parecia uma ideia ruim, o que me mantinha viva era a vontade de viver, de rever, de amar, de sentir, de um dia poder envelhecer e quem sabe, morrer sem sofrer. Tudo o que eu mais esperava era uma palavra gentil, que me dissesse que eu podia sair ou que eu já podia morrer.Não sei por que mas não estava preparada para morrer.

A única vantagem de ter sido sequestrada era que entre aquelas paredes mesmo não podendo enxergar, eu podia ver como a minha vida era ótima e o quanto eu amava aqueles que viviam a minha volta.

Mesmo estando em uma situação que causaria desesperança em qualquer um, eu ainda não tinha perdido a minha.

Aquela voz doce que eu esperava, aquela palavra gentil, nunca aconteceu. Só me lembro de ter escutado uma voz de um homem, que logo depois arrombou a porta. Era um policial, que sem entender por que fizeram aquilo comigo me carregou no colo ate a saída. Eu tinha quatorze anos, e estava com trinta quilogramas.A maldade dos homens não tem limites. Depois de dez meses fui recomeçar a minha vida, após um longo tratamento, que meus pais providenciaram, meus amigos não deixaram de ir um dia no hospital. Então eu descobri que o que não me deixava morrer eram eles, era o amor.