UM CADÁVER NO MEU JARDIM (cap. 11)

Eram onze horas da manhã quando o celular de Marília tocou. Naquele momento ela estava na cozinha tentando preparar o almoço da família. Tereza estava fazendo muita falta naquela casa. E o pior de tudo é que enquanto houvesse o corpo enterrado no jardim, não podia se dar ao luxo de contratar outra empregada. Vida cruel.

- Oi, Carlos. Seja rápido. Acabei de queimar o arroz e…

- Seu Rodolfo morreu.

- Quem? O jardineiro? – Marília desligou todas as chamas do fogão e sentou em uma cadeira da cozinha, atordoada. – Morreu como?

- Atropelado. Acabei de ler na internet. Foi hoje de manhã.

- Mas… você tem certeza que é ele?

Carlos se mostrava nervoso ao telefone.

- Sim. É ele. Você acha que…

Ele interrompeu a frase. Marília, ainda sem entender o que o marido queria dizer, insistiu:

- Acho o quê, Carlos? O que você está tentando dizer?

- Você acha que um dos meninos poderia… Bem, um deles ou dois poderiam ter…

Marília sentiu o mundo rodar. Se não estivesse sentada, talvez tivesse desabado no chão.

- Não! Eles não seriam capazes disto!

Ou seriam?

*

Quando André e Cris chegaram da faculdade pontualmente às 12h30min se depararam com os pais sentados no sofá aguardando-os com ansiedade. A expressão deles era terrível.

- E aí, gente – cumprimentou André para só depois se dar conta que algo estava errado. – Ué, o que houve? Morreu alguém?

Carlos não deixou por menos.

- Talvez você possa nos dizer – e apontando para Cris. – Ou você.

Os irmãos se entreolharam sem entender absolutamente nada.

- Ei, espera aí! – exclamou Cris ficando nervoso. – Fale abertamente. Qual a desgraça da vez?

- Seu Rodolfo morreu esta manhã.

- Puxa, sinto muito – falou André disfarçando seu alívio. – Mas o que nós temos a ver com isto?

- Me respondam com franqueza – exigiu Carlos ficando em pé e encarando os filhos de igual para igual. – Foi um de vocês?

- Claro que não – retrucou André rapidamente.

Cris perguntou muito pálido.

- Ele morreu como?

- Foi atropelado hoje de manhã cedo – esclareceu Marília um pouco mais tranquila. Os meninos não podiam estar mentindo. – Saiu em um site de notícias e o pai de vocês o reconheceu pelo nome.

- Me admiro, mamãe – André fingiu estar muito ofendido, - que vocês dois tenham desconfiado de nós.

- Tudo bem, desculpe – pediu Carlos passando a mão nos cabelos, tentando recuperar a serenidade. – Desculpem, garotos. É que esta história nos perturbou demais. Eu vou resolver tudo. Estou pensando em uma maneira de tirarmos o corpo da Tereza daqui e pôr um fim nisto tudo.

- Não vejo a hora – suspirou Marília.

- Nós também – retrucaram em uníssono os gêmeos.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 12/01/2015
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