Noites cruéis

(Primeira noite)

Abri um olho com aquela preguiça ao acordar de madrugada quando se tem vontade de ir ao banheiro, tudo parecia normal “aparentemente”. Sempre tive medo do escuro, acendi a luz da sala e fui em direção ao corredor que dava acesso ao banheiro... Naquele momento senti uma sensação estranha, difícil de descrever. Senti como se estivesse sendo seguida, vigiada talvez. Mas como? Eram 2h15 (duas horas e quinze minutos) da madrugada. Ignorei a sensação; saí do banheiro, apaguei a luz da sala e corri em direção ao quarto, me cobri completamente dos pés a cabeça.

Mas ele veio junto comigo, aquela noite minha vida nunca mais seria a mesma eu tinha consciência disso.

Passou a ser “normal” essas sensações de perseguição, de ser vigiada... Mas eu procurei ignorar, eu não queria que soubessem, eu não queria parar no manicômio, minha mãe era esquizofrênica, eu não precisava ser.

(Alguns meses)

Em outra noite aparentemente “normal” resolvi enfrentar meu medo, meu pesadelo real. Senti sua presença fria, que me causava tremores... Coloquei a luz do céu em direção ao que imaginei que ele pudesse estar, resolvi enfrentá-lo. Esse foi meu maior erro, senti uma dor enorme na perna esquerda, acendi a luz do quarto depois que parei com os pedidos de socorro sem sucesso, ninguém ouviu, meus gritos saiam sem som... Vi somente a mordida enorme que ele havia deixado como “lembrança”.

(Última noite) – Depois dessa noite, fui “presa”.

Até então eu não sabia se “ele” era mesmo “ele”, talvez fosse “ela” ou sei lá o que. Só sei que minha vida não era mais a mesma, eu tinha pesadelos constantes, eu não sabia se eles eram reais. Eu perdi a minha realidade, ninguém acreditava em mim, eu estava louca.

Essa eu classifico como minha pior noite.

Senti as cobertas saindo do meu corpo lentamente e algo me jogando ao chão bruscamente, eu tentei rezar, eu tentei gritar como todas as outras vezes, era inútil. Me entreguei, pois nada que eu fizesse adiantaria... Eu fui jogada de um lado pro outro naquele quarto enorme, sem querer abri os olhos.

Eu só conseguia ouvir os risos e suas palavras soando com deboche:

- Você não vai conseguir, eu não vou te deixar em paz.

Minha última noite.

Hoje nesse manicômio, liberaram esta caneta e um papel, escrevo sendo observada por enfermeiras que me olham com desprezo, medo, deboches.

Não estou louca, não estou louca, não sou louca. Ele não me deixa em paz!

Luena Braga
Enviado por Luena Braga em 22/04/2015
Reeditado em 22/04/2015
Código do texto: T5216538
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