I - O que se esconde na noite...

Tânia abriu seu guarda-chuva para proteger-la dos gélidos pingos de chuva noturna. A hora já tardia, aliada ao vento frio de abril, tornava as ruas da cidade cada vez mais desertas. Jovem mulata de 21 anos, alta e com uma silhueta esbelta, dona de uma beleza que facilmente lhe concederia um emprego de modelo, caso as oportunidades lhe fossem mais favoráveis, Tânia sabe que andar na rua ás duas da madrugada é algo muito arriscado, más ela não abriria mão de lutar por seu futuro, mesmo que para isso ela tivesse de trabalhar durante todo o dia como recepcionista em uma agência de advocacia no centro da cidade e ainda enfrentar mais algumas penosas horas de estudo em seu curso de enfermagem.

Seguindo sua caminhada de três quilômetros da parada, onde desembarcara do ônibus, até a sua casa a jovem passa por um casal apaixonado a namorar na calçada sob a luz vacilante de um poste. A cena lhe causa certa comoção, quando ela se recorda da época em que namorava Marcus, seu único e jamais esquecido amor, más também, sua maior decepção. As recordações do passado começam a brotar em sua mente e ela, por alguns minutos, perde a atenção aos acontecimentos do caminho até que, repentinamente, um barulho alto de vidro quebrando trás sua mente de volta á realidade. O som vinha de uma sacola de lixo que caiu da lixeira a frente de uma casa quando um gato de rua tentava se alimentar do conteúdo interno.

Com o coração agora disparado ela retoma sua caminhada, pois pelos seus cálculos falta apenas mais um quilômetro até sua casa. No entanto, Tânia não caminha nem mesmo três passos quando seus sentidos, apurados durante toda sua infância de órfã batedora de carteiras, indicam que certo alguém a segue a uma distancia de não mais que dez metros. Com um movimento discreto, quase que imperceptível, ela enfia sua mão no bolso de seu sobretudo e realizando um semi giro saca sua Beretta 21A previamente preparada gritando:

- Parado!

Porem apenas o som do vento pode ser ouvido em resposta e avaliando a situação, onde a rua, neste ponto, não oferece esconderijo viável, nossa protagonista começa a questionar se o estresse do dia-á-dia não a estaria tornando uma pessoa paranoica.

Voltando a andar, Tânia pensa em sua casa, como estariam às coisas desde sua saída pela manhã? O que será que sua amiga Gaia, que dividia com ela o aluguel de um Flat na periferia, havia preparado para o jantar? Lembrando da amiga corajosa que saíra de casa aos 16 anos para viver a própria vida sem a interferência obsessiva de seus pais, Tânia esboça um sorriso ao pensar o quanto as duas se divertiam juntas.

Entre lembranças, conjecturas e pensamentos diversos, nossa personagem vê-se a poucos metros de pequeno prédio, onde pode finalmente divisar a fachada de seu pequeno lar emitindo fraco brilho da janela da sala, provavelmente oriunda do televisor, onde sua amiga deveria, mais uma vez, ter adormecido enquanto assistia. Enfiando a mão em sua bolsa, enquanto se aproxima do portão sempre fechado do prédio, a jovem procura suas chaves enquanto sente a respiração quente de alguém muito próximo ao seu pescoço. Sentindo um frio subir sua espinha ela tenta se virar de súbito más antes mesmo de conseguir se mover sente uma forte dor em seu pescoço enquanto uma onda de choque atravessa toda a extensão de seu corpo. Sentindo suas forças se esvaírem, Tânia perde rapidamente a consciência enquanto vai ao chão sem saber o que, por que ou mesmo quem a atacara.

Do mesmo modo súbito com que a jovem mulata de 21 anos foi atacada ela desaparece na escuridão da noite sem deixar pistas de pra onde foi levada, restando apenas sua bolsa indicando um sequestro súbito e sem explicações que atormentaria apenas a sua jovem amiga Gaia, a única pessoa que se importava com ela. Com isso fica a lição de que a noite não é segura para ninguém, nem mesmo para uma mulher batalhadora, treinada e armada e resta também uma pergunta na mente de todos que vêem os noticiários locais relatando o sequestro: “Que fim levou Tânia?” Más isso é algo que só o tempo revelará.

Erik Balbino
Enviado por Erik Balbino em 17/04/2015
Reeditado em 05/05/2016
Código do texto: T5210716
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