O GUARDANAPO.

De manhã cedo Laura saiu com seu pai para fazer compras, ela tinha um humor bem especial: Extenuada do dia anterior de trabalho no escritório, ela só levantou mais cedo porque tudo havia acabado na dispensa.

Já seu Otávio era o retrato da alegria matinal, animado pelo sol de outono ele já havia levantado da cama duas horas mais cedo que a primogênita aborrecida; ele era um homem bastante otimista, mesmo morando no Brasil: Que a advogada abominava como nação,país, estado.

E sob forte tensão inicia-se o tour que ambos farão ao Supermercado da região paulista, na cidade agora tão transformada pelos anos 2.000; pai e filha depois de um café da manhã recheado não só de bolos, pães, queijos e frutas, mas também por reclames da "senhora reclamona" se dirigiram a garagem da casa para pegar o carro, foi quando a mulher de 33 anos, alta, loira, e que usava um óculos escuro maior que seu rosto miúdo: Escorregou e caiu patinando próximo ao jardim...

Seu olhar faiscava descontentamento, e não tardou para que seu Otávio a acudisse preocupado - Filha você se machucou? e ela retruca maldizente - O senhor que dever verificar isso...não eu! Maldita hora que voltei para casa! devia ter continuada casada com aquele idiota do Fernando, pelo menos lá, não teria que levantar às 9 h da manhã, para fazer compras com o papai, depois de trabalhar como uma anta, num escritório...Cheio de processos ridículos, que nem dinheiro direito me darão...

O olhar de seu Otávio congelou diante de tanto mal humor e nefasto entendimento da vida prática, ele então resolveu sair do salto de tranquilidade e se enfiou num tamanco português dizendo: SE VOCÊ QUER VOLTAR PARA SUA CAMA QUENTE, VOLTE! POIS POSSO MUITO BEM FAZER MINHAS COMPRAS SOZINHO!

Nesse momento a dama emburrada e esburrachada, toma a dianteira, levanta do chão, sacode a poeira, de não ter tido nenhum ferimento, pega sua bolsa que está caída, e coloca no ombro, e vai rumo ao portão, a pé...

Deixando seu pai na solidão do instante, ele fica inerte, ao ver a figura feminina que desvanece, sumindo na próxima esquina, ele não entende a razão para tanto mal humor, afinal a moça tivera carinho na infância, ótima educação, pais dedicados, e quando perdeu a mãe há dois anos, um apoiou o outro, e Laura não demonstrara tanta rispidez diante da vida, ou da morte, que seja, da perda: Pelo contrário superava com dignidade o episódio que ceifou a existência da progenitora: um assalto.

Do outro lado da cidade, uma mulher caminha...com raiva, levando sua bolsa negra grande, onde havia um arsenal de objetos, desde batom, até sutiãs, papéis, livros, e outros bichos...Ela andava, andava, e toda a dor que sentia não passava, não a dor do tombo pueril, mas a dor da desolação, da amargura, da perda, do incômodo de viver num lugar tão hediondo, onde impera o acaso, e a imensa insegurança...

Ao meio dia, a filha de seu Otávio alcança um shopping bem próximo ao seu escritório de advocacia, ela pensa em ir lá, mas resolve primeiro comer alguma coisa, e entra em restaurante, senta-se à mesa, ainda remoendo a péssima manhã que teve com seu pai, e absorta em pensamentos, ouve a voz do garçom que pergunta - A senhora espera alguém? Ela responde que não, e pede o cardápio, ele encontra seu olhar que inicia um reluzir, os olhos verdes, e os traços delicados dela chamam bastante a atenção do homem, que é forte, alto, olhos azuis, e tez morena do sol...

Ela olha para seu olhar e sente um alívio em seu dia, ela faz o pedido, ele anota, e se esvai para providenciar...ela ressente sua ausência...de uma forma atípica, e se surpreende com o fato de estar experimentando tal profusão de sentidos. Ela percebe que seu óculos escuro estava empenado da queda no jardim, e que as lentes estavam embaçadas, ela então procura um guardanapo, e não acha...chama o garçom que na verdade se chama Pedro, ele vem, ela indaga : Preciso de um guardanapo de papel, para limpar meu óculos, ele imediatamente providencia o seu desejo, trazendo as folhas branquinhas do objeto necessário ao ato dela: limpar.

Ela realiza a ação de limpeza, e ao invés de comer, deixa escrito seu e-mail num dos guardanapos, colocando-o visível em baixo do saladeiro, e então sim se alimenta rápido, e vai embora...

O homem acha o guardanapo com o nome dela, e o e-mail, fica perplexo, e pensa, que mulher estranha, mas guarda com carinho o objeto...mas tarde em casa, ele redige uma mensagem para ela, que recebe, já refeita na casa do pai, os dois passam a se comunicar...e marcam de sair, na próxima semana, na sexta-feira, eles se encontram no Restaurante, ela janta, ele serve, e depois ele muda sua idumentaria e a leva para dançar, eles se abraçam e se beijam, mas, ele a leva em casa, e entrega a ela um presente, e pede para que ela abra somente, quando for dormir...eles se despedem, ela adentra seu quarto, e olha o embrulho tão belo, tão elegante, e se encanta, abre, e no interior há um pano, rosa, ou lilás, ela percebe que é um guardanapo, o desmantela, e no seu interior há um punhal, sujo de sangue, e um bilhete que diz: Eis aí o sangue de sua mãe.

Valéria Guerra
Enviado por Valéria Guerra em 25/02/2015
Código do texto: T5149460
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