Vindo do Aniversário de uma Amiga

Minha casa é de frente para uma praça, na Avenida Pedro Matado, uma das mais famosas daqui da cidade. Fora recentemente reformada: bancos pintados, arborizada nas extremidades, lixeiras, e no meio, um poste que ilumina todo o simpático local. Uma senhora de idade bem avançada, que mora numa casa ao lado, é quem cuidava da pracinha.

De vez em quando, meu olhar cruzava com o dela enquanto espiava pelas grades do seu portão de ferro.

No entanto, eu queria contar algo além disso: há uma semana, vindo do aniversário de uma amiga, sempre passo pela praça - sou muito distraída, ando olhando para cima, contando as estrelas, as vezes - e um vento gelado passou por mim, não só muito frio que me fez arrepiar a espinha como também fétido. Olhei para os lados para ver se tinha algum carro da fossa, mas aquela hora, quinze para meia-noite, quem estaria trabalhando? Um motoqueiro deu uma curva, raspando o chão, quase levantando o meu vestido, a marca do pneu ficou na estrada e o barulho foi diminuindo até ele sumir na esquina.

Por um instante, aquilo me distraiu. Porém, não lembro da fumaça do pneu ter sido tão forte para formar uma névoa tão intensa aonde eu estava. Apressei os passos, atravessei a pista e a pracinha quando me deu aquela vontade de olhar para trás... Os bancos estavam desgastados, o piso tinha dado lugar a uma areia escura e a lampada do poste piscava; os arbustos estavam secos e seus galhos pareciam mãos. Instintivamente, olhei para a casa da velha, e ela estava me encarando. Senti tanto medo que peguei a chave, enfiei na fechadura, abri a porta rapidamente e entrei.

Nefer Khemet
Enviado por Nefer Khemet em 14/12/2014
Reeditado em 23/02/2021
Código do texto: T5068803
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