Turno da noite

Eu costumava ficar sozinho na empresa à noite depois do expediente. Meus trabalhos costumavam ter um rendimento melhor quando eu ficar até altas horas em frente ao computador editando foto e criando alguma peça para a agência. Sempre diziam que eu era o cara do turno da noite. Era bom, ninguém para atrapalhar.

Então um dia – ou uma noite? –, estava com bloqueio. Cara, como era irritante quando isso acontecia. Fui beber café ao lado do elevador e uma moça apareceu, meio atordoada e perdida. Era jovem, bonita, cabelos curtos e platinados. Franzi a testa e acenei a ela. Parecia mesmo perdida.

– Oi...?

– Ah... oi.

– Perdida?

– Um pouco...

Fiquei um pouco desconfiado. Ofereci a ela um pouco de café e ela aceitou. Tinha uma roupa preta, um jeans normal e uma jaquetinha de couro sobre uma camisa listrada. Os olhos eram castanhos. Bem escuros.

– Aconteceu alguma coisa? – indaguei. Ela negou, me devolvendo o copo. Ela sorriu e agradeceu, indo embora. Não entendi nada.

E ficou assim durante a semana inteira. Indo embora sem dizer nada. Mas no tempo em que trocávamos palavras, era como se uma amizade estivesse aflorando. Ela tinha um bom papo, meio estranho, mas era legal conversar com ela. Mas toda vez que eu perguntava seu nome, em que escritório trabalhava ou seu número, ela virava a cara e ia embora. A semana inteira.

Final de semana passou devagar. Não havia falado de sua existência para ninguém. E também não parava de pensar nela. As conversas, a confiança mútua, uma sensação rara.

Na segunda, ela não apareceu. Nem na terça e nem na quarta. Na quinta, ela apareceu. Ela sorria. E minha barriga gelou.

– Foi bom te conhecer.

– Vai embora?

– Vou para um lugar melhor.

– Pode, pelo menos, dizer seu nome? – e ela disse. Jordana Alves.

– Espero te rever um dia – sem que eu pudesse ter a chance de dizer algo, ela simplesmente sumiu pela escada. Mas sabia seu nome.

No dia seguinte, disse tudo ao meu amigo. Ele me encarou. Por cinco segundos, não disse nada. Parecia sério. Pediu que eu pesquisasse por ela no Facebook.

Por cinco minutos, entre o tempo de entrar em seu perfil e de fechar a aba do navegador, fiquei atônito. Acho que a sua reação seria a mesma se descobrisse que, por duas semanas, esteve apaixonado por um fantasma.

Luiz Felipe Santos
Enviado por Luiz Felipe Santos em 03/02/2016
Reeditado em 03/02/2016
Código do texto: T5532737
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